05 Agosto 2015
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu nesta segunda-feira a “obrigação moral” de seu governo na luta contra as mudanças climáticas, cujas consequências definiu como “a maior ameaça” para o futuro. Em uma cerimônia na Casa Branca, o presidente democrata apresentou os detalhes de seu ambicioso plano para limitar, pela primeira vez na história, as emissões poluentes das usinas energéticas do país e estimular o investimento em energia renovável.
A reportagem é de Cristina F. Pereda, publicada pelo jornal El País, 03-08-2015.
“Somos a primeira geração que sente as consequências das mudanças climáticas e a última que tem a oportunidade de fazer algo para deter isso”, argumentou Obama. “Esse é um desses problemas aos quais, por sua magnitude, se não agirmos bem, não poderemos reagir nem nos adaptar. Quando falamos de mudanças climáticas, existe a possibilidade de chegar tarde.”
O presidente compareceu acompanhado da diretora da Agência de Proteção do Meio Ambiente (EPA, na sigla em inglês), Gina McCarthy. A Agência será encarregada de coordenar com os Estados a implementação dos cortes. McCarthy também descreveu a resposta ao aquecimento global como “um imperativo moral” e agradeceu à comunidade científica por sua defesa do meio ambiente. “Ficamos durante anos falando sobre o que deveríamos fazer e hoje, enfim, falamos do que realmente vamos fazer”, afirmou McCarthy, referindo-se às últimas décadas de trabalho para preparar a resposta dos EUA às mudanças climáticas.
“Não há um desafio que represente uma ameaça maior para nosso futuro do que as mudanças climáticas”, declarou Obama. O presidente encerrou com essas medidas o ceticismo dos EUA em relação aos dados da comunidade científica, que há décadas aponta para a contribuição das emissões de poluentes ao aquecimento global. Como lembrou o presidente democrata, o país sofreu neste século os 14 anos registrados até agora com as temperaturas mais altas, e 2014 bateu todos os recordes.
“A ciência nos diz que devemos fazer mais se quisermos salvar nossa economia e a saúde de nossos filhos”, insistiu Obama. O presidente recorreu ao argumento do Pentágono, que considera as mudanças climáticas uma das ameaças à segurança nacional. “Já não estamos falando do futuro, mas da realidade que vivemos aqui, agora.”
Além de falar do clima, o presidente incorporou esta segunda-feira também o argumento da saúde. A Casa Branca, que classificou essas medidas como “críticas”, calcula que a diminuição da poluição reduzirá as mortes prematuras em 90% em 2030, em comparação com 2005, e resultará em uma queda de 70% nos problemas respiratórios nas crianças. A Administração norte-americana também atribui às mudanças climáticas a duplicação nas três últimas décadas do número de habitantes do país com asma.
O plano de Obama contra as mudanças climáticas, o mais ambicioso aprovado até hoje por um governo norte-americano, representa um custo de 8,8 bilhões de dólares (30,36 bilhões de reais) por ano até 2030. Os EUA se comprometem a efetuar antes dessa data um corte de 32% – dois pontos a mais do que o previsto – nas emissões de suas usinas energéticas em relação aos níveis de 2005 e aumentar até 28% a dependência de energia renovável. A iniciativa, conhecida como “Plano da Energia Limpa”, determinará o nível de emissões que os Estados terão de cumprir e lhes permitirá participar de um mercado no qual se trocarão cortes por benefícios fiscais e também será possível adquirir licença para emitir poluentes acima dos limites impostos.
A regulação tem a assinatura de Obama, mas deverá ser aplicada por seu sucessor. O Presidente acaba de forçar a incorporação das mudanças climáticas entre os temas principais da campanha eleitoral, e para isso conta com o respaldo da principal aspirante democrata, Hillary Clinton. Mas os candidatos republicanos manifestaram sua preocupação com o possível fechamento de numerosas usinas de energia do país que dependem da exploração de carvão e, com isso, a perda de postos de trabalho.
O candidato republicano e ex-governador da Flórida Jeb Bush qualificou as medidas de “irresponsáveis” e de “intromissão nas competências dos Estados, de destruir postos de trabalho e elevar os preços da energia”. Para um de seus rivais nas primárias, o senador Marco Rubio, a fatura energética pode tornar-se “catastrófica” para as famílias.
A Casa Branca, porém, afirma que os norte-americanos pouparão 85 dólares anuais em média – 155 bilhões de dólares no total– até 2030, a data-limite para a implementação dos cortes. O presidente explicará esse e outros detalhes aos cidadãos em vários eventos durante as próximas semanas. Espera-se que ele participe da Cúpula Nacional da Energia Limpa em Nevada e se torne o primeiro presidente norte-americano a visitar o Ártico no Alasca. Em setembro, Obama abordará também a questão das mudanças climáticas com o papa Francisco, que visitará Washington durante sua viagem aos EUA.
O presidente se mostrou “convencido” de que as medidas chegam a tempo para que a indústria norte-americana se adapte aos conhecimentos da ciência sobre o aquecimento global, bem como para inspirar outros países a adotar regulações semelhantes. “Só temos um planeta e não há plano B. Não quero que nossos netos não possam nadar no Havaí ou subir uma montanha e ver uma geleira porque nós não fizemos nada.” Obama também defendeu a nova regulação como um argumento que tem em vista a Cúpula das Nações Unidas sobre o Clima, marcada para Paris em dezembro. “Quando o mundo enfrenta grandes desafios, os EUA lideram o caminho para a frente. É disso que esse plano trata.”
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Obama: “As mudanças climáticas são o maior desafio para o nosso futuro” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU