Por: André | 20 Julho 2015
Organizações civis de migrantes mexicanos radicados nos Estados Unidos solicitaram ao Papa Francisco para que durante a sua anunciada visita aos Estados Unidos, de 22 a 26 de setembro próximo, e no marco da celebração do Encontro Mundial das Famílias Filadélfia 2015, receba em audiência uma comissão de pais dos 43 estudantes da Normal de Ayotzinapa desaparecidos em 26 de setembro passado, em Iguala.
A reportagem é de Sergio Ocampo Arista e publicada por La Jornada, 19-07-2015. A tradução é de André Langer.
Através de uma carta dirigida ao Sumo Pontífice, a Coalizão de Mexicanos Sem Fronteiras e Imigrantes e mais outras organizações, sob o título “O México é Ayotzinapa e o México acode ao Papa”, expressam que “com o mesmo espírito dos ideais de liberdade com que se realizou o 1º Congresso Continental realizado na Filadélfia em 1776, berço da Independência dos Estados Unidos da América do Norte, nós nos unimos para fazer chegar esta carta em suas mãos”.
Escrevem: “Deus conhece a tremenda crise humana que o povo mexicano vive com dor há mais de uma década. O México, em consonância com outras latitudes do mundo, é hoje um país ferido pela decomposição social derivada de um círculo de violência ilógica. Milhões de mexicanos encontram-se numa situação desesperadora, dada a perda progressiva de esperança diante do assassinato sistemático dos nossos entes queridos”.
Padre Bergoglio, acrescenta a carta, “como padre latino-americano, você conhece a realidade dos nossos povos. Sabemos que o México está em suas orações e compreendemos que, mesmo que não tenha agendado uma visita ao nosso ensanguentado país, a situação do México ocupa um lugar importante em sua agenda da alma”.
Além de recordarem ao Sumo Pontífice que os “fatos de 26 e 27 de setembro de 2014 acontecidos em Guerrero e as mobilizações cidadãs em todo o mundo para exigir justiça pelos crimes perpetrados contra os estudantes da Normal de Ayotzinapa, cujo saldo conhecido foi de três assassinatos, 43 desaparecidos e cerca de 20 feridos, colocaram nos lábios do cristianismo e das boas consciências a palavra ‘Ayotzinapa’ para referir-se à crise humanitária que se vive ao longo e ao largo do território mexicano”.
Nove meses após o pedido de justiça por parte das mães e dos pais dos estudantes, “milhões de mexicanos, fora e dentro de suas fronteiras, seguem assumindo esta dor como própria, e fizeram de Ayotzinapa a sua bandeira para exigir justiça e o fim da violência”.
Estas, acrescentam, “são as razões que nos movem para solicitar-lhe uma audiência com uma comissão de representantes do povo ferido de Ayotzinapa e alguns dos mortos, tendo presente a sua boa disposição com os fiéis latino-americanos e a histórica vinculação da Companhia de Jesus na salvaguarda e integridade da América Latina”.
“Confiamos em sua boa vontade para aceitar o que o povo mexicano-americano lhe pede: tão somente um momento de sua atenção, um abraço, uma bênção, algumas palavras que sirvam de apoio para prosseguir na nossa busca de justiça e dignidade”.
Recordaram que na primavera passada “cerca de 500 cidades estadunidenses, entre elas a cidade de Filadélfia, tiveram a grande oportunidade de se unirem em uma só voz. Migrantes, entidades solidárias e familiares dos estudantes desaparecidos abraçaram a sua dor e raiva. City Hall converteu-se no espaço de confluência de nossas vozes, todas reunidas na Caravana 43 USA”.
Anunciaram que em breve chegará aos Estados Unidos outra delegação vinda de Ayotzinapa com a finalidade de se encontrar como o Vigário de Cristo, sucessor do Apóstolo São Pedro “como peregrinos chegarão aos nossos irmãos de Ayotzinapa para acolher sua palavra, colocando o amor acima da raiva e com o coração disposto a encontrar a paz entre os nossos povos. Confiamos na possibilidade da audiência que lhe solicitamos para que aconteça durante a realização do Encontro Mundial das Famílias Filadélfia 2015”.
Consideramos, insistiram, “que a recepção da delegação que vem de Ayotzinapa para encontrar-se com sua Santidade seja lógica, natural e necessária. Por isso, não descansaremos até obter a justiça para o atroz crime cometido contra Julio César Mondragón, estudante da Normal Ayotzinapa, que naquela fatídica madrugada foi esfolado vivo e arrancados os seus olhos”.
“A busca dos 43 estudantes trouxe resultados horripilantes depois que foram descobertas mais de 10 valas clandestinas nas imediações da cidade de Iguala”.
E acrescenta a carta, “o abraço e pronunciamento do Vigário de Cristo diante desta tragédia humana de degradação de seu tecido social, será de grande valor moral e histórico para o povo do México, para os fiéis latino-americanos e para todos aqueles que acolheram a causa de Ayotzinapa nos rincões mais remotos do mundo”.
Em um anexo informam ao Papa: “ao crime de Ayotzinapa somam-se não apenas os de Tlatlaya e Apatzingán. Cerca de 85 mil pessoas foram assassinadas durante o governo de Felipe Calderón, e durante os seis anos do governo de Enrique Peña Nieto, estima-se a existência de 8 mil desaparecidos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Geografia do México”.
A carta ao Papa Francisco vai com cópia para o arcebispo Charles Chaput; Tom Wolf, governador do Estado da Pensilvânia; e Michel Nutter, prefeito de Filadélfia.
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Grupos pedem encontro do Papa com os pais dos 43 estudantes mexicanos desaparecidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU