18 Mai 2015
Um dos teólogos mais polêmicos da Igreja, e um forte aliado do Papa Francisco, recebeu uma boa notícia sábado pela Santa Sé.
Num movimento que certamente irá preocupar alguns da guarda tradicional da Igreja, o Papa Francisco nomeou Timothy Radcliffe para ser um dos consultores do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, segundo anúncio do Vaticano publicado neste sábado (16).
Superior da ordem dominicana por quase uma década nos anos 1990 e professor de teologia em Oxford, o inglês Radcliffe tem repetidamente desafiado as atitudes da Igreja Católica para com as mulheres, os gays, lésbicas e divorciados.
A reportagem é de Michael O’Loughlin, publicada por Crux, 16-05-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
No ano passado, Radcliffe esteve no centro de uma polêmica quando foi convidado para falar no Congresso Internacional da Divina Misericórdia, o maior encontro católico da Irlanda. A rede de televisão americana EWTN desfez os planos de cobrir o evento por causa da participação de Radcliffe. Um âncora da emissora chamou as opiniões do teólogo de uma “variação acentuada do ensinamento católico”.
A contenda se iniciou após os comentários que Radcliffe fez, em 2013, a respeito da homossexualidade:
“Com certeza, pode-se ser generoso, sensível, não violento. Então, penso que este comportamento pode ser a expressão da autodoação de Cristo”, disse.
Radcliffe ficou surpreso que as suas opiniões causaram tanto rebuliço, afirmando que elas estão “em profunda harmonia com os ensinamentos do Papa Francisco”.
Contudo, Radcliffe vem publicamente apoiando a oposição da Igreja ao casamento homoafetivo, ainda que por razões não geralmente apregoadas pelas autoridades da Igreja.
Por exemplo, em um artigo publicado no jornal The Guardian em dezembro de 2012, Radcliffe escreveu: “É animador ver a onda de apoio ao casamento gay. Ela mostra uma sociedade que aspira uma tolerância aberta a todos os tipos de pessoas, um desejo de vivermos juntos em aceitação mútua”.
Porém, disse ele, uma noção heterossexual do casamento não deveria se impor contra os parceiros gays, embora devam-se abraçar as diferenças.
Tolerância, escreveu o teólogo, “implica uma atenção à particularidade da outra pessoa, um saborear de como ele, ou ela, é diferente de mim, na fé, na etnia, na orientação sexual. Uma sociedade de foge da diferença e finge que todos somos simplesmente o mesmo pode ter proibido a intolerância de alguma forma, e no entanto instituído-a sob outras formas”.
Como consultor do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, Radcliffe é uma das aproximadamente 40 pessoas do mundo inteiro que ajudam a “elaborar as linhas gerais de ação do Conselho, segundo suas percepções e compromissos pastorais e profissionais”.
Radcliffe é autor de mais de meia dúzia de livros e palestrante internacional. O seu livro intitulado “What is the Point of Being a Christian?” recebeu o prêmio Michael Ramsey, edição 2007, concedido pelo arcebispo anglicano de Canterbury pelo “escrito teológico contemporâneo mais promissor da Igreja global”.
Radcliffe, ordenado em 1971, é também um proponente da abertura da Comunhão a católicos divorciados e recasados, atualmente um assunto difícil em debate pelos bispos que participam no Sínodo sobre a família.
Num artigo publicado na revista America em 2013, Radcliffe escreveu que ele “tem duas grandes esperanças. Que se encontre uma maneira de acolher as pessoas divorciadas e recasadas de volta à Comunhão. E, o que é mais importante, que as mulheres recebam autoridade e voz reais na Igreja. O papa expressa o seu desejo de que estas coisas aconteçam, mas quais são as formas concretas que elas podem tomar?”
Quanto ao papel das mulheres na Igreja, Radcliffe está em acordo com o Papa Francisco, que disse não à ordenação feminina, mas que não obstante quer que elas assumam postos de autoridade. Radcliffe lamentou o que considera uma fusão forte entre a ordenação e os departamentos de tomada de decisão na Igreja.
“Acho que a questão da ordenação das mulheres se tornou mais aguda agora porque a Igreja se tornou mais clerical do que em minha infância”, disse Radcliffe em uma entrevista de 2010 à revista US Catholic.
Radcliffe tem trabalhado por uma Igreja mais aberta, na esteira do desejo do Papa Francisco de que a Igreja esteja disposta a “fazer bagunça”.
“Jesus ofertou uma ampla hospitalidade, e comeu e bebeu com todos os tipos de pessoa. Precisamos encarnar esta sua atitude em vez de nos retirarmos para dentro de um gueto católico”, disse Radcliffe em entrevista em 2013.
Bispos católicos do mundo inteiro estarão reunidos em Roma no próximo mês de outubro para a segunda parte de um debate difícil sobre questão de família na Igreja.
Nota: A fonte da foto é http://bit.ly/1kf2jHR
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Teólogo polêmico, Timothy Radcliffe é nomeado para Comissão Justiça e Paz do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU