15 Abril 2014
O fenômeno Bergoglio, o extraordinário impacto que o novo pontífice teve sobre as pessoas desde que, naquela noite de 13 de março de 2013, começou a falar com a multidão reunida na Praça de São Pedro com a simplicidade de um "boa noite". É a partir daí que o padre Bartolomeo Sorge, o jesuíta comprometido com a Sicília por uma década, até 1996, começa a responder as perguntas do codiretor do Giornale di Sicilia, Giovanni Pepi, para descrever "a revolução do Papa Francisco".
A reportagem é de Giuseppe Pantano, publicada no jornal Giornale di Sicilia, 13-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O encontro, ocorrido na câmara do conselho da cidade de Ribera, foi organizado pelo Rotary Club da cidade, liderado por Nenè Mangiacavallo. Pepi, na abertura, pediu uma resposta do padre Sorge justamente sobre aquele primeiro momento "que mudou tudo".
E o padre Sorge respondeu: "Ele agiu com a sua simplicidade, sem fazer éditos, sem escrever livros, com o seu exemplo. É o papa que para o jipe, abraça o menino portador de deficiência, a carne de Cristo, como ele gosta de repetir. Isso é revolucionário. Também permanecer com os sapatos de Buenos Aires, enquanto poderia ter aqueles feitos especialmente para o papa. São pequenas coisas que manifestam um novo estilo, e muitas vezes o estilo se torna mensagem. O papa está levando novamente ao Evangelho, e isso sem impor nada, respeitando a consciência de todos. Depois ele diz: 'Quem sou eu para julgar um homossexual?'. É alguém que vê os problemas com os olhos de Deus e não do juiz ou do direito canônico, que são importantes, mas não os olhos de Deus".
Questionado por Pepi, o padre Sorge também destacou as últimas intervenções do pontífice, começando pelo da família: "As crianças têm o direito de ter um pai e uma mãe". E o "não" de Bergoglio "a todo tipo de experimentação educacional". Para o padre Sorge, "ali, o verdadeiro princípio é partir da dignidade da pessoa humana. Cada pessoa tem valor de fim, e nunca pode se tornar um instrumento. Portanto, experimentar sobre o ser humano ou fisicamente para curar doenças, ou psicologicamente, não faz sentido. A pessoa humana nunca pode se tornar instrumento, porque tem valor de fim".
E, permanecendo na estrita atualidade das declarações do papa, que pediu perdão pelos padres pedófilos, acrescentando, porém, que "as sanções devem ser impostas", o jesuíta disse que essa "é uma consciência nova. A sensibilidade cultural que hoje há na Igreja, na sociedade – reiterou o padre Sorge – não tolera mais o silêncio, o escondimento. Talvez, em outras épocas históricas, também se tentava esconder certos comportamentos não éticos das famílias e das pessoas. Hoje, a civilização mudou, e, graças a Deus, todos somos conscientes de que as nossas ações, boas ou más, têm uma repercussão social. Há um individualismo triunfante que gostaria de negar as relações interpessoais. Redescobrir isso e cortar a aceitação dos comportamentos errados e imorais são um dever, em vista do bem comum, além do bem das pessoas".
Giovanni Pepi quis concluir com uma pergunta sobre a máfia, recordando o recente encontro entre as famílias das vítimas e o Papa Bergoglio. "O papa – disse Pepi – falou sobre a máfia um único dia e lembrou Puglisi como vítima, dizendo que ele foi uma vítima, mas venceu. E, depois, falou sobre a conversão dos mafiosos. Então, o primeiro ponto é o sacrifício como elemento importante da contraposição à máfia. O outro é a abertura à máfia, quando diz que os mafiosos podem vir à Igreja."
Qual a relação entre esses dois momentos, à luz da sua experiência na Sicília? O padre Sorge respondeu dizendo que "isso é típico do cristianismo. Cristo é um derrotado, porque morre na cruz, mas, na realidade, morrendo, muda o mundo. E então aqueles que se imolaram, os juízes, os servidores do Estado, são os verdadeiros vencedores. Então, a maior vitória não é tanto o '41 bis' reservado aos criminosos, mas sim a revisão moral de muitos que entenderam, como os assassinos do padre Puglisi, que tinham errado. O cristianismo converte perdendo, vence com as suas derrotas. Esse sempre foi um paradoxo na história. Nunca vingança com quem matou, mas perdão que salva. A melhor vingança é o perdão: conseguir fazer de um delinquente um homem de bem."
Por fim, um pensamento ao juízes Falcone e Borsellino: "Eu encontrei Falcone uma vez. Nunca me encontrei com Borsellino. A sua memória vale muito mais do que um encontro. São mestres que nos ensinaram novos caminhos de generosidade e despertaram as nossas consciências".
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Da família à máfia: como a sociedade mudou com o fenômeno Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU