21 Setembro 2015
O partido de esquerda Syriza ganhou neste domingo as eleições legislativas da Grécia, segundo a apuração de 70% dos votos difundida pelo Ministério do Interior. A formação liderada pelo ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras conseguiu 35,5% dos votos, enquanto que os conservadores do Nova Democracia ficaram com 28% dos votos. Com este resultado, o Syriza passa a ocupar 145 das 300 cadeiras do Parlamento (o sistema eleitoral da Grécia concede 50 deputados adicionais ao vencedor das eleições) e a Nova Democracia, de Vanguelis Meimarakis, 75.
A reportagem é de María Antonia Sánchez-Vallejo, publicada por El País, 20-09-2015.
Após a divulgação do resultado oficial, Meimarakis reconheceu a derrota de seu partido e felicitou Tsipras. "Lutamos com seriedade, mas o resultado dá a vitória ao Syriza e a Tsipras", afirmou aos meios de comunicação após chegar à sede de seu partido, no centro de Atenas. Enquanto isso, Tsipras se dirigiu a sede de seu partido, onde, erguendo o braço em sinal de vitória, foi ovacionado por uma multidão que se encontrava na rua.
O partido neonazi Aurora Dourada ficou em terceiro lugar, com 6,95% dos votos e 18 cadeiras no Parlamento (duas a mais que em janeiro), seguidos pelos sociais-democratas do Pasok, com 6,27% dos votos e 17 deputados; pelos comunistas do KKE, com 5,59% dos votos; e pelo centrista To Potami, com 4,12%. Os nacionalistas do ANEL, com 3,67% dos votos e 10 deputados, terminam as eleições como os mais prováveis sócios de Tsipras, repetindo a coalizão de Governo de janeiro.
As primeiras pesquisas de boca-de-urna das eleições legislativas gregas apresentavam uma pequena vantagem do Syriza. As sondagens davam ao partido esquerdista de 30% a 34% dos votos. A união de centro-direita Nova Democracia obteria entre 28,5% e 32,5% dos votos.
Os postos de votação abriram às 7h e fecharam às 19h (da 1h às 13h em Brasília). Pouco menos de 10 milhões de gregos estavam convocados a votar no novo Governo. A jornada eleitoral se caracterizou por uma alta abstenção —em uma das seções, ao meio-dia, apenas 15% dos eleitores registrados havia votado—, muita volatilidade nas preferências de voto desde janeiro e, em geral, uma indecisão que alguns mantinham até a hora de votar. Apesar de o voto ser obrigatório no país, a participação foi uma das mais baixas da história democrática da Grécia: 53,4% dos eleitores votaram, enquanto que em janeiro deste ano compareceram 63,3% dos eleitores.
É a terceira vez que eles vão às urnas este ano, após as legislativas de janeiro, na qual deram sua confiança a Alexis Tsipras, e o referendo convocado por ele sobre as condições do terceiro resgate europeu ao país. Finalmente, Tsipras aceitou pelo resgate condições muito mais duras que aquelas que os gregos recusaram. Por isso, diante da ruptura de seu partido, o esquerdista Syriza, ele se viu obrigado a convocar eleições antecipadas para que os cidadãos lhe devolvessem ou não sua confiança.
Durante o dia, Tsipras manifestou seu otimismo de que o povo elegeria um Governo estável que, nos próximos quatro anos, “vai batalhar não só dentro do país como também na Europa”. “Já demonstramos sermos capazes de abrir caminhos onde eles não existiam (...) Superaremos as dificuldades”, destacou, insistindo na necessidade de se conseguir um mandato firme para os próximos quatro anos.
Pela manhã, Yorgos Vasiliadis afirmou que votaria em branco, apesar de ter considerado votar no partido ultra Aurora Dourada (terceiro nas pesquisas de intenção de voto). Em janeiro, ele tinha optado pelo Syriza (e em eleições anteriores, no Pasok e no Nova Democracia). “Mas eles me mostraram o mesmo que os partidos tradicionais, que são todos iguais”, afirmou.
Empregado de um lava-rápido e morador de um bairro de classe média baixa com grande presença de imigrantes, ele diz entender a alta abstenção e que se inclinou pelo voto em branco “como uma mensagem ao sistema: já não acreditamos mais neles, as pessoas perderam completamente a confiança, votem em quem votem, não vão mudar nada”. Diante das “coisas boas” que ele agora vê no Aurora Dourada, foi detido na hora de dar a ele seu voto “pelas coisas ruins, muito ruins, que eles também têm”.
Já a aposentada Evi Yorgopulu, preferiu apoiar desta vez o Nova Democracia, após várias eleições votando no Aurora Dourada. “Creio que agora é muito mais útil votar no Nova Democracia, para evitar que ganhe outra vez esse mentiroso [Tsipras], que vai destruir a Grécia se deixarem”, disse ela, em uma escola de Kipseli, o bairro de classe média onde mora o ex-primeiro-ministro e líder do Syriza, Alexis Tsipras.
Entre o lento movimento de eleitores que se aproximava das urnas, era difícil encontrar algum do Syriza nas seções visitadas. Efi Yanopulu, tradutora e jornalista, e militante do partido de Tsipras desde 2012, afirma ter voltado a votar nele “mas com dúvidas e com uma sensação de tristeza e decepção pelo passo dado após o referendo”. “Não sei o que farei nas próximas eleições. Agora, acho que devo continuar a apoiar o partido, a margem de ação do Governo foi muito limitada e é preciso dar a eles uma segunda oportunidade”, afirmou, ressaltando um dado que os resultados das últimas eleições vêm confirmando: “As pesquisas na Grécia sempre se enganam contra o Syriza. Creio que no fim acabará ganhando por três ou quatro pontos de vantagem sobre o Nova Democracia”.
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Syriza ganha as eleições da Grécia com uma ampla vantagem - Instituto Humanitas Unisinos - IHU