14 Setembro 2014
Não há pequenos privilégios para o papa, que iniciou uma reforma da cúria para tornar a Igreja mais modesta e mais parcimoniosa. Revelada somente no domingo (7) pelo jornal "La Stampa", a decisão que Francisco tomou na primavera de acabar com o privilégio concedido a cerca de 50 comerciantes de vender pergaminhos com bênçãos apostólicas faz parte desse objetivo.
A reportagem é de Philippe Ridet, publicada pelo jornal Le Monde e reproduzida pelo portal UOL de notícias, 12-09-2014.
Estes descobriram por meio de uma carta de 12 de abril assinada pelo bispo Konrad Krajewski, diretor do escritório de capelania apostólica, que o privilégio deles, concedido há mais de um século pelo papa Leão XIII, acabaria no dia 31 de dezembro. Apesar de seus protestos, o menor Estado do mundo não cedeu.
Então, qualquer um pode agora se dirigir ao escritório dos pergaminhos do Vaticano (Ufficio Pergamena) para comprar um documento redigido em letras góticas, encabeçado por um retrato do papa e seu brasão, que dessa forma concede sua bênção para um batismo, uma primeira comunhão, um casamento ou uma ordenação. Ele traz a assinatura do capelão seguida em latim de seu título e de seu cargo.
Muito apreciado pelos católicos, esse presente chega pelo correio entre 20 e 30 dias depois. Ele custa de 8 a 30 euros, dependendo do tamanho e do modo de gravura do pergaminho. O "La Stampa" estima o custo do papel entre 2 e 4 euros e o da impressão entre 6 a 8 euros. O pedido pode ser feito por e-mail e o pagamento é efetuado pela internet.
Nas lojas, os preços são os mesmos, mas a margem do vendedor é muito maior. Uma bênção em pergaminho atinge facilmente 50 euros no Borgo Pio, o bairro de Roma vizinho ao Vaticano.
Para a Santa Sé, o caso não é tão trivial quanto parece. Desde o início do pontificado de Francisco e da "franciscomania" que o acompanha, os pedidos de bênção vêm aumentando constantemente. Eles atingiram o número de 337.089 em 2013, contra 225 mil no ano anterior. Em 2014, esse número deve passar de 400 mil. Segundo o diário "La Repubblica", que se baseia em um preço médio de 10 euros, o Vaticano teria embolsado em 2013 mais de 3 milhões de euros, que foram doados a instituições de caridade.
Limpeza
Ao repatriar para seu território e seus serviços o "negócio das bênçãos", Francisco está se adaptando à modernidade: a concessão de venda concedida por Leão 13 em 1878 e relançada na época do Ano Santo de 1950 para tornar as bênçãos acessíveis a um número crescente de peregrinos não tem mais sentido na era da informática. Ainda mais que os núncios apostólicos de todo o mundo também têm a possibilidade de concedê-las.
Mais simbolicamente, o papa continua a demonstrar sua vontade de fazer uma limpeza entre os fornecedores do Vaticano, até então pouco comedidos nas contas. Por fim, ele está evitando para a Igreja a infame acusação de simonia (compra e venda de bens espirituais), um pecado que deve seu nome a Simão, o Mágico, que quis comprar de São Pedro seu poder de fazer milagres. Na ocasião, o apóstolo lhe respondeu: "Que o teu dinheiro pereça contigo, pois acreditastes que o dom de Deus podia ser comprado com dinheiro!"
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Papa Francisco acaba com privilégio centenário de venda de bênçãos apostólicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU