31 Agosto 2015
"Apenas indivíduos excepcionais podem adotar a música como endereço. Barenboim é um deles. Além de um dos maiores regentes vivos, é reconhecido como porta-voz da igualdade e da tolerância", escreve Luiz Antônio Araujo, jornalista, comentando a proposta de Daniel Barenboim de levar a Staatskapelle de Berlim para um concerto no Irã, em artigo publicado por Zero Hora, 31-08-2015.
Eis o artigo.
“Onde eu puder tocar piano – de preferência com um instrumento razoavelmente bom – ou aonde eu viajar com as orquestras que conduzo, eu me sinto em casa.” Assim Daniel Barenboim respondeu, em dezembro de 2000, ao ser perguntado se chegava a se sentir em casa em algum lugar ou se, ao contrário, estava sempre em “perpétuo movimento”.
Apenas indivíduos excepcionais podem adotar a música como endereço. Barenboim é um deles. Além de um dos maiores regentes vivos, é reconhecido como porta-voz da igualdade e da tolerância.
Há algum tempo, o maestro, que rege a Staatskapelle de Berlim, tenta convencer o governo alemão a patrocinar um concerto no Irã. O acordo nuclear entre Teerã e as grandes potências parecia ter aberto caminho para a apresentação. Nas últimas semanas, porém, o projeto esbarrou numa oposição tão formidável quanto surpreendente: a dos governos do próprio Irã e de Israel.
Segundo o jornal Haaretz, a ministra da Cultura de Israel, Miri Regev, escreveu na quarta-feira em seu perfil no Facebook que o concerto “minará os esforços para bloquear o acordo nuclear com o Irã e ajudará as tentativas de deslegitimar Israel”.
Regev fez questão de repetir a visão que outros integrantes de seu partido, o Likud, têm de Barenboim: a de que o maestro “promove uma linha anti-Israel contra Israel (sic) e se esforça para disseminá-la através da cultura, usando-a como impulso em favor de suas visões políticas contra o Estado de Israel”.
Dois dias depois, um porta-voz do Ministério da Cultura do Irã citado pela agência oficial Fars afirmou que Teerã também é contrária à turnê da Staatskapelle. O motivo seria o fato de Barenboim ser israelense.
A ministra está certa: o concerto ajudará a minar a oposição ao acordo nuclear. E o que o porta-voz diz é pura verdade: o regente é israelense (embora valha a pena mencionar que nasceu em Buenos Aires, filho de pais judeus argentinos, e tem cidadania honorária palestina desde que se apresentou em Ramallah, sede da Autoridade Palestina, em 2005).
E Barenboim? Certa feita, ele se saiu com esta: “Chineses, europeus, judeus, muçulmanos: todos somos iguais frente à Quinta de Beethoven”.
A ministra e o porta-voz podem estar certos, mas é o maestro quem tem razão.
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O maestro tem razão: "Todos somos iguais frente à Quinta de Beethoven" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU