Guerra ao narcotráfico fracassou e é desperdício de dinheiro, diz estudo

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

09 Mai 2014

A guerra global contra as drogas fracassou e criou um imenso mercado negro de US$ 300 bilhões. Políticas repressivas causaram mais danos do que benefícios e está na hora de a comunidade internacional redirecionar maciçamente recursos para uma nova estratégia que já mostrou sua eficácia e que é validada por uma análise econômica, como terapias de substituição de drogas e troca de agulhas usadas pelos toxicômanos.

A reportagem é de Assis Moreira, publicada pelo jornal Valor, 08-05-2014.

Essa é a conclusão de um estudo da London School of Economics (LSE), apoiado por várias personalidades internacionais, incluindo cinco prêmios Nobel de economia. "A guerra contra as drogas é um fiasco de US$ 1 trilhão", disse o financista George Soros, que apoiou o estudo, criticando mais de quatro décadas de "políticas repressivas e ineficazes" que causaram gigantesco desperdício de recursos.

Conforme o estudo, a persistente estratégia militarizada de guerra contra a droga teve efeitos negativos e enormes estragos colaterais. Isso inclui prisões em massa nos EUA, políticas extremamente repressivas na Ásia, ampla corrupção e desestabilização política no Afeganistão e no oeste da África, imensa violência na América Latina, epidemia de aids na Rússia, penúria mundial de medicamentos e propagação global de abusos sistemáticos dos direitos humanos.

O estudo diz que 80 mil pessoas foram mortas desde a deflagração da luta contra o narcotráfico, sem que o problema tenha sido atenuado. Globalmente o preço das drogas baixou e a pureza dos produtos aumentou. Além disso, a proibição do uso de drogas gerou um imenso mercado negro e empurrou o "controle dos narcóticos" para países de trânsito, como o Afeganistão e o México.

Mas essa estratégia não deu resultados, porque os mercados de cocaína, ópio ou maconha se adaptam facilmente a toda situação nova. Quando a repressão aumenta num país, o mercado se transfere para outra região.

O mercado ilegal de drogas explodiu entre 1994 e 2008 e explicaria cerca de 25% da atual taxa de homicídios na Colômbia. E, quando a Colômbia atacou particularmente o comércio de cocaína, a criminalidade e a violência ligadas às drogas se transferiram para o México, aumentando em cerca de 20% os homicídios nesse país.

Soros adverte que esse tipo de violência tem consequências desastrosas para a economia: as empresas se deslocam para outros mercados, o investimento estrangeiro diminui e mais pessoas fogem em busca de segurança.

Também os países consumidores sofrem. Os EUA têm menos de 5% da população mundial, mas cerca de 25% de pessoas presas no mundo. A maior parte é por causa de delitos ligados às drogas. Conforme Soros, dos nove milhões de pessoas presas em todo o mundo, 40% foram detidas por algum delito vinculado a drogas, e a tendência é desse número aumentar na Ásia, América Latina e África.

O estudo da LSE conclui que não se justifica mais que governos continuem a gastar bilhões de dólares por ano em medidas punitivas, geralmente à custa de políticas de saúde pública que funcionam. E sugere que as Nações Unidas devem assumir a liderança de nova estratégia de cooperação internacional, baseada na aceitação de que diferentes políticas funcionarão em diferentes regiões e países.

O estudo recomenda ainda que os governos deem prioridade a políticas antidrogas que se apoiem nos princípios de saúde pública, procurem minimizar os efeitos dos mercados ilícitos e testem novas regulações.

E mostra que, de acordo com várias estimativas conservadoras, cada dólar investido em programas de tratamento de dependência de ópio pode dar um retorno entre US$ 4 e US$ 27 na redução de crimes ligados à drogas, custos na Justiça e roubos. Quando é incluída a poupança ligada a cuidados de saúde, o retorno pode exceder o custo em 12 vezes.

Da mesma forma, cada dólar investido em programa de troca de seringas usadas por dependentes, para combater a contaminação pela aids, resulta em economia de US$ 27. Ou seja, uma alta rentabilidade econômica, levando-se em conta os bilhões de dólares usados para cuidar de pessoas infectadas pela doença.

O estudo nota que o Brasil e a Rússia têm um consumo ilícito de drogas que rivaliza com o de países ricos e que continua a se expandir.

Alguns países da América Latina começaram a alterar suas políticas de proibição. O Uruguai agora aceita a plantação, venda e uso de maconha. O presidente da Colômbia propôs um debate sobre alternativas à guerra contra as drogas. O presidente da Guatemala quer apresentar neste ano um plano para legalizar a produção de maconha. Nos EUA, os Estados de Colorado e Washington aprovaram em 2012 leis legalizando a posse e uso de "maconha recreativa".