09 Fevereiro 2015
Graças ao impulso dado pela primeira etapa do Sínodo sobre a família, em outubro de 2014, muitos teólogos são incentivados a refletir sobre os problemas da pastoral familiar, longamente considerados como delicados.
A reportagem é de Claire Lesegretain, publicada no jornal La Croix, 05-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na quinta-feira, 5 de fevereiro, na Universidade Católica de Paris, uma equipe de moralistas, canonistas e exegetas se encontrou para responder ao desejo do papa de renovar a abordagem da moral sexual e familiar. O objetivo, em particular, foi o de acompanhar as pessoas definidas como "em situação irregular".
"A Igreja deve ser a garantia dos nossos costumes ou deve cumprir a sua missão entre as pessoas?" Essa pergunta foi formulada pelo cardeal André Vingt-Trois em uma conferência no Institut Catholique de Paris (ICP) sobre o Sínodo sobre a família, do qual ele havia participado como presidente.
Essa pergunta resume, por si só, a "tensão fecunda" que, segundo o padre Christophe Raimbault, pesquisador em exegese bíblica do Theologicum do ICP, prevalece hoje nas relações entre magistério e teólogos.
Essas relações foram revitalizadas durante a primeira fase do Sínodo, em outubro passado, que reunia essencialmente os presidentes das Conferências Episcopais, e que foi um espaço de livre expressão e de colegialidade.
"O papa desejou que cada um pudesse dizer e ser ouvido, levando-se em conta que a liberdade de expressão e a comunhão eram garantidas pela sua presença totalmente de escuta", lembrou o cardeal Vingt-Trois nessa mesma conferência.
Graças ao questionário preparatório divulgado pelos bispos, estes puderam consultar os cristãos envolvidos no campo, permitindo que os fiéis, por sua vez, se pusessem à escuta da Igreja.
"Todo o âmbito pastoral é reinvestido de maneira nova e realista", entusiasma-se o padre Raimbault, que também é vigário episcopal na diocese de Tours. Como ele, muitos teólogos na França dizem que se sentem "mais livres para lidar com assuntos delicados".
Isso também é confirmado pelo padre Luc-Thomas Somme, dominicano, teólogo moral e reitor da Universidade Católica de Toulouse: "Os nossos estudantes se sentem mais facilmente autorizados a apresentar uma tese de mestrado ou de doutorado sobre a indissolubilidade do matrimônio ou sobre a admissão dos divorciados em segunda união à Eucaristia", constata.
Diversos teólogos se alegram por serem "mais ouvidos por Roma e pela hierarquia episcopal". Neste período entre as duas fases do Sínodo, de fato, os teólogos são convidados a analisar o documento final e a reexaminar vários problemas pastorais difíceis: controle de natalidade, condições de validade do matrimônio, acesso aos sacramentos dos divorciados em segunda união...
"É um trabalho sobre as questões de fundo, para ajudar a moral familiar e sexual a sair de uma abordagem global que não tem nuances suficientes", afirma o padre Philippe Bordeyne, teólogo moral e reitor do ICP.
Em particular, ele acha muito positivo que, no documento final, tenha sido introduzido o conceito de "pedagogia divina", que substituiu, para julgar situações particular, o de "lei de gradualidade" (que consiste em aceitar que se passe por fases sucessivas quando não é possível fazer todo o bem desejável, em um dado momento) e que abre novas perspectivas.
"A pedagogia divina não se focaliza em um ideal, mas permite discernir o que há de positivo em cada vida, mesmo para as pessoas que vivem em situações 'irregulares'", explica o padre Bordeyne.
Segundo ele, esse conceito permite uma "pastoral de acompanhamento", a partir de onde as pessoas estão, e considerando que "um pequeno passo rumo ao melhor tem tanta importância aos olhos de Deus quanto uma vida inteira no caminho certo".
Com esse conceito, realmente se está "na linha de uma Igreja 'hospital de campanha', cara ao Papa Francisco", insiste o padre Bordeyne. Por isso, depois da conferência do cardeal Vingt-Trois, o reitor do ICP convidou os seus coirmãos do Theologicum a trabalhar sobre a pedagogia divina.
"O nosso objetivo é esclarecer os pressupostos desse conceito e publicar algo o mais rápido possível", explica Catherine Fino, salesiana de Dom Bosco, pesquisadora em teologia moral no Theologicum e espinha dorsal desse grupo de trabalho.
O primeiro dia de trabalho, na quinta-feira, aberto a todos os teólogos da Universidade Católica de Paris, contou com a intervenção de um exegeta, de dois moralistas, de um canonista, de um professor de dogmática e de um especialista em liturgia.
A Universidade Católica de Paris não é a única a se mobilizar. A Associação de Teólogos para o Estudo da Moral (Atem) prevê dois dias de estudo relacionados com o Sínodo: o primeiro em junho, sobre o problema da consciência e da articulação entre liberdade e obediência, tão importante na teologia moral; o segundo em setembro, sobre o problema da lei moral diante da lei civil.
"É nosso dever como moralistas levantar os problemas mais espinhosos, ver onde há obstáculos e reler a longa tradição da Igreja", afirma o jesuíta Alain Thomasset, professor de teologia moral do Centro Sèvres em Paris e presidente da Atem.
Falando do Sínodo como de um kairós, de um momento favorável, o padre Thomasset lembra que o papa e os próprios padres sinodais pediram que os teólogos ajudem os bispos, os padres e os leigos envolvidos a desenvolver uma ''arte do acompanhamento".
"Assim como Cristo fez com a samaritana ou com os discípulos de Emaús, a Igreja deve iniciar os seus membros na escuta respeitosa e benevolente", continua o jesuíta.
Além disso, outros professores do Centro Sèvres – especialmente o jesuíta Christoph Theobald –, do Collège des Bernardins – como a biblista Anne-Marie Pelletier – e dos Institutos Católicos de Lyon, Lille, Angers e Toulouse foram instados pelo Conselho Família e Sociedade da Conferência Episcopal Francesa (CEF) em vista da próxima assembleia da CEF.
O Conselho, por exemplo, pediu que o padre Patrick Prétot, beneditino de La-Pierre-qui-Vire, professor de teologia sacramental e litúrgica do ICP e diretor da revista La Maison-Dieu, aprofundasse a noção de "comunhão espiritual", usada no documento final sobre os divorciados em segunda união que não podem ter acesso à Comunhão eucarística.
Um estudo sobre "a história da proibição do acesso à Eucaristia" foi solicitado ao historiador Martin Klöckener, de Friburgo (Suíça), enquanto outros teólogos são chamados a refletir sobre "a acolhida das pessoas homossexuais" e sobre "o caminho de vida a ser proposto às pessoas que não são chamadas nem ao matrimônio, nem à vida consagrada".
"Todas essas contribuições devem chegar em março", afirma Dom Jean-Luc Brunin, bispo de Le Havre e presidente do Conselho Família e Sociedade: elas serão apresentadas em Lourdes para um debate entre os bispos por ocasião da Assembleia Plenária da primavera, no fim de março.
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Teólogos se mobilizam em torno da moral familiar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU