08 Mai 2015
Rita Marchetti, professora da Universidade de Perúgia, na Itália, afirma: "A rede já está englobada nas atividades cotidianas dos sacerdotes e das comunidades paroquiais". Os interlocutores não são apenas os paroquianos, mas também aqueles que vivem no território. Um alvo privilegiado são os jovens, também aqueles que nunca são vistos. A rede "inova a paróquia e o modo pelo qual os sacerdotes exercem o seu ministério...".
A reportagem é de Vincenzo Corrado, publicada pelo Servizio di Informazione Religiosa (SIR), 06-05-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Igreja e internet: um binômio que continua catalisando a atenção de estudiosos, pesquisadores, especialistas em comunicação e não só... Passado o tempo da "dúvida hamlética" – "apocalípticos ou integrados"? – já é uma convicção generalizada que "a Igreja captou as potencialidades da rede desde o início, em continuidade com a longa tradição de comunicação da qual ela é portadora".
Uma confirmação de tudo isso é o livro La Chiesa in Internet. La sfida dei media digitali [A Igreja na internet. O desafio das mídias digitais] (Ed. Carocci, 2015), de Rita Marchetti, professora do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Perúgia.
No texto, ela dá conta de uma realidade eclesial difusamente conectada. O livro foi apresentado nessa quinta-feira, 7 de maio, na Universidade de Perúgia, em um encontro promovido em colaboração com a Associação de Webmasters Católicos Italianos (WeCa).
Eis a entrevista.
Como descrever a presença da Igreja na internet?
Difusa, plural e plurissituada nas diversas redes sociais e mídias sociais. A Igreja "é viva e tem inúmeros canais de comunicação" – dizia o cardeal Martini –, que, cada vez mais, hoje, aproveitam as oportunidades oferecidas pela internet e pelas mídias digitais em geral. É uma presença plural, porque os diversos rostos da Igreja, das paróquias às associações, passando pelos movimentos, estão na internet. Plurissituada, porque cada um desses rostos coloca ao lado do site institucional uma página e um perfil no Facebook, uma conta no Twitter ou no Instagram, ou ainda tem um canal no YouTube.
Quais são os principais desafios postos pelas mídias digitais?
As mídias digitais podem ser uma grande oportunidade, contanto que se conheçam os seus mecanismos e as lógicas que regulam as trocas comunicativas que nelas ocorrem. Elas são um desafio porque forçam as instituições a rever as lógicas e as modalidades de interação e relação com os seus interlocutores.
Quando se fala de Igreja e internet, o pensamento logo vai para os órgãos oficiais: a conta no Twitter do papa, sites e blogs institucionais etc. Mas o que acontece "no pequeno", no tecido paroquial?
A rede já está englobada nas atividades cotidianas dos sacerdotes e das comunidades paroquiais. Informar e informar-se, organizar as atividades e os encontros offline, oferecer assistência espiritual, dialogar com aqueles que já vivem uma experiência de fé, entrar em contato com aqueles que estão distantes da Igreja: são muitos e diversos os usos da rede feitos pelos sacerdotes . A presença em ambientes web abertos e não exclusivamente católicos confirma, além disso, o desejo de buscar novas modalidades para manter e renovar a proximidade aos fiéis. É evidente que cresceu o conhecimentos das diferentes possibilidades oferecidas pelos diferentes ambientes web por parte da Igreja paroquial, provavelmente fruto da experiência direta e do contato com os próprios interlocutores. Embora a paróquia não tenha um site, isso não significa que o sacerdote renuncie à rede: ele utiliza outros ambientes online para organizar as atividades na paróquia (por exemplo, Messenger ou WhatsApp), diversificando os instrumentos em função com o alvo que pretende alcançar e ao objetivo pré-fixado.
O mundo eclesial na rede, portanto, é uma realidade extremamente rica. Com quem a Igreja online se comunica? Que tipo de relações podem ser instauradas?
Acima de tudo, com os interlocutores de sempre: os paroquianos que já frequentam a paróquia. São eles o alvo privilegiado. Os amigos e os seguidores dos padres na rede, porém, não são apenas os paroquianos que vivem no território da paróquia. Os sacerdotes interagem com "gente da paróquia", imigrantes ou pessoas que vivem em outros lugares em relação às fronteiras da paróquia de pertença. O território não delimita mais as fronteiras da comunidade religiosa que o pároco lidera. Os interlocutores dos padres na rede também são os paroquianos que não vão à missa aos domingos, nem na paróquia do pároco específico, nem em outras. Um alvo privilegiado, além disso, sem dúvida, são os jovens. A internet é útil para falar tanto com aqueles que já frequentam a paróquia, quanto com aqueles que "nunca são vistos"; ela possibilita novas formas de proximidade que modificam a rede relacional dos sacerdotes; inova a paróquia e o modo pelo qual os sacerdotes exercem o seu ministério... Na era das redes digitais, os interlocutores dos párocos são os digital neighbours ("vizinhos digitais").
Passaram-se quase 20 anos desde os primeiros congressos promovidos pela Igreja italiana sobre esses temas. Se quiséssemos sintetizar o caminho feito até aqui e os desafios futuros...
As mídias digitais já são há muito tempo um âmbito central de atenção por parte da Igreja, tendo reconhecido com clarividência, como sempre aconteceu na história da relação entre Igreja e comunicação, que elas são centrais na experiência cotidiana das pessoas às quais a Igreja se dirige. Parece-me que houve e continua havendo uma atenção para as mídias digitais como ocasião para "sair" para fora. É difícil sintetizar os desafios futuros. Estou certa de que a Igreja, fortalecida com a sua longa tradição de comunicação, saberá responder às mudanças repentinas impostas pelo panorama midiático contemporâneo. Acredito, no entanto, que o principal desafio é o da formação e da aquisição das chamadas competências digitais por parte daqueles que operam principalmente em contato com os jovens.
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''Difusa, plural e plurissituada'': a Igreja na internet. Entrevista com Rita Marchetti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU