Escotismo diz ''sim'' aos gays e divide os EUA

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30 Julho 2015

Para pessoas como Zach Wahls, que sempre acreditou no escotismo, chegando ao prestigiado nível de "Eagle" (Águia) sem nunca desistir da sua identidade sexual, essa é uma reviravolta capaz de relançar o movimento, de acompanhar as mudanças na sociedade e de fazer com que os membros que se sentiram traídos retornem. Muito mais críticos, no entanto, são os católicos e os mórmons: estes, que controlam a maior organização nos Estados Unidos, ameaçaram um reexame da sua participação na Boy Scouts of America, a associação guarda-chuva que congrega quase 2,5 milhões de jovens e quase um milhão de voluntários.

A reportagem é de Arturo Zampaglione, publicada no jornal La Repubblica, 29-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A razão de tanta animosidade? A decisão tomada na última segunda-feira pelo conselho executivo de levantar a proibição que sempre impediu que os maiores de idade abertamente gays se tornassem chefes escoteiros ou fossem contratados organizações escoteiras.

Para a comunidade gay estadunidense, é uma nova vitória neste "verão da reviravolta" 2015. De fato, em junho, houve a sentença da Suprema Corte, que efetivamente legalizou os casamentos entre casais do mesmo sexo.

Agora, a mudança de rota do escotismo acrescenta mais uma peça simbólica, mas muito importante em termos de costumes, para a normalização social das orientações sexuais.

Em particular, varre todas as tentativas de confundir homossexualidade e pedofilia, e, como lembra Zach Wahls, que dirige o grupo Scouts for Equality, "põe fim a uma situação de homofobia institucionalizada".

Nascida há 105 anos, a Boy Scouts of America sempre teve posições bastante conformistas em matéria de sexualidade, limitando-se a insistir na sua missão-guia: preparar os jovens para a vida e para a liderança.

Até dois anos atrás, ela não permitia nem mesmo que os gays pudessem ser membros do movimento. Depois, as coisas começaram a mudar, como efeito da nova sensibilidade social e das leis antidiscriminação.

Em 2013, a associação removeu a proibição para jovens e voluntários gays, mantendo-a, em vez disso, para os chefes e os empregados pagos. Depois, lentamente, também graças ao papel de Robert Gates, ex-ministro da Defesa e hoje presidente da Boy Scouts of America, ela entendeu que havia chegado o momento de virar a página: até para evitar perder milhões de dólares em ações judiciais.

Certamente, os problemas não estão todos resolvidos, especialmente porque a virada pró-gay irrita os grupos escoteiros cristãos e mórmons. Em teoria, a diretriz aprovada pelo conselho da Boy Scouts of America dá a possibilidade de que as associações de inspiração religiosa escolham os chefes com base nos seus valores fundamentais: isso permitiria uma isenção.

Mas é provável que muitos mórmons queiram aproveitar o momento para se desligar do órgão guarda-chuva e prosseguir de modo autônomo: até porque eles são os mais numerosos (controlam 17% de todo o escotismo estadunidense) e têm ambições internacionais.

Em uma declaração divulgada em Salt Lake City, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (esse é o nome oficial da Igreja Mórmon) disse estar "muito perturbada" e anunciou uma revisão no fim de agosto da sua participação na Boy Scouts of America.

Outros grupos religiosos já haviam se afastado depois das primeiras aberturas aos gays em 2013, e alguns pensaram que essa era a razão de um declínio do número total de escoteiros. Mas a realidade é diferente, como admitem os próprios líderes do movimento. É cada vez mais difícil, explicam, capturar o tempo e o entusiasmo dos jovens que vivem nas cidades e estão distraídos por mil atividades extracurriculares.

O que é certo é que o número total de escoteiros dos EUA diminuiu 6% em 2013 e outros 7% no ano passado.