Por: Jonas | 13 Março 2015
A dois anos de sua eleição como Papa – que se completam nesta quinta-feira –, Francisco continua suscitando grande entusiasmo dentro e fora da Igreja com sua revolução da ternura, da compreensão, da proximidade de todos – especialmente dos pobres e sofredores -, da austeridade, da alegria, do empenho em favor do diálogo ecumênico e inter-religioso e da contribuição para a paz, que o tornou um grande líder mundial. Porém, estes dois anos não foram um mar de rosas para Francisco, que recebeu um Vaticano com disputas internas e suspeitas de corrupção, e uma Igreja com casos de pedofilia e distanciamento dos fiéis. Ao que foram se somando resistências de setores minoritários – mas veementes – a suas reformas na Cúria Romana e suas ações para dotar de mais transparência suas finanças, e ao seu desejo de uma melhor acolhida aos divorciados e gays. E inclusive críticas por ser condescendente com o Islã e não lhe exigir uma condenação mais firme ao fanatismo de grupos que se dizem islâmicos e massacram os cristãos (e inclusive a outros muçulmanos).
Fonte: http://goo.gl/kuVaxh |
A reportagem é de Sergio Rubin, publicada por Valores Religiosos, 12-03-2015. A tradução é do Cepat.
“Estes dois anos de Francisco foram fecundos e cheios de surpresa”, avalia a filósofa católica Paola Del Bosco. A tal ponto que, na sua avaliação, “geraram muitas expectativas, algumas fantasiosas, porque há um legado, o de Cristo, ao qual é preciso se manter fiéis, embora continuamente nos peça um esforço de renovação frente aos problemas atuais”. Para o advogado Norberto Padilla, ex-secretário de Culto -, a chave do entusiasmo que o Papa desperta está nas “duas palavras iniciais de seu documento programático ‘Evangelii Gaudium’: o Evangelho da alegria. Esse gozo evangélico é por ele transmitido e o contagia de maneira excepcional em seus gestos e pregação”. Destaca, além disso, “sua enorme popularidade, que excede em muito o católico, (embora) dentro da Igreja recompôs o vínculo afetivo com uma forma apta para a sensibilidade mais atual”.
O diretor da prestigiosa revista católica Criterio, José María Poirier, acentua a profundidade das transformações que Francisco encarou. “Estes dois anos certamente marcam grandes mudanças no pontificado”, afirma. Após apontar que “sempre é difícil julgar os fenômenos contemporâneos”, destaca que “em alguns pontos cruciais as reformas são substanciais: o redimensionamento e a descentralização da Cúria Romana, sua clara preocupação pela paz e seu empenho em favor dos pobres em todos os sistemas. Também na grande importância do diálogo ecumênico e inter-religioso, a disciplina do clero e a luta contra toda forma de abuso, além de sua capacidade de encontro com as multidões”.
A respeito das resistências que as reformas suscitam na Cúria Romana e a busca de maior transparência em suas finanças, os consultados não atribuem maior relevância. “Francisco coloca ar fresco na Cúria Romana e todos nós católicos estamos agradecidos por sua simplicidade e coragem”, disse Del Bosco. E acrescenta: “a resistência não me preocupa tanto porque aquele que está vivo e se inspira na busca sincera da verdade e do bem possui energia suficiente para abrir caminho entre as reações estéreis”. Por sua vez, Poirier acredita que o Papa “está travando a batalha – sobretudo com os bispos europeus – e, apesar do que se possa dizer, conta com o apoio de importantes setores da hierarquia católica no mundo. Francisco quer uma Igreja mais universal, menos burocrática e com representação de todos os setores”.
Após recordar que a reforma da cúria vem sendo trabalhada com uma equipe de oito cardeais, Padilla acredita que “em qualquer organismo a incerteza sobre o que virá produz resistências e desconfianças, especialmente se permanentemente o Papa é apresentando como alguém que é enfrentado pela Cúria. Há uma aprendizagem – destaca – que a Cúria terá que tirar de um Papa que rompe esquemas, desde a forma de selecionar os cardeais, surpreender as instâncias institucionais e fazer uma espécie de apostolado da ‘normalidade’ no exercício do ministério petrino, que disse que exercerá profundamente. Sobre a transparência, foram dados grandes e decisivos passos, sem esquecer o processo iniciado por Bento. Surgem, sim, novas interrogações: é dado muito poder ao cardeal (George) Pell, virtual ‘ministro da Economia?’”.
A atitude mais compreensiva do Papa diante dos divorciados e dos gays, que também caiu em vastos setores, também possui seus críticos, especialmente diante da possibilidade de que se permita que os católicos em nova união comunguem. Porém, Poirier opina que Francisco “é ao mesmo tempo fiel à tradição secular da Igreja e aberto à compreensão da sociedade moderna e seus conflitos”. Contudo, enfatiza que “é fundamentalmente alguém para quem as pessoas contam mais do que os manuais de teologia”. Nesse sentido, acredita que “mais cedo ou mais tarde, virá a abertura sacramental para muitos católicos divorciados e em segunda união, que foi um dos temas importantes do sínodo do ano passado, que será retomado em sua segunda parte, em outubro”.
Padilla considera que a questão do acesso à eucaristia para os divorciados em nova união possui um final aberto. “É uma das provas que Francisco precisará atravessar”, disse. E destaca “que da parte do Pontífice há um desejo evidente de apresentar uma solução positiva. Se poderá agir desse modo e como, ainda não é fácil de prognosticar. E conclui que “a experiência do sínodo foi muito valiosa e também será neste ano, especialmente porque as posições dos bispos são livre e abertamente expostas, em um e outro sentido, e é muito bom que seja assim”. Del Bosco, por sua vez, aponta: “Cristo nos ensinou que ninguém está excluído do perdão, que sempre há um caminho de aproximação para todos”. Portanto, “parece bom que siga esse caminho de aproximação”. Não obstante, admite que ‘é complexo ter que acompanhar a todos, mas ao mesmo tempo não deixar de anunciar o valor da família fundada no matrimônio entre homem e mulher, em uma união indissolúvel e sacramental”.
Finalmente, acerca da posição do Papa diante da perseguição que sofrem os cristãos por parte de fundamentalistas islâmicos, Del Bosco acredita que – a partir de uma forte abertura ao mundo não cristão – o Papa “os defende com coragem”. Para Padilla, o Papa “é firme e claro em seu apoio aos cristãos do Oriente Médio. Seu clamor pela paz, como se viu no caso da Síria, é de uma grande força. E seu compromisso com o diálogo islâmico-cristão é importante. Em definitivo, pede que a ONU seja garantidora da paz mundial, que encare a luta contra o sisudo califado e sua horrível e blasfema forma de matar envolvendo o nome de Alá”. Poirier concorda e questiona se o Papa poderia fazer mais. E responde: “não acredito”.
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Francisco se tornou um administrador de tormentas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU