Por: André | 09 Setembro 2014
“Encontramo-nos numa grande dificuldade. Na realidade, estamos morrendo aqui, em um lugar onde há 70.000 cristãos refugiados”, escreveu o padre Benham Benoka, padre sírio-católico que se encontra em Ankawa, o bairro cristão de Erbil, no Iraque. É ali que, junto com outros padres e religiosas, atende a cerca de 70.000 cristãos deslocados. O padre Benoka escreveu recentemente ao Papa Francisco, narrando-lhe a trágica situação que centenas de milhares de cristãos na região enfrentam e o Santo Padre telefonou-lhe para fazer chegar até ele sua paternal e constante proximidade e suas orações pela graça da perseverança na fé, ao mesmo tempo que compartilhou sua bênção apostólica.
A reportagem está publicada no sítio da Agência Informativa Católica Argentina – AICA, 05-09-2014. A tradução é de André Langer.
Em um vídeo divulgado pela Ajuda à Igreja Necessitada, o padre Benoka indicou que os cristãos refugiados provêm de diversas zonas tomadas pelos jihadistas do Estado Islâmico, como Qaraqosh e Mosul. “Estão refugiados aqui debaixo do sol com temperaturas que chegam a 45 graus na sombra”, relatou.
O padre indicou que no acampamento tiveram que instalar uma tenda de campanha para atender os muitos casos de epidemias que chegam. “Não conheço outros acampamentos” de refugiados, mas “acreditamos que este está melhor que outros”, assinalou.
Também relatou que “todos os voluntários que temos aqui são padres da diocese de Mosul e padres de Erbil, Ankawa”, assim como religiosas. “Uma oração é muito importante para nós para poder prestar um serviço a todas as pessoas que estão em dificuldade. Nós, aqui, somos como a Cruz Vermelha: estamos morrendo”, disse.
O telefonema de Francisco
O padre Benoka escreveu recentemente ao Papa Francisco, narrando-lhe a trágica situação enfrentada por centenas de milhares de cristãos na região e o Santo Padre telefonou-lhe para fazer chegar a ele sua paternal e constante proximidade e suas orações pela graça da perseverança na fé, ao mesmo tempo que compartilhou sua bênção apostólica.
“Li sua carta”, disse-lhe o Papa, contou o padre Benoka e me disse que lamentava muito tudo o que estava acontecendo e “você deve saber que estou com você em oração, sempre. Nunca me esqueço de você”.
Francisco pediu-lhe que contasse a todos que o Papa lhe telefonou. “Nunca me esqueço de você e nunca o deixarei”.
Ao receber o telefonema do Papa, disse o padre, sentiu-se como “quando era criança e tinha um problema ou uma emergência e sua mãe e seu pai são os primeiros a virem à sua mente, porque sabe que eles o defenderão e protegerão”.
“Foi assim, apelar à pessoa que podia ajudá-lo mais do que ninguém. Pude obter a palavra através dele, e sentiu-se como um verdadeiro pai”.
Quando recebeu o telefonema, que durou três minutos, o sacerdote explicou que estava a caminho do banco para sacar doações que havia recebido para auxiliar nas necessidades da clínica.
“Estava em um táxi dirigindo-me ao banco para tirar o dinheiro, com uma temperatura de 50 graus, sem ar condicionado, às 11h10, perto do pico mais alto do calor”, recordou, quando recebeu o telefonema de um número desconhecido.
“Nam?, disse. Assim é como nós respondemos. Houve um ‘pronto?’ em italiano do outro lado da linha”, explicou o padre Benoka, dizendo: “sou o Padre Francisco, ‘Quem é? Quem?’, perguntei. Não conseguia ouvir muito bem. ‘Sou o Papa Francisco!’”.
“Entrei em estado de choque por alguns segundos. Olhei para o motorista do taxia para ver se havia algo como uma câmera escondida. Não parecia. Então, pensei que poderia ser um amigo aprontando-me uma. Mas eu havia escutado antes essa voz quando estava em uma audiência com ele. Era realmente o Papa. Era a mesma voz”.
Todos, na zona, “ficaram muito felizes” ao ouvir sobre a conversa entre o Papa e seu sacerdote, disse o Pe. Benoka, indicando que “eles estavam muito maltratados e que nós realmente necessitávamos disso”.
A carta ao Papa
A carta do padre Benoka ao Papa Francisco foi publicada em sua página no Facebook em árabe e italiano.
“Ao Santo Padre, nosso pastor misericordioso. Meu nome é Hehnam Benoka, padre de Bartella, uma pequena cidade cristã perto de Mosul. Vice-reitor do seminário católico de Ankawa.
Hoje estou em uma tenda de campanha que fundei junto com alguns membros do pessoal médico e voluntários, para dar um alívio médico aos nossos irmãos refugiados da perseguição.
Sua Santidade, a situação de seu rebanho é miserável, morrendo e esfomeados, seus pequenos têm medo de que não possam continuar. Nós, sacerdotes e religiosos, somos poucos e tememos não poder cumprir com as necessidades físicas e mentais das nossas crianças.
Quisera agradecer-lhe muito, de fato, muito, porque você sempre nos leva em seu coração, colocando-nos sobre o altar onde a missa é celebrada para que Deus apague os nossos pecados e tenha misericórdia de nós, e oxalá afaste de nós isto.
Escrevo-lhe com minhas lágrimas, porque aqui estamos em um vale de escuridão em meio a uma grande alcatéia de lobos ferozes.
Sua Santidade, tenho medo de perder os seus pequenos, especialmente as crianças, que diariamente lutam e se debilitam mais. Tenho medo de que a morte sequestre a alguns. Envie-nos suas bênçãos para termos a força para continuar e talvez ainda resistir. Amo-o.”
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“Estamos morrendo”, diz sacerdote que escreveu ao Papa do Iraque - Instituto Humanitas Unisinos - IHU