10 Junho 2014
Zenit conversou com D. Antônio Fernando Saburido (OSB), arcebispo metropolitano de Olinda e Recife, sobre o processo de beatificação e a vida de dom Hélder.
A reportagem é de Lilian da Paz, publicada pelo portal Zenit, 06-06-2014.
No fim de maio, a arquidiocese de Olinda e Recife enviou à Congregação para Causa dos Santos, no Vaticano, o pedido de abertura para o processo de beatificação de dom Hélder Câmara. O anúncio foi feito por dom Antônio Fernando Saburino (OSB), arcebispo metropolitano da Igreja local, onde viveu e faleceu dom Hélder.
Na ocasião, dom Antônio apresentou a carta enviada ao Vaticano com o pedido de beatificação e canonização. O parecer dos bispos do Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil foi positivo e unânime. Uma vez aberto o processo, frei Jociel Gomes se torna vice-postulador da causa.
Um pouco da história de dom Hélder
Conhecido como “Dom da Paz”, Hélder Câmara nasceu no dia 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, Ceará. Mas foi no Rio de Janeiro e em Pernambuco que ganhou destaque com o exercício frutuoso do ministério episcopal voltado para os pobres.
Aos 27 anos, já como sacerdote, foi para a arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde, em 1952, se tornou bispo auxiliar. Lá, fundou a Cruzada São Sebastião, em prol das famílias carentes que sonhavam com uma moradia digna, e o Banco Providência, voltado para a redução da desigualdade social e desenvolvimento humano nas comunidades mais pobres. Ainda no Rio, articulou a realização do 36º Congresso Eucarístico Internacional, em 1955.
Em 1964 recebeu a missão de dirigir a arquidiocese de Olinda e Recife como arcebispo metropolitano. Neste ínterim, criou a Comissão de Justiça e Paz, que defendeu presos políticos e perseguidos da ditadura militar, assim como protegeu os excluídos sociais.
Dom Hélder também ajudou na criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na qual exerceu o cargo de secretário geral, e o Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), do qual foi vice-presidente.
Incansável, o Dom da Paz lutou contra a fome e a miséria no Brasil. Em 1990 lançou a campanha Ano 2000 sem Miséria. Com uma vida toda dedicada aos pobres, dom Hélder chegou a ser indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz.
Eis a entrevista.
Como e quando surgiu a iniciativa de dar entrada no processo de canonização de dom Hélder? Já existem relatos de milagres?
Desde minha chegada a Recife em 2009, como arcebispo, as pessoas me pedem para iniciar o processo visando a canonização de dom Hélder Pessoa Câmara. Por enquanto, não tenho conhecimento de milagres alcançados através da intercessão de dom Hélder. Isso somente será exigido bem mais adiante. Uma vez iniciado o processo, acredito que as pessoas vão começar a nos procurar para relatar fatos dessa natureza.
Quando haverá resposta do Vaticano sobre o início de processo de beatificação?
Não existe tempo determinado para a resposta da Congregação para a Causa dos Santos, a quem cabe autorizar o início do processo.
O senhor conheceu dom Hélder? Como era o relacionamento dele com o povo?
Conheci sim, porém, como monge beneditino vivia no Mosteiro de São Bento de Olinda e não tinha muito contato com dom Hélder. Foi ele, porém, quem me ordenou presbítero. Sempre nutri grande admiração por sua pessoa, sobretudo, quando tive oportunidade de ler suas cartas circulares, escritas durante o Concílio Ecumênico Vaticano II - redigidas durante as vigílias diárias que costumava fazer no silêncio da madrugada para rezar e escrever.
O “Dom”, como o chamavam, era franzino e baixinho, porém um gigante quando fazia uso da palavra e tomava determinadas atitudes. Contraditoriamente, era um contemplativo, uma inteligência além da média, e de uma sensibilidade surpreendente para com as pessoas mais pobres e excluídas.
O que significou para dom Hélder o encontro com o Papa, em Recife, em 1980?
Eu estava presente no meio da multidão quando o Papa João Paulo II o abraçou carinhosamente e na homilia o saudou dizendo: “Irmão dos pobres e meu irmão”. Acredito que aquele abraço e saudação marcou muito sua pessoa.
Qual era a intenção de dom Hélder com a criação da CNBB e do Celam?
Certamente, a intenção de Dom Hélder ao criar a CNBB e CELAM foi promover o diálogo e a cooperação mútua entre os bispos do Brasil e de toda a América Latina. Essas importantes instituições vêm crescendo e se consolidando a cada dia.
Em 1970, Dom Hélder denunciou a prática da tortura a presos políticos no Brasil. No período da ditadura militar, quais foram as principais ações de dom Hélder?
Dom Hélder foi vítima da ditadura militar no brasil, sobretudo pelo apoio que sempre deu aos presos e perseguidos políticos. Pagou alto preço com a impossibilidade de falar através dos meios de comunicação social em todo o país e, sobretudo, com o brutal assassinato do jovem padre Antônio Henrique Pereira, seu assessor para a Pastoral da Juventude, falecido após três anos de ministério sacerdotal.
Qual era a concepção de dom Hélder a respeito da Teologia da Libertação?
Dom Hélder entendia que a prática do Evangelho liberta de todas as amarras. N’Ele encontrava forças para enfrentar os desafios seguindo a linha da “opção preferencial pelos pobres”.
Como é para o senhor, dom Antônio Fernando, estar à frente de uma arquidiocese que foi dirigida por um santo em potencial?
Para mim é grande honra e responsabilidade estar à frente desta querida arquidiocese de Olinda e Recife com uma história tão bonita e por onde passaram grandes bispos, como Dom Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira (1871 – 1878) - cujo processo de canonização já se encontra na fase romana -, Dom Hélder Pessoa Câmara (1964 – 1985) e tantos outros que aqui deixaram seu legado. Peço que rezem por mim para que seja sempre um bom pastor, tendo por modelo o Pastor dos pastores.
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Dom Hélder Câmara poderá virar santo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU