Por: André | 22 Abril 2014
A revolução da austeridade de Francisco, que desde o começo do seu pontificado vem afirmando que quer uma “Igreja pobre e para os pobres” e que anda convidando o clero para ter um estilo de vida simples e não principesco, ainda não foi assimilada por todos no Vaticano.
A reportagem está publicada no jornal argentino La Nación, 21-04-2014. A tradução é de André Langer.
Um artigo publicado no domingo no jornal La Repubblica revelou que o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado nos tempos de Bento XVI, em breve irá inaugurar um apartamento de 700 metros quadrados no Palazzo San Carlo, no Vaticano, um edifício que, paradoxalmente, fica bem perto da Casa Santa Marta, local escolhido por Francisco para morar, em vez do apartamento pontifício.
Intitulado “A irritação de Bergoglio diante do megaático do cardeal Bertone”, o artigo calculou que o cardeal passará a morar em um apartamento 10 vezes maior que a suíte de 70 metros quadrados do Papa no segundo piso da Casa Santa Marta.
“Quando Bergoglio, depois de ter observado os complexos trabalhos de reestruturação do edifício ao lado, foi informado sobre quem seria seu vizinho de casa, irritou-se um pouco. Agora, certamente não pode expulsar o inquilino”, escreveu o La Repubblica. “Mas sua irritação para com quem na cúria ainda resiste à sua tentativa de mudança não passou despercebida na Quinta-Feira Santa, quando, diante do clero reunido na Basílica São Pedro, denunciou os sacerdotes “untuosos, suntuosos e presunçosos”, que devem ter “a pobreza como irmã”, acrescentou.
O La Repubblica detalhou que o apartamento que em breve será ocupado pelo salesiano Bertone é grande, na verdade, porque une dois apartamentos: um de cerca de 400 metros que antes era ocupado por Camilo Cebin, chefe da Gendarmeria vaticana durante o pontificado de João Paulo II, e outro de 200 metros, onde morava Bruno Bertagna. A estes dois se anexou um terraço de 100 metros quadrados. Neste megaático, no entanto, Bertone não morará sozinho, mas estará acompanhado de três freiras.
O artigo recordou, por outro lado, que antes da chegada do papa argentino era um costume totalmente normal que os cardeais morassem em apartamentos de “príncipes da Igreja”. De fato, antes que Bertone fosse secretário de Estado de Bento XVI, em setembro de 2006, houve entre ele e seu antecessor, o cardeal Angelo Sodano, uma virtual briga pelo apartamento em questão.
Sodano, influente secretário de Estado nos últimos anos de João Paulo II, demorou um ano para deixar o seu, situado na primeira Loggia do Palácio Apostólico, e Bertone teve que sofrer a “humilhação” de morar em outro lugar do Vaticano, na Torre de São João. Sodano demorou par sair porque teve que esperar vários meses para que o outro ficasse pronto, de grandes dimensões, no Colégio Etíope, para onde se mudou mais tarde.
O sucessor de Bertone, o cardeal Pietro Parolin, ex-núncio em Caracas, preferiu seguir a nova onda: mora, como o Papa, em um quarto da Casa Santa Marta.
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Bertone não entra na onda da austeridade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU