A maioria dos brasileiros é contra o casamento gay, o aborto e a maconha

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

05 Setembro 2014

Em qualquer padaria ou posto de gasolina no Brasil é possível encontrar e comprar um pacotinho de seda, dessas usadas para enrolar um cigarro de maconha. Isso não é novidade para quase ninguém, e não há quem critique. Paradoxalmente, uma pesquisa realizada pelo Instituto Ibope e divulgada nesta quinta-feira, revelou que 79% dos brasileiros são contra a descriminalização da maconha.

A informação é publicada pelo jornal El País, 04-09-2014.

Outro dado revelado pela pesquisa é a posição dos brasileiros em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. E mais da metade, 53%, disseram ser contra. A maioria é contra também a descriminalização do aborto: 79%.

O país do contra, porém, não reflete exatamente o que é feito na prática. No Brasil, calcula-se que um milhão de mulheres realizem um aborto ao ano. Ou seja, uma em cada cinco já fez esse procedimento clandestinamente. E a cada dois dias, uma brasileira morre em decorrência de um aborto inseguro.

Para Valter Silverio, docente do departamento de sociologia e da pós-graduação da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), esse paradoxo entre a prática e o que é dito nas pesquisas ocorre porque omitimos nossas opiniões em busca do politicamente correto. “É muito provável que você encontre entre esses 80% que são contra o aborto um grande percentual de pessoas que já tenham feito aborto”, diz. “O mesmo vale para os que são contra o casamento gay; muitos deles já tiveram relações homoafetivas”.

Em busca do politicamente correto, um problema de saúde pública como o aborto fica fora também da agenda eleitoral, já que os presidenciáveis evitam esbarrar nesses assuntos polêmicos. Na semana passada, a candidata Marina Silva (PSB) mudou seu programa de governo, alterando o parágrafo que falava sobre a união de pessoas do mesmo sexo. Evangélica, Marina Silva evita falar sobre o tema. Dilma Rousseff e Aécio Neves compartilham da mesma postura, o silêncio, ou, evitar, ao máximo falar desses assuntos polêmicos.

Para Silverio, essa fuga dos candidatos tem a ver com esse paradoxo “e com algo muito pior: a nossa opinião publica”. Segundo o professor, ainda que os jornais de grande circulação no Brasil tratem do assunto, e moldem a opinião pública favorável a esses temas, a quantidade de leitores atingidos é muito restrita. “Ao mesmo tempo, o rádio e a televisão desconstroem qualquer possibilidade de enfrentamento sério desses temas”, diz. “É como se fosse feita uma doutrinação bíblica pelos veículos de comunicação”, explica, citando a quantidade de rádios evangélicas no país como um “fenômeno impressionante”.

Os únicos candidatos que falam mais sobre o assunto – e defendem a descriminalização do aborto e da maconha - são Eduardo Jorge, do PV e Luciana Genro, do PSOL. Cada um deles tem apenas 1% das intenções de voto nas pesquisas. Segundo Silverio porém, embora os presidenciáveis no topo das pesquisas não falem sobre o assunto, essa pesquisa não interfere necessariamente, nas urnas. “Se 80% são contrárias ao aborto, como se explica a recuperação de Dilma Rousseff nas pesquisas, sendo que ela representa, de alguma maneira, 12 anos de um Governo onde essas questões passaram a ganhar espaço em termos de processo decisório positivo?”.

Outros temas polêmicos tratados pelo Ibope são a pena de morte - 46% são a favor e 49% são contra; e o Bolsa Família, programa criado pelo governo do ex-presidente Lula, que tem apoio de 75% dos brasileiros. Entre os que têm renda mensal de até um salário mínimo, o apoio ao Bolsa Família chega a 90%, segundo o levantamento.

Aécio Neves, do PSDB, já afirmou em sua propaganda política na televisão que, se eleito, dará continuidade ao principal programa petista. Quando um tema tem grande aceitação, defendê-lo parece mais fácil.

Segundo a pesquisa, os homens são a maioria entre os que são contra o casamento gay: 58%. Já entre as mulheres, 49% são contra e 44% a favor. A descriminalização da maconha e do aborto não são defendidos nem mesmo pelos mais jovens. Entre aqueles com idade entre 16 e 24 anos, 74% são contra a legalização da maconha e 77% contra o aborto.