Por: João Conceição, Lucas Schardong e Marilene Maia | 01 Junho 2017
O Brasil, desde 2009, é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com consumo médio mensal de 5,2 quilos de veneno agrícola por habitante. Esta é a informação do Instituto Nacional do Câncer - INCA no documento que lançou contra o uso de agrotóxicos no Brasil. De acordo com o documento, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal – Sindiveg aponta que foram vendidos, em 2002, 313.824 toneladas de agrotóxicos, com um faturamento de US$ 2,5 bilhões. O Sindiveg diz que até 2014 o crescimento da venda de agrotóxicos foi ininterrupto, com 914.220 toneladas vendidas e um faturamento de US$ 12,2 bilhões. Isso significa que em 15 anos o volume comercializado de agrotóxicos aumentou 191% e o faturamento em dólares aumentou 388%.
As feiras agroecológicas e/ou orgânicas têm sido uma das alternativas para uma alimentação mais saudável. Segundo o Projeto Tenda Viva, a Região Metropolitana de Porto Alegre - RMPA contava, em 2016, com 14 feiras orgânicas nos municípios de Canoas, Novo Hamburgo, Porto Alegre e São Leopoldo. A Ecofeira Unisinos é uma das feiras orgânicas que acontece na RMPA. Ela foi lançada em 08-06-2016 como um projeto coletivo por instâncias da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, produtores agroecológicos da região e entidades parceiras, como a EMATER.
A Ecofeira acontece às quartas-feiras, das 10h às 18h, no corredor central da Unisinos (em frente ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU) São Leopoldo. O espaço semanal é uma mostra da produção agroecológica e orgânica da região do Vale do Rio dos Sinos, de comercialização justa e de consumo consciente, articulando as experiências de informação e formação dos produtores, da comunidade acadêmica e comunidade local para uma alimentação saudável e desenvolvimento afirmador da sociedade sustentável. Um dos diferenciais da Ecofeira Unisinos é que ela vai além da mostra e comercialização de alimentos. O seu espaço é de informação e formação ao fazer atividades culturais simultâneas à feira. O propósito é incentivar a formação sobre a agricultura orgânica e suas implicações com o desenvolvimento.
Durante esse primeiro ano de Ecofeira Unisinos, foi possível participar da degustação de alimentos com Plantas Alimentícias Não Convencionais - PANC’S oferecida pelos alunos do Curso de Gastronomia e Nutrição sob coordenação da Profa. Dra. Signorá Konrad. Outra atividade de destaque na Ecofeira foram as Oficinas realizadas pela pesquisadora Denise Schnorr, do Instituto Anchietano de Pesquisa Unisinos.
Uma das oficinas realizadas por Schnorr oportunizou a aproximação com algumas plantas do grupo da estação e da sua ação junto às doenças da época. Uma das questões abordadas foi o possível risco de extinção da erva marcela por conta do extrativismo, do comércio exploratório e do uso de agrotóxicos. “O que se percebe nas áreas rurais é que existe uma retirada, bastante grande, muitas vezes de forma errada, na época de colheita da planta. Em vez de tirar os ramos, toda planta é arrancada para o comércio, sem cuidados”, apontou Denise Schnorr.
Oficina: Plantas Medicinais – Pesquisadora Denise Schnorr (EcoFeira Unisinos):
Outra atividade desenvolvida pela Ecofeira é o Cine-Vídeo, coordenado pela professora Raquel Chesini, do Curso de Gastronomia. Um dos filmes apresentados foi “Alimentos Orgânicos”, que mostrou a produção orgânica e os conceitos, com depoimentos de produtores e consumidores do Brasil, com destaque para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O Círculo Cultural também acontece na Ecofeira Unisinos. A atividade prevê músicas, cantos, poesias, danças etc. durante a feira. O objetivo do Círculo Cultural é “buscar o protagonismo e o envolvimento das e dos estudantes, professoras e professores, bem como dos demais trabalhadoras e trabalhadores da Universidade e pessoas convidadas", comentou Telmo Adams, coordenador do Círculo Cultural.
Conforme a coordenadora da atividade, Profa. Dra. Signorá Konrad, a filosofia Ayurvedica teve sua criação no oriente, há mais de cinco mil anos, e se preocupa com o cuidado físico, mental e emocional das pessoas. Nesse aspecto, a alimentação baseada na Ayurveda se diferencia da cultura ocidental. “Tudo começa a partir do cuidado do corpo. No enfoque ocidental há uma separação entre corpo e mente. Para os orientais não existe esta separação, depende do conjunto do que a pessoa consome. O enfoque na alimentação ocidental é regido através de normas que mudam constantemente e que são baseadas na ciência”, explica Signorá.
Dentre os princípios que regem a filosofia Ayurvedica, a alimentação tem um papel essencial. A professora Signorá explica que ela é importante, pois é conduzida pelos seis sabores (doce, ácido, salgado, picante, amargo e adstringente) e pelos cinco elementos da natureza (ar, agua, éter, fogo e terra), que estão contidos nos alimentos. Com a junção desse conhecimento, as pessoas podem buscar o equilíbrio da alimentação e, com isso, melhorar a saúde. “A filosofia diz que a dieta tem que ser individualizada. No oriente, existe o conhecimento de que cada alimento vem com toda sua bagagem de sabor, temperatura (alguns aquecem outros resfriam) e, dependendo de cada pessoa, ele vai ser harmonizado ou desarmonizado de acordo com os sabores que ingerirem. O ideal é que se tenha os seis sabores numa refeição”, revela.
A oficina também contou com a participação especial do Dr. Marco Scouto, que abordou o tema “A importância da nutrição Sensu Lato na Saúde”. De acordo com o médico, o equilíbrio na alimentação e o consumo de produtos naturais são fundamentais para a saúde das pessoas. “O ideal de um médico é que a medicina deixe de existir e as pessoas tenham simplesmente saúde. Mas a gente vive um processo de saúde e doença. Em primeiro lugar, o melhor alimento é o leite materno e, em segundo, o melhor é o fruto colhido direto do pé”.
Para Scouto, é importante que a população se alimente com produtos que façam bem ao corpo e que não sejam industrializados. “Disse o pai da medicina, Hipócrates: ‘Nós somos o que comemos, e faz do teu alimento o teu medicamento’. E eu digo mais: come aquilo que faz bem para ti, que faz bem para teu corpo e não apenas aquilo que tu queres”, afirma.
A programação cultural da Ecofeira Unisinos reinicia na segunda semana de agosto com a Oficina sobre Plantas Medicinais. A mostra e comercialização de produtos segue acontecendo ao longo do mês de julho, todas as quartas-feiras, no corredor central, em frente ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, e nas sextas-feiras, em frente ao TecnoSinos.
Acompanhe aqui a programação da Ecofeira Unisinos.
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Um ano de Ecofeira Unisinos: para além da mostra e comercialização de produtos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU