19 Outubro 2015
Uma coletiva de imprensa de tons fortes por parte dos grupos católicos conservadores: "No Sínodo, não se fala o suficiente de pecado". Estava presente o cardeal Burke, que rejeita qualquer pergunta e diz: "O relativismo corre o risco de superar as diferenças entre bem e mal".
A reportagem é de Tommaso Caldarelli, publicada no sítio Giornalettismo, 15-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não foram muito sutis os grupos católicos ultraconservadores do Voice of the Family, que convocaram uma coletiva de imprensa nessa quinta-feira em um hotel na Via della Conciliazione, em Roma: "O Sínodo 2015 é o confronto entre a Igreja e a anti-Igreja", disse Thomas Ward, médico, apresentado como "pai de oito filhos e avô de 30 crianças". E continuou: "Estou aqui para falar justamente pelos meus filhos e pelos meus netos".
À mesa do Hotel Columbus, dentre os interlocutores, o cardeal Raymond Leo Burke, ex-prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica e atualmente prior da Ordem de Malta.
Causou espanto, na época, a história de que foi protagonista o ex-presidente do principal tribunal vaticano. Especialista em Direito Canônico, de tendências conservadoras, em 2014, Burke foi destinado a um papel substancialmente cerimonial, o chefe da Ordem dos Cavaleiros de Malta e de Rodes.
O site conservador LifeNews, cujo diretor estava presente na coletiva de imprensa, definiu Burke como "o defensor número um de língua inglesa dos ensinamentos tradicionais da Igreja Católica sobre os temas da vida e da família" e também lembrou de um bastidor em que o cardeal foi embora antes de cumprimentar o Papa Francisco durante a missa de beatificação de Paulo VI.
Sentados ao lado dele na coletiva, estavam um médico inglês, o diretor do sítio LifeSite e um expoente da Voice of the Family, um agrupamento de associações laicais que, informa o seu site oficial, se descreve como "uma iniciativa leiga de apoio ao ensinamento católico sobre a família".
Os tons usados na coletiva de imprensa foram os típicos de uma cruzada, palavras bem articuladas, conceitos reiterados. No site oficial do Voice of the Family, foi publicada uma intervenção do arcebispo de Astana, Thomas Peta, que citou as palavras usadas pelo Papa Paulo VI: "Por alguma fissura, a fumaça de Satanás entrou na Igreja", dissera o Sumo Pontífice.
De acordo com o purpurado, o cheiro dessa fumaça poderia ser sentido em três temas de discussão que surgiram a partir do Sínodo de 2014: "A proposta de admitir à Santa Eucaristia aqueles que estão divorciados e vivem em novas uniões civis; a afirmação de que as coabitações são uniões que podem ter algum tipo de valor; defender que a homossexualidade pode ser algo normal de algum modo".
E, também neste ano, continuou o cardeal Peta na Aula do Sínodo, "podemos sentir o cheiro desse gás em algumas partes do Instrumentum laboris e em algumas intervenções dos Padres sinodais". Afirmação pronta para ser defendida por leigos, religiosos e sacerdotes da frente da ultraconservação sinodal que atacaram frontalmente justamente o Instrumentum laboris do Sínodo em 2015, que, em algumas partes, de acordo com os grupos conservadores, abrira a uma verdadeira subversão dos ensinamentos tradicionais da Igreja Católica: e pontualmente são citados trechos do Instrumentum que deveriam ser rejeitados totalmente.
E isso que o documento de trabalho do Sínodo foi contestado por muitos porque, afirmou-se, seria morno demais e muito pouco aberturista, essencialmente um trabalho insignificante, que reiterava o óbvio. De acordo com os ultraconservadores, ao invés, ele seria um verdadeiro ataque contra os ensinamentos da Igreja sobre família e vida.
No contexto cultural e social de hoje, em que a sexualidade é muitas vezes desvinculada de um projeto de amor autêntico, a família, embora se mantendo como o espaço pedagógico privilegiado, não pode ser o único lugar de educação à sexualidade.
Por isso, é preciso estruturar verdadeiros percursos pastorais de apoio às famílias, dirigidos tanto aos indivíduos quanto aos casais, com uma atenção particular para a idade da puberdade e da adolescência, nas quais se possa ajudar a descobrir a beleza da sexualidade no amor .
De acordo com o Voice of The Family, essa passagem deixa deliberadamente "pais e crianças à mercê" das organizações internacionais que promovem o planejamento familiar e de lobbies gays que fazem campanha de propaganda nas escolas: "Como é possível que as autoridades do Sínodo sejam tão cegas para os perigos espirituais e para o risco para as vidas e para o bem-estar dos pais e das crianças, tanto dentro quanto fora da Igreja?".
Nas discussões entre os Padres sinodais, continua o expoente do Voice of the Family, "não se fala o suficiente de pecado".
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"O Sínodo 2015 é o confronto entre a Igreja e a anti-Igreja" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU