11 Julho 2013
O papa falou de indiferença e de ternura. O primeiro é um tema gramsciano, a segunda é a mesma invocada por Ernesto Guevara de la Serna, conhecido como "Che". Não, isso não é suficiente para fazer do papa um revolucionário. Ele não o é, não pode sê-lo – continua sendo sempre o sucessor de Pedro e senta-se no seu sólio. No entanto, a sua linguagem é simples e direta, que fala ao povo, às massas. "Eu senti que eu devia vir aqui hoje para despertar as nossas consciências", disse ele em Lampedusa.
A reportagem é de Marco Filoni, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 10-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nos anos 1950 era Frantz Fanon, o psiquiatra terceiro-mundista, que lutava pela Argélia para que se acendesse "um brilho nas consciências". E justamente com palavras semelhantes, o pontífice se expressa hoje. Fala de divisão social, de exclusão, de distância entre quem tem e quem não tem. Está do lado dos últimos, está com os povos que devem se autodeterminar e se libertar das opressões que os sufocam. Ele usa uma linguagem que se encontra nos estudos pós-coloniais.
Além disso, ele vem do fim do mundo. Por isso, não gosta do luxo, das facilidades. Altíssima pobreza, assim como para o santo do qual ele porta o nome. E chama à participação. Não diz "indignai-vos", não. Ele diz "participem". Ele convida a não ficar apenas olhando de braços cruzados, a não engrossar as fileiras que Primo Levi já chamava de "zona cinzenta".
Ele pede para não ficar à beira da estrada e para oferecer a própria mão a quem está está lá, sentado, para ajudá-lo a se levantar. As suas palavras dessa segunda-feira têm uma assonância com as gramscianas: "Quem vive verdadeiramente não pode não ser cidadão e tomar partido. Indiferença e abulia, é parasitismo, é velhacaria, não é vida. Por isso eu odeio os indiferentes" (A. Gramsci, Odio gli indifferenti, Ed. Chiarelettere).
Gramsci ontem e Bergoglio hoje convidam a não desperdiçar a pena, a saber chorar, a imaginar uma sociedade em que ninguém está na janela olhando aqueles que se sacrificam e sofrem. Ele não será revolucionário, mas Francisco parece ser o primeiro papa pós-colonial, ao menos na linguagem. E também partidário, se entendermos, com Gramsci, que quem toma partido não é indiferente.
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Primeiro papa pós-colonial? Quando Bergoglio fala como Gramsci e Che Guevara - Instituto Humanitas Unisinos - IHU