20 Mai 2014
O Knesset, parlamento de Israel, discutiu e votou uma resolução que reconhece o papel desempenhado por João XXIII durante a Shoá, quando ele se esforçou para salvar os "concidadãos de Jesus".
A análise é de Alberto Melloni, historiador da Igreja, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 09-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Os horrores deste tempo se refletem todos no céu claro de Jerusalém: a fumaça de guerra da Síria, o cheiro da carne dos ortodoxos queimados vivos em Odessa, as lágrimas das meninas de Chibok e das suas mães, até os escritos anticristãos do ultraortodoxos, que ultrajam a alma dos israelenses que pensam.
Mas, no azul que espera para ver voltar a Jerusalém como papa aquele jesuíta que desembarcou em outubro de 1973 às vésperas da Guerra do Yom Kippur, para uma peregrinação que se concluiu imediatamente e mal, e, junto com ele, o Patriarca Ecumênico, sinais de esperança também se acendem como as estrelas da noite.
Como aquela que viu o Knesset [parlamento de Israel] discutir e votar uma resolução que reconhece o papel desempenhado por João XXIII durante a Shoá, quando ele se esforçou para salvar os "concidadãos de Jesus"; durante a nunciatura na França, quando ele permitiu que as crianças salvas nos conventos voltassem para a fé de seus pais; durante a discussão sobre a nascimento do Estado e durante o papado, quando ele impôs que o Concílio livrasse a Igreja do fardo de antissemitismo litúrgico e teológico.
Um gesto sem precedentes, propiciado pela autoridade de Yair Tzaban, ex-ministro de Rabin e de Peres, que dá no lugar certo aquilo que foi tirado de Roncalli. De fato, enquanto Bento XVI pressionava para encerrar a causa Pacelli, o Yad Vashem não reconheceu a Roncalli o título de Justo entre os Gentios: dizer que ele tinha agido contra ou além das instruções dos superiores, como é necessário para os diplomatas, teria sido denunciado como uma ingerência, dizia-se.
Hoje, dada canonização do Papa João, foi o parlamento do Estado que falou: Yitzhak Herzog pela oposição, Uzi Landau pelo governo e ainda Amram Mitzna e o presidente Yuli-Yoel Edelstein (para o qual a Embaixada da Itália e a Fundação de Ciências Religiosas presentearam a edição nacional dos diários de Roncalli) disseram que, com o seu ser cristão, o Papa João abriu Israel ao seu amanhã.
A esse amanhã, em breve, Francisco e Bartolomeu irão chegar. Para rezarem, sozinhos, dentro daquele sepulcro vazio, em torno do qual surgiram guerras e divisões, e a partir do qual recomeça sempre a busca de unidade.
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A homenagem do Knesset ao Papa Roncalli. Artigo de Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU