Por: Jonas | 23 Abril 2015
Afundado. As autoridades do Banco HSBC analisam vender seus ativos no Brasil, depreciados por conta do escândalo pela suposta lavagem de 7 bilhões de dólares, oriundos de subornos, evasão fiscal e narcotráfico, investigados pelo governo da presidente Dilma Rousseff e por uma comissão parlamentar que foi criada apesar do boicote da oposição.
Fonte: http://goo.gl/XVMDcD |
A reportagem é de Darío Pignotti, publicada por Página/12, 21-04-2015. A tradução é do Cepat.
“O HSBC acelera sua retirada global com a saída do Brasil e Turquia... a que se viu forçado após uma série de escândalos” publicou o jornal Valor Econômico, baseado em fontes da entidade financeira consultadas pelo Financial Times. Em caso de encerramento das 853 filiais existentes em todo o Brasil, isto significaria, segundo o artigo do Valor, “uma retirada mais rápida e mais profunda do que o previsto na estratégia esboçada pelo diretor executivo do HSBC, Stuart Gulliver”, de seu escritório em Londres.
Sétima entidade bancária brasileira, com um patrimônio da ordem dos 560 milhões de dólares (1,6 bilhão de reais), o HSBC já navegava em águas turbulentas nos Estados Unidos, onde lhe foi aplicada uma multa de 1,9 bilhão de dólares, além de ficar sob a observação do Departamento do Tesouro em razão de possíveis (em rigor quase certas) operações com os cartéis mexicanos.
Ter pactuado com o narcotráfico mexicano e estar na mira dos Estados Unidos não afetaram as atividades do banco no Brasil, cuja Justiça costuma ser indulgente com os delinquentes financeiros, como ficou demonstrado em dois megaescândalos descobertos na década passada.
Apesar dos documentos e evidências reunidas no Congresso brasileiro, o Supremo Tribunal Federal garantiu a impunidade aos responsáveis da lavagem de dezenas de bilhões de dólares enviados a paraísos fiscais, por meio do Banco Banestado.
Também fez vista grossa aos ilícitos cometidos por Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity, enriquecido graças aos negócios obscuros realizados com o Citibank, consentidos pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O que impactou de cheio no nível de flutuação do HSBC no Brasil, a sede que mais fatura na América Latina, foi a recente publicação dos documentos obtidos por um ex-empregado do banco, Hervé Falciani, especialista em informática. Graças ao franco-italiano Falciani se tornou público 60.000 arquivos de clientes de dezenas de países com depósitos na sede suíça do HSBC. Por meio desses documentos, ficaram demonstradas as manobras fraudulentas, a partir de 2006, por parte de alguns dos 100.000 depositantes de todo o mundo, dos quais 6.606 são brasileiros titulares de 8.667 contas.
Ontem, o jornal Valor Econômico escreveu que apesar de sua intenção de se desfazer de seus atrativos brasileiros, o HSBC terá problemas em encontrar clientes, já que os principais bancos privados o consideram um mau negócio.
Parte dos documentos de Falciani chegou há três meses no Brasil e a partir de então o governo assumiu as cartas no SwissLeaks através de seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e Marco Aurélio García, assessor internacional da presidente Rousseff. Ambos se reuniram com o embaixador da França, onde Falciani está asilado, para lhe solicitar a liberação de todos os arquivos sobre clientes brasileiros.
“Todos estes fatos devem ser investigados com o maior rigor”, enfatizou o ministro Cardozo, demonstrando a vontade política do Palácio do Planalto, ao passo que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, anunciou uma viagem a Paris para reunir informação.
Paralelamente, foi formada uma Comissão Parlamentar de Inquérito, presidida pelo senador Paulo Rocha, do Partido dos Trabalhadores, auxiliado por Randolfe Rodrigues, do Partido Socialismo e Liberdade.
“O Brasil está no centro desse escândalo internacional, é o quarto país do mundo em número de contas e o nono no montante dos depósitos, depósitos que são maiores do que os dos sheiks da Arábia Saudita”, disse Rodrigues ao jornal Página/12, em março. “Ou seja, este escândalo envolve somas maiores do que as contabilizadas na corrupção da Petrobras. Para muitos, o caso do HSBC em Genebra é a mãe de todos os escândalos. É preciso uma profunda investigação por parte dos organismos de fiscalização do Estado e do Parlamento”.
A comissão liderada pelo PT e o PSOL foi sabotada pelo opositor Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), presidido pelo senador Aécio Neves, candidato derrotado por Rousseff nas eleições de outubro do ano passado.
O organismo parlamentar informou que embora ainda não tenha recebido a lista completa, já possui o conhecimento de uma centena de investidores brasileiros que investigará e solicitou, na semana passada, o comparecimento do titular do HSBC brasileiro, Guilherme Brandão.
A proposta respaldada pelo PT foi rejeitada pelo bloco social-democrata que manifestou sua “preocupação” com o convite ao executivo Brandão, pois sua presença no Congresso causará “um alto nível de exposição de uma instituição, como o HSBC, que possui nível global”.
Alguns se surpreenderam ao observar a blindagem dada ao banco pelo partido de Neves, promotor do impeachment contra Dilma, alegando suposta corrupção. O jornalista especializado em economia, Luis Nassiff, respondeu com dados aos que não compreendiam a cumplicidade entre o PSDB e o HSBC. Ocorre que o grosso dos brasileiros, cujos nomes já se tornaram conhecidos e que possuem dinheiro em Genebra, financiou Aécio Neves. Segundo levantamento de Nassiff, os possíveis evasores colocaram 400.000 dólares na campanha do dirigente opositor e não colocaram um só dólar nos cofres do PT.
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HSBC vislumbra a venda de seus ativos no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU