‘Redução da maioridade penal colocaria Brasil na contramão da tendência mundial’, diz diretor da Human Rights

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: Cesar Sanson | 11 Junho 2015

O diretor da Human Rights Watch (HRW) para as Américas, Daniel Wilkinson, desembarcou na terça-feira em Brasília com uma comitiva de professores de Yale para reforçar as manifestações de entidades civis brasileiras contra a redução da maioridade penal. Para ele, a redução da maioridade de 18 para 16 anos conforme prevê relatório do deputado Laerte Bessa (PR-DF) prejudicaria a ressocialização de jovens infratores e poderia até aumentar, ao invés de diminuir, a violência.

Wilkinson faz a afirmação ancorado em estudos sobre o assunto nos Estados Unidos, Chile e Argentina. Para ele, a redução da maioridade colocaria o Brasil na contramão de uma tendência internacional, que é criar mecanismos de proteção à infância e a adolescência. Para defender estas e outras ideias relacionadas a direitos humanos, Wilkinson terá reuniões com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e com o vice-presidente Michel Temer, entre outra autoridades. 

A entrevista é publicada pelo jornal O Globo, 10-06-2015.

O sr. e uma comitiva de professores de Yale terão uma série de audiências esta semana em Brasília. Quais são os temas e o que você esperam dessas audiências?

Estamos em Brasília essa semana com um grupo de distintos juristas da Faculdade de Direito da Universidade de Yale, a mais renomada faculdade de direito dos Estados Unidos, para conversar com líderes dos três poderes sobre esse momento histórico. Esperamos ouvir suas perspectivas e razões que justificam as diferentes medidas tomadas e compartilhar nossas recomendações com base nos avanços e retrocessos identificados em outros países como nos Estados Unidos. Entendemos que esse é um momento bastante interessante para o Brasil, um momento crucial em relação ao sistema de justiça criminal.

Todo mundo sabe que o Brasil enfrenta há muitos anos sérios desafios de como resolver o problema da alta criminalidade e, ao mesmo tempo, dos sérios abusos de direitos humanos nas delegacias, prisões e nas ruas. O que vemos neste momento são esforços importantes e sem precedentes destinados ao aperfeiçoamento do sistema de justiça criminal, incluindo, por exemplo, a promoção do programa de audiências de custódia pelo Poder Judiciário. Ao mesmo tempo, no entanto, existem esforços preocupantes que vão na direção contrária. Exemplo disso é o proposta de emenda constitucional para reduzir a maioridade penal para os 16 anos.

Por que a HRW é contra a redução da maioridade penal?

Na nossa opinião a proposta de redução da maioridade penal para os 16 anos é um grande retrocesso e somos absolutamente contrários à ela. Se aprovar a emenda o Brasil estará violando suas obrigações perante o direito internacional de proteção das crianças e adolescentes, além de colocar em risco os esforços do país para reduzir a criminalidade, ao invés de fortalecê-los.

Políticos que defendem a redução da maioridade dizem que a medida ajudaria a diminuir o número de crimes cometidos por menores. A HRW afirma que isso não é verdade. Por que?

Pretendemos demonstrar em reuniões (com autoridades brasileiras) e por meio de uma carta endereçada aos membros do Congresso Nacional que a proposta de redução da maioridade está fundada em falsas premissas. Uma delas é justamente a de que processar e julgar adolescentes como adultos poderá dissuadi-los de se envolverem em crimes. Isso não é verdade. Como demonstraremos nesta carta, nos Estados Unidos há ampla evidência indicando que a redução da maioridade penal teve precisamente o efeito contrário, aumentando a reincidência entre jovens infratores.

Qual sua opinião sobre a proposta que o aumento do tempo de internação de adolescentes, em alguns casos até para oito anos de reclusão, como medida alternativa à redução da maioridade penal? A proposta foi lançada pelo governador Geraldo Alckmin e é vista com bons olhos pela presidente Dilma Rousseff.

Acredito que a proposta sobre o aumento do tempo de internação para adolescentes que cometem crimes violentos pode ser aprofundada e deve ser melhor discutida. Entretanto, o que é absolutamente claro de acordo com o direito internacional é que um adolescente não deve ser julgado ou mandado para prisão como adulto.