27 Fevereiro 2015
O sequestro nos últimos três dias de ao menos 150 cristãos de denominação assíria, no nordeste da Síria, marca um novo salto de qualidade nas estratégias de perseguição dos militantes do Estado Islâmico (Isis).
A reportagem é de Lorenzo Cremonesi, publicada no jornal Corriere della Sera, 25-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quem fornece os novos dados é o presidente do Conselho Nacional Sírio, Bassam Ishak: "Verificamos que são ao menos 150 as pessoas sequestradas". Não só. Um dos familiares dos sequestrados denunciou que o Isis começou a matar alguns reféns.
No verão passado, depois das suas vitórias na região de Mosul e nas áreas de Nínive, que são o berço da antiga civilização cristã entre o Iraque e a Síria, os jihadistas do Isis tinham posto a população diante de uma escolha muito clara: poderiam se converter ao Islã ou ficar nas suas próprias casas, pagando a "jazia", a antiga forma de tributação imposta a judeus e cristãos pelas autoridades muçulmanas.
Quase imediatamente, no entanto, a alternativa tornou-se ainda mais drástica: converter-se ou fugir das terras controladas pelo "Califado", perdendo toda propriedade, incluindo poupanças e joias de família. Quem permanecesse seria abusado (as jovens, violentadas; as crianças pequenas, convertidas) e, no fim, morto.
Hoje, o Isis parece finalmente optar pela caça aberta aos cristãos, vistos como inimigos a serem eliminados, "novos cruzados" a serem perseguidos sempre e por toda a parte, sem conceder qualquer alternativa.
O sinal de alerta mais grave havia chegado há uma semana, com o lançamento do vídeo do Isis da decapitação de 21 coptas egípcios na Líbia. Agora, os eventos sírios parecem confirmar as novas escolhas de violência total.
O Isis, nos seus sites costumeiros, não confirma oficialmente. O seu boletim online, Al-Bayan, fala da captura de "dezenas de cruzados". Mas os seus militantes publicam fotos e detalhes de blitzes destinadas a tomar em massa as populações cristãs residentes na rede de vilarejos assírios postos próximo das zonas controladas pela milícia combatente curda síria (YPG) e ao longo da fronteira com a Turquia. Em particular, teria sido invadido o vilarejo de Tal Tamr, com a caça indiscriminada de civis.
Parece que o Isis quer trocá-los pelos seus próprios homens prisioneiros dos curdos. A ação acontece em um momento de intensificação dos conflitos entre curdos e o Isis. Mas o evento relevante dos últimos meses é que, agora, ao lado dos curdos, também combatem voluntários cristãos, em particular, fiéis da Igreja assíria, que estão formando milícias próprias.
Não por acaso, os cristãos das zonas atacadas procuram abrigo nas regiões curdas sírias e especialmente nas suas duas cidades mais importantes. Mais de 3.000 teriam fugido para Hassakeh e especialmente para Qamishli, a "capital" do YPG.
Um forte sinal do renovado desejo dos cristãos locais de se defenderem de modo militar tinha chegado no dia 10 de fevereiro, de Londres, onde Bashar Warda, patriarca caldeu de Erbil, havia pedido uma intervenção mais decisiva do Ocidente: "Como católico, para mim, é difícil dizer isto – declarara ao Parlamento inglês –, mas os ataques não são suficientes. São necessárias as tropas de vocês em campo".
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Isis sequestra 150 cristãos assírios, incluindo mulheres e crianças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU