01 Setembro 2014
"Eu disse ao Papa Francisco: eu quero viver com o cheiro das ovelhas. Era meu desejo voltar a trabalhar em uma diocese... ". O cardeal Antonio Cañizares Llovera, prefeito para o Culto Divino, que acabou de ser nomeado arcebispo de Valência, sorri brilhantemente por causa de sua nomeação há muito aguardada, que foi anunciada ontem. Aqueles que tentam apresentar sua saída da Cúria Romana como uma redução ou mesmo um "castigo" não poderiam estar mais equivocados. Em primeiro lugar, porque "para um pastor não há nada melhor do que estar entre o seu rebanho". E também porque foi o próprio cardeal que pediu ao Papa Francisco para voltar a servir como bispo de uma diocese.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 29-08-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Como o senhor recebeu a notícia?
Estou realmente muito feliz. Volto à minha diocese de origem, que não tem um bispo valenciano há mais de 100 anos.
Como o senhor vê a sua remoção da Cúria?
Era o meu desejo. Fui eu quem disse ao Papa Francisco que eu queria ter o cheiro das ovelhas. Eu pedi para voltar para a diocese, qualquer diocese que o papa gostaria de me enviar. Para mim foi uma grande alegria e uma grande honra que o Santo Padre tenha escolhido Valência, uma das mais vivas dioceses da Espanha e da Europa, até mesmo devido ao número de suas vocações. É um sinal de gratidão e reconhecimento para mim, um presente de Francisco que me emociona, eu sou muito grato por isso.
O que o senhor pode dizer sobre estes cinco anos que passou à frente do ministério que lida com a liturgia?
Eu sou grato por essa experiência na Cúria. Temos trabalhado para realizar a renovação litúrgica querida pelo Concílio Vaticano II. Um dos momentos mais fundamentais foi o simpósio sobre a constituição do Concílio, Sacrosanctum Concilium, bem como os documentos que publicamos e aqueles que ainda estão sendo escritos e serão publicados em breve. Precisamos continuar a trabalhar para que o Concílio seja totalmente implementado no campo litúrgico, de acordo com o que Bento XVI afirmou: Deus é o sujeito da liturgia, não nós. A liturgia não é uma ação do homem, mas uma ação de Deus.
Como o Papa Francisco estava envolvido no trabalho da Congregação para o Culto Divino, neste um ano e meio de seu pontificado?
Francisco apoiou o trabalho que estávamos completando. Reiterou-nos que, mais do que se preocupar com reformas, precisamos basear-nos no mistério pascal que acontece na liturgia, para experimentar o mistério que acontece naquele momento. Assistir o papa celebrar a missa nos faz compreender como ele experimenta o que acontece durante a missa.
Os últimos anos não têm sido fáceis em termos da relação entre a Igreja e o governo espanhol. Como o senhor pretende vivê-la?
Eu acredito que vou ter um relacionamento amigável com o mundo da política e das instituições, sinalizado por abertura e colaboração, com o único objetivo do bem comum, o bem de nosso povo. Houve e ainda há situações difíceis, não só do ponto de vista econômico e financeiro. Espero que também possamos continuar trabalhando pela unidade do país, não só política, mas também antropológica; é um projeto que tem sido vivido por mais de 14 séculos e baseia-se na identidade cristã.
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''Eu disse ao Papa Francisco que eu queria viver com o cheiro das ovelhas''. Entrevista com o cardeal Cañizares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU