Por: André | 17 Abril 2015
De acordo com informações enviadas pelo robô Philae, que em novembro pousou sobre um cometa situado a 500 milhões de quilômetros da Terra, esse corpo não tem campo magnético próprio, o que contradiz a atual teoria sobre a formação e a evolução dos cometas.
A reportagem está publicada por Página/12, 15-04-2015. A tradução é de André Langer.
Para os crentes, Deus continua se rindo da pretensão para chegar ao mistério da criação. Para os cientistas, a perplexidade é tanta que as últimas revelações sobre o cometa 67P não deixam de assombrar. Na terça-feira, a revista Science publicou um artigo no qual afirma que o núcleo do 67P Churyumov-Gerasimenko carece de magnetismo. E deixa tamborilando a teoria que afirmava que a presença desse campo gravitacional era determinante para a formação de corpos celestes. Tudo começou com um desafio para a humanidade: o robô Philae, que se desprendeu do satélite Rosetta, conseguiu pousar no cometa em novembro e desde então está em modo de hibernação até que possa recarregar as baterias. A surpresa domina o Congresso da União Europeia de Geociências, que acontece até esta sexta-feira em Viena.
O cientista da missão espacial Hans-Ulrich Auster, da Universidade Técnica Braunschweig, na Alemanha, confirmou os dados do satélite Rosetta que assinalam que o 67P Churyumov-Gerasimenko não tem campo magnético próprio, o que contradiz a crença científica atual sobre a formação e a evolução dos cometas. A descoberta foi publicada na revista Science e apresentada simultaneamente durante a assembleia geral da União Europeia de Geociências. Baseou-se em dados enviados à Terra pelo módulo Philae, embora nem tudo tenha saído como se esperava, já que o robô – do tamanho de uma geladeira e repleto de instrumentos científicos – ‘quicou’ duas vezes antes de pousar em um terreno acidentado.
O 67P, a poeirenta bola de neve que resultou ser um corpo celeste com formato de pato, cheiro estranho e “som misterioso”, revelou um novo segredo. “Seu núcleo carece de magnetismo. A descoberta pode invalidar a teoria dominante sobre a formação dos corpos celestes do Sistema Solar”, disse Auster. A observação revelou que o cometa de 4 km de tamanho tem cheiro sulfuroso e emite um estranho som em seu deslocamento interplanetário. Os cometas são agregados de poeira primordial e gelo que percorrem uma órbita elíptica ao redor do Sol.
A missão europeia Rosetta, que custou 1,4 milhão de dólares, procura revelar alguns dos segredos que os cometas encerram, considerados pelos astrofísicos como “sementes” que fizeram chegar à Terra alguns dos ingredientes necessários para o surgimento da vida.
O interesse gravita em torno do que os cometas podem revelar sobre o papel do magnetismo na formação do Sistema Solar. A hipótese é que o Sol, os asteróides, os cometas, os planetas e suas luas emergiram de um disco dinâmico de poeira e gás, incluindo grãos de magnetita, uma espécie de ferro. Em escala microscópica, os campos magnéticos do disco protoplanetário ajudaram a acumular matéria, criando corpos embrionários. Uma vez que o corpo alcança um tamanho de quilômetro de diâmetro, a gravidade passa a ser a força dominante.
Algumas teorias sugeriram que o magnetismo pôde desempenhar um papel na fase intermediária de crescimento dos corpos celestes. Mas os resultados desta semana parecem contradizer essa hipótese. Em missões espaciais anteriores sempre foi complicado obter dados confiáveis a respeito, “devido à interação entre os ventos solares e os cometas”, explicou o cientista em Viena.
O robô Philae conseguiu transmitir fotos e dados da superfície do corpo celeste antes de ficar esgotado, após ficar sem energia. O módulo, que pesa 100 quilos na Terra e menos que uma pena na frágil gravidade do cometa, pousou após ‘quicar’ em um lugar com pouca exposição aos raios do Sol. O robô tinha apenas 60 horas de autonomia para realizar experimentos e enviar os resultados ao satélite Rosetta. Por essa razão, após efetuar as medições e observações, o módulo está em modo de hibernação desde o dia 15 de novembro e com sorte recarregará as baterias em seu periélio (o momento mais próximo do Sol, previsto para o dia 13 de agosto próximo), uma vez que necessita de uma temperatura interna superior aos 45º C abaixo de zero.
O Philae pousou em novembro no cometa – situado a 500 milhões de quilômetros da Terra – após uma viagem de 10 anos, e converteu-se no primeiro objeto criado por humanos a pousar sobre esse tipo de astro. Mas a partir de então está em modo de hibernação. “Existe uma possibilidade de reativar os computadores do Philae”, disse Stephan Ulamec, um dos responsáveis pelo robô. Da Terra, a mais de 450 milhões de quilômetros de distância, os cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) tentam “ouvir um eventual sinal de vida” do Philae através da sonda espacial. A 186 milhões de quilômetros de distância do astro rei, e com os dados que o robô “despertado” possa fornecer, pretende-se ter mais dados sobre a origem e a evolução do Universo.
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Um terremoto na ciência espacial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU