As cinco principais descobertas de Einstein que mudaram a nossa visão do mundo. Artigo de Carlo Rovelli

Mais Lidos

  • Milhares de pessoas foram resgatadas de trabalho escravo contemporâneo em 2023 no Brasil. Entrevista com Frei Xavier Plassat

    LER MAIS
  • Um histórico encontro de oração entre protestantes, ortodoxos e católicos na Roma papal

    LER MAIS
  • Polícias do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco cometeram 331 chacinas em sete anos

    LER MAIS

Newsletter IHU

Fique atualizado das Notícias do Dia, inscreva-se na newsletter do IHU


Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

27 Julho 2015

No início do século XX, Albert Einstein intuiu que o mundo é muito mais complexo do que a física clássica havia mostrado e abriu a porta para uma realidade mais rica, desconcertante, mas bela, e, uma vez compreendida, substancialmente mais simples do que acreditávamos.

A opinião é do físico italiano Carlo Rovelli, professor da Universidade de Aix-Marseille, na França, e diretor do grupo de pesquisa em gravidade quântica do Centro de Física Teórica de Luminy, em Marselha. O artigo foi publicado no jornal Il Sole 24 Ore, 14-04-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Carlo Rovelli é autor de Che cos'è la scienza. La rivoluzione de Anassimandro (2011), La realità non è come ci appare. La strutura elementare delle cose (2014) e Sette brevi lezione di fisica (2014).

Eis o texto.

O ano de 2015 é o centenário da mais importantes e mais bela descoberta de Albert Einstein (do qual também se celebrou, no dia 18 de abril, os 60 anos de morte): a teoria da relatividade geral. E o mundo celebra, há já alguns meses, o maior cientista dos últimos três séculos.

Não é fácil resumir o que Einstein compreendeu sobre a Natureza, porque não se trata de um só resultado, mas de um conjunto vasto e articulado de descobertas. No entanto, quero tentar fazer isso, para tentar orientar o leitor na abertura deste ano em que se falará muito de Einstein.

Eu diria que as principais descobertas de Albert Einstein são cinco. Estas não esgotam tudo o que o cientista fez, ao contrário, mas cada uma delas mudou a nossa visão do mundo em profundidade e cada uma representa um pilar da nossa atual compreensão da Natureza.

Tento ilustrá-las uma de cada vez, para depois discutir a sua coerência. O primeiro resultado de Einstein é a demonstração final de que a matéria tem uma estrutura granular: o mundo é feito de átomos. A ideia é obviamente antiga, remonta a Leucipo e Demócrito, e foi amplamente utilizada pela Química antes de Einstein.

Mas, até Einstein, a existência real dos átomos continuava sendo uma hipótese posta em dúvida por muitos. Em um artigo de extraordinária beleza técnica, escrito aos 25 anos, Einstein parte de um fenômeno físico, o movimento tremulante dos grãos de pó imersos na água, e calcula as dimensões dos átomos a partir do porte da agitação, mostrando de maneira definitiva que essa agitação é o efeito dos choques sobre o grânulo das moléculas de água individuais.

Vinte e quatro séculos depois de Demócrito, toda dúvida sobre a real existência dos átomos veio a cair. A ideia sobre a qual o trabalho se baseou, ligar a velocidade em que vemos o grânulo se mover na água ao porte da agitação, ainda está na base de grande parte da física estatística moderna.

O segundo grande resultado de Einstein (pelo qual ele recebeu o Nobel), contemporâneo ao primeiro e claramente ligado a ele, é a descoberta dos fótons, ou seja, do fato de que a luz também é feita de grânulos, de "átomos de luz". Também neste caso Einstein parte de um efeito físico, o efeito fotoelétrico: quando a luz incide sobre certos metais, ela produz uma pequena corrente. Analisando o detalhe em que isso ocorre, Einstein deduz que a luz é feita de "bolinhas de luz".

A importância dessa descoberta foi capital para a física moderna, porque se trata do passo-chave para a mecânica quântica, a teoria que hoje descreve a relação entre os aspectos corpusculares e ondulatórios da realidade, e que está na base da física atômica, nuclear, da matéria condensada e de grande parte da tecnologia recente, como os computadores.

O terceiro grande passo de Einstein foi o início do estudo da estrutura em grande escala do universo visível. O artigo escrito em 1917, no qual ele abre esse campo de pesquisa (no início do artigo, há uma frase de revirar a cabeça: "Estudamos a natureza em uma escala grande em relação à distância média entre as galáxias") é o trabalho que funda a cosmologia moderna, hoje um dos setores da ciência mais vibrantes e em rápido crescimento.

O quarto resultado é o maior, aquele que estamos celebrando este ano: a teoria da relatividade geral. A teoria explica a origem da força da gravidade de Newton e, ao mesmo tempo, corrige as suas previsões. A força entre massas distantes imaginada por Newton é explicada como um efeito do encurvamento do espaço e do tempo.

Espaço e tempo são como uma folha de borracha que se pode dobrar e puxar, e esse dobrar-se é o motivo pelo qual os objetos caem sobre a terra, razão pela qual a Lua orbita em torno da Terra, e os planetas, ao redor do Sol.

As consequências da teoria são muitas, impressionantes, e depois foram todas verificadas nos anos seguintes: a existência dos buracos negros, a desaceleração do tempo perto de uma massa (se você vive nas montanhas, você envelhece um pouquinho mais rapidamente do que se vivesse no mar), a existência de ondas de espaço, o fato de que o universo que vemos emergiu de uma grande explosão inicial, apenas para dar alguns exemplos.

Deixei por último, no quinto lugar, a teoria da relatividade especial, que é a teoria de Einstein mais conhecida pelo público. Para resolver um conflito aparente entre mecânica e teoria eletromagnética, Einstein compreende que o tempo passa mais devagar quando se viaja rápido e que é melhor pensar o mundo como um "espaço-tempo" unitário de quatro dimensões, em vez de considerar separados o espaço (tridimensional) e o tempo.

Deixei por último essa descoberta não porque não seja importante – a teoria da relatividade restrita é hoje a linguagem básica da relatividade geral e de toda a física das partículas: é o ABC de todo físico teórico –, mas apenas para salientar o fato de que Einstein fez muito mais do que isso.

Esse conjunto de resultados nos deixa sem palavras pela vastidão e profundidade. No início do século XX, Albert Einstein intuiu que o mundo é muito mais complexo do que a física clássica havia mostrado e abriu a porta para uma realidade mais rica, desconcertante, mas bela, e, uma vez compreendida, substancialmente mais simples do que acreditávamos.

Em certo sentido, ele colocou a ciência novamente a caminho, depois que o grande sucesso de Newton e, depois, de Maxwell nos fizera sentar sobre os louros e acreditar, erroneamente, que tínhamos chegado perto do fim.

Mas o fascínio de Albert Einstein também vai além da sua grandeza científica. As suas ideias políticas, cosmopolita e intensamente pacifistas, o seu desprezo pelo valor da "pátria", os seus conflitos interiores quando, para deter Hitler, decidiu escrever a Roosevelt para fazer a bomba, abrindo o século das guerras nucleares, o seu amor pela música e pela filosofia, a sua rebeldia infantil mas radical, que, quando menino, o levou a detestar e abandonar a escola, e, quando adolescente, a perder tempo girando pelas ruas de Pavia e, depois, por toda a vida a se vestir e a se pentear fora de qualquer costume, o seu ateísmo dissimulado e divertido, cheio de citações não convencionais sobre Deus que, mais tarde, muitos se afanarão ingenuamente a querer levar a sério, a sua amizade com Charlie Chaplin, a serenidade com que enfrentou a morte, recusando ser tratado quando soube que estava gravemente doente ("Eu quero ir embora quando eu decidir. É de mau gosto prolongar a vida artificialmente. Eu fiz a minha parte, é hora de ir")... tudo isso faz de Albert Einstein, para muitos de nós, uma referência, um mito, um companheiro de pensamentos, um mestre de verdade, um doce amigo.

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

As cinco principais descobertas de Einstein que mudaram a nossa visão do mundo. Artigo de Carlo Rovelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU