18 Agosto 2017
Publicamos aqui o comentário do monge italiano Salvatore, da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste domingo, 20 de agosto, solenidade da Assunção de Nossa Senhora (Lc 1, 39-56). A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o respeitam.” Nessa passagem no coração do Magnificat, está condensada a identidade do Deus bíblico e a promessa de eternidade descerrada a toda pessoa que crê.
Há algo que ultrapassa as fronteiras da vida, das nossas existências mortais? O que deixaremos de nós aos outros? Quer desempenhemos um serviço em uma comunidade ou em algum outro âmbito, quer na tarefa de pais, às vezes somos perpassados pelo pensamento: e depois de nós, o que será?
As Escrituras atestam que o amor é para sempre, é semente que dá fruto se encontrar um coração disposto a acolhê-lo e a deixá-lo frutificar: um coração não curvado sobre si mesmo, mas disponível a dar espaço à presença do outro, ao dom que o Senhor nos oferece, chegando inesperadamente a sacudir os nossos planos. Como aconteceu com Maria, que acolheu, não sem tremor, a palavra do Senhor e a sua promessa de vida: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus” (Lc 1, 31).
Maria exulta pelas maravilhas que o Senhor fez na sua existência; ela discerne aí a bênção de Deus, que continua agindo no mundo, fazendo “coisas grandes” através de nós e “apesar” de nós, apesar dos nossos limites e das nossas fraquezas.
Sim, “o amor do Senhor está sobre os que creem desde sempre e para sempre” (Sl 103, 17), e “cobre aqueles que o temem”. O temor não deve ser confundido com o medo: na concepção bíblica, ele é o fundamento da fé, o princípio da sabedoria. “Uma forma de compreensão, um modo de estar em relação com o mistério de toda a realidade” (A. J. Heschel), que nos leva a perceber nas pequenas coisas o sentido da eternidade, a reconhecer que estamos sob o olhar de Deus (“ele viu a pequenez de sua serva”), revestidos com a sua solicitude por nós e por toda criatura.
A atitude do temor leva a captar a vida no seu voltar-se para horizontes vastos, que se estendem para além do breve lapso de tempo de uma existência individual (“de geração em geração”). Maria é capaz desse olhar “grande” e alarga o motivo do louvor contemplando toda a história de Israel, porque a salvação se manifesta no caminho de uma comunidade.
A salvação prometida pelo Senhor se revela subversiva, porque subverte as lógicas humanas: os ricos são mandados embora de mãos vazias; os famintos, saciados de bens; os poderosos, derrubados dos tronos; os humildes, exaltados; os soberbos são dispersos nos pensamentos dos seus corações:
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“Deus está perto da baixeza, ama o que está perdido
o que não é considerado, o insignificante
o que é marginalizado, fraco e quebrado.
Onde os homens dizem ‘perdido’, lá ele diz ‘salvo’,
onde os homens dizem ‘não’, lá ele diz ‘sim’.” (D. Bonhoeffer)
A festa de hoje do “bem-aventurado trânsito” de Maria atesta que a palavra semeada, que gera para a vida eterna, trouxe nela o seu fruto: Deus tornou a Mãe do Senhor partícipe da ressurreição da carne, elevando-a com o seu corpo e a sua alma à glória do céu.
Somos convidados a ler esta festa à luz da ressurreição, na fé de que a nossa humanidade já está em Deus, através de Cristo ressuscitado, que atrai todos a si.
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