25 Fevereiro 2014
Há muito sofrimento nas respostas ao questionário para o próximo Sínodo sobre a família. À Secretaria Geral chegaram cerca de 80% do total de respostas esperado. A partir de um primeiro exame, o que se destaca parece ser justamente o sofrimento expressado "principalmente por aqueles que se sentem excluídos ou abandonados pela Igreja por se encontrarem em um estado de vida que não corresponde à sua doutrina e à sua disciplina", disse-nos o arcebispo Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, que no sábado de manhã recebeu o barrete cardinalício. Na entrevista ao L'Osservatore Romano, o secretário-geral também falou sobre o papel que o Sínodo deverá assumir justamente para responder aos novos desafios postos à Igreja pela sociedade contemporânea.
A reportagem é de Nicola Gori, publicada no jornal L'Osservatore Romano, 21-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
As respostas aos questionários enviados a todas as dioceses do mundo chegaram. O senhor pode fornecer algumas estatísticas dos resultados que vocês já tiveram?
No dia 19 de fevereiro, chegaram a esta secretaria-geral cerca de 80% das respostas das Conferências Episcopais e mais de 60% das respostas dos dicastérios romanos, bem como mais de 700 respostas individuais e de grupo. Muitas dioceses quiseram enviar as suas respostas em cópia impressa, encaminhadas eletronicamente para as respectivas Conferências Episcopais. Esse percentual é um indicativo de grande interesse da atenção que foi dada à investigação. Eu gostaria de acrescentar que a iniciativa sinodal sobre o tema da família, interpelando a base, ou seja, as pessoas que vivem em primeira linha essa experiência, desencadeou uma reação espontânea que parece uma surpresa, mas que, ao contrário, é a prova de como é necessário sair dos palácios e ir para as periferias.
Destacam-se alguns aspectos particulares?
A urgência de tomar consciência das realidades vividas pelas pessoas, de retomar o diálogo pastoral com as pessoas que se afastaram por diversas internas à Igreja e externas da sociedade. Das respostas, surge muito sofrimento, especialmente daqueles que se sentem excluídos ou abandonados pela Igreja por se encontrarem em um estado de vida que não corresponde à sua doutrina e à sua disciplina. A panorâmica é mundial; por isso, estão em jogo fatores culturais postos em confronto com a fé cristã e destacam-se elementos que convergem, provenientes muitas vezes de horizontes culturais e tradicionais distantes ou até mesmo opostos. Com a iniciativa sinodal abriu-se um caminho de confiança para muitos que a tinham perdido. A figura do Papa Francisco comprova, dia após dia, uma nova abordagem humana e cristã que faz as pessoas vibrarem e as dispõe à escuta e à acolhida do que é bom para elas, mesmo que haja sofrimento.
O que está programado para a próxima reunião do conselho da Secretaria Geral do Sínodo?
A reunião terá início na segunda-feira, 24 de fevereiro, de manhã, com algumas informações acerca do trabalho preparatório feito. Depois, será submetido aos membros da secretaria a primeira confecção do Instrumentum laboris, fruto da investigação efetuada com o documento preparatório que incluía o questionário. A leitura e a síntese das respostas foram feitas por um grupo de especialistas, em estreita coordenação com esta Secretaria Geral. A discussão e o aprofundamento do documento dará uma válida contribuição para elaborar o segundo esboço, que será seguido por um período de tempo, ao menos dois meses, para integrá-lo com outras contribuições que possam vir das respostas tardias e de outros estudos pontuais sobre certos aspectos de maior interesse e complexidade. Em maio, poderia haver outra reunião do conselho ordinário da Secretaria, para elaborar o texto final do Instrumentum laboris, a ser enviado aos presidentes das Conferências Episcopais, como membros da Assembleia Extraordinária de outubro, e a todas as outras pessoas que têm direito. A inauguração dos novos locais adjacentes à atual sede do Sínodo dos Bispos, que ocorrerá no dia 24 de fevereiro, vai permitir que a instituição opere adequadamente.
Qual será o novo papel do Sínodo dentro da Igreja?
Eu acho que já é óbvio que o Papa Francisco quer para o Sínodo um papel novo. Acima de tudo, ele quer que ele seja realmente uma expressão da colegialidade no governo da Igreja. Para certificar-se disso, basta pensar nas suas inúmeras intervenções sobre o assunto. Por exemplo, a convocação do Sínodo Extraordinário sobre a família, cuja realização será feita em duas etapas; a dinâmica que ele já adquiriu a partir da investigação feita para envolver a base; a oração que ele lançou para o Sínodo da Família no dia 29 de dezembro passado no Ângelus, festa litúrgica da Sagrada Família; o recente encontro dos namorados no dia de São Valentim, na Praça de São Pedro; o consistório destes dias em que os cardeais são chamados a refletir sobre a família. Tudo isso, e muito do que foi feito, indica que importância é dirigida não só ao tema da família em si mesmo, mas também ao papel que o Sínodo deve ter, justamente como expressão de colegialidade e participação no governo pastoral da Igreja. As perspectivas se ampliam assim que os bispos percebem a sua função de pastores: nas suas circunscrições eclesiásticas, eles devem fazer pastoral e exercer a comunhão com o próprio clero de forma colegial, através dos conselhos de consultores e de presbíteros e do conselho pastoral. O desafio é global e toca o interior da Igreja e a sua missão evangelizadora no mundo.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Um Sínodo para encontrar as pessoas. Entrevista com Lorenzo Baldisseri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU