Os primeiros anos de vida de uma criança, especialmente os 2 primeiros anos, são os mais importantes para a formação dos hábitos alimentares e, as decisões e iniciativas tomadas nessa fase vão repercutir por toda a vida da criança no desenvolvimento de sua saúde atual e futura.
A variedade e a forma como os alimentos são ofertados vão influenciar desde o paladar até a relação da criança com a alimentação.
A boa relação com a comida será construída baseada na autonomia da criança ao permitir que ela descubra os alimentos, proporcionando um ambiente adequado e diferentes sabores, cheiros e texturas para que ela experimente alimentos por conta própria e participe das refeições da família.
O ato de se alimentar é uma prática que envolve questões culturais e sociais. Levar em conta as diferenças socioeconômicas e culturais, além de respeitar hábitos e tradições das diferentes regiões do país, é uma forma de garantir uma alimentação adequada e um meio de se fortalecer sistemas alimentares sustentáveis.
Quando se opta por alimentos saudáveis como leite materno, o primeiro alimento, alimentos in natura e minimamente processados, contribui-se para reduzir o impacto sobre o meio ambiente.
Até os 6 meses o leite materno é o alimento ideal para a criança, a partir dos 6 meses ela necessita nutrientes em maior quantidade e, os alimentos devem ser oferecidos juntamente com o leite materno.
Neste contexto, alinhado com o Guia Alimentar para a População Brasileira (2014), foi lançado no mês de novembro (2019) o novo Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, em substituição a versão criada em 2002 e revisada em 2010.
A nova versão do guia para a alimentação infantil é um instrumento para a promoção do direito humano à alimentação adequada, através da promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e a alimentação complementar saudável e sustentável.
Dados complementares
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o leite materno para o desenvolvimento das crianças até os dois anos e, de forma exclusiva até os seis meses de vida.
De acordo com dados estatísticos divulgados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), no mundo, apenas 40% das crianças recebem amamentação exclusiva no início de suas vidas; somente quatro em cada dez bebês são alimentados exclusivamente com o leite materno nos primeiros seis meses de vida. Nos países de renda média e alta, 23,9% das crianças são alimentadas somente com o leite da mãe em seu primeiro semestre após o nascimento. No Brasil, o índice estimado foi de 38,6%, segundo o UNICEF e a OMS.
Na região das Américas, pouco mais da metade (54%) das crianças começam a ser amamentadas na primeira hora de vida. Apenas 38% são alimentadas exclusivamente com o leite da mãe até os 6 meses de idade. E somente 32% continuam sendo amamentadas até os dois anos, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
A OPAS e OMS recomendam que os bebês sejam alimentados exclusivamente pelo leite da mãe até os 6 meses e que a amamentação continue acontecendo, junto com outros alimentos, por até 2 anos ou mais.
O aumento do aleitamento materno para níveis quase universais poderia salvar a vida de mais de 820 mil crianças com menos de 5 anos de idade e 20 mil mulheres a cada ano.
[Poderia também adicionar um valor estimado de 300 bilhões de dólares por ano na economia global, com base na melhoria de capacidade cognitiva se cada criança fosse amamentada até pelo menos 6 meses e no aumento do que ele poderia produzir ao longo da vida.
Além disso, aumentar as taxas de aleitamento materno reduziria significativamente os custos das famílias e dos governos no tratamento de enfermidades infantis como pneumonia, diarreia e asma.
A nova edição (2019) do relatório anual “O estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo” traz as seguintes cifras e dados-chave:
Número de pessoas com fome no mundo em 2018
- 821,6 milhões (1 em cada 9)
- Ásia: 513,9 milhões
- África: 256,1 milhões
- América Latina e Caribe: 42,5 milhões
- Número de pessoas com insegurança alimentar moderada ou grave: 2 bilhões (26,4%)
- Bebês com baixo peso ao nascer: 20,5 milhões (1 em cada 7)
- Crianças menores de 5 anos afetadas por atraso no crescimento (baixa estatura para a idade): 148,9 milhões (21,9%)
- Crianças menores de 5 anos afetadas por baixo peso para a estatura: 49,5 milhões (7,3%)
- Crianças menores de 5 anos com sobrepeso (peso elevado para a estatura): 40 milhões (5,9%)
- Crianças e adolescentes em idade escolar com sobrepeso: 338 milhões
- Adultos obesos: 672 milhões (13%, ou 1 em cada 8)
Pelas nutricionistas Cristhiane Konrad Wendling e Signorá Peres Konrad