27 Novembro 2015
"A guerra se despedaça, mas a paz não. Se a guerra pode ser em capítulos, como disse Francisco, a paz é global": esse é o espírito com que o papa foi para a África, de acordo com Alberto Melloni, historiador do cristianismo.
A reportagem é de Natalia Lombardo, publicada no jornal L'Unità, 26-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Qual é o significado dessa viagem, em lugares perigosos, à qual o papa não quis renunciar?
Na África, assim como na América Latina, o Papa Francisco também optou por não ir aos países mais importantes, mas aos mais abandonados, seguindo a linha da pobreza e da reconciliação, portanto, agora na Uganda e na África Central. Ele sabia que era arriscado, mas, na África Central, cristãos e muçulmanos nos dão dois testemunhos diferentes: por um lado, a milícia cristã e a muçulmana se enfrentam com as armas na mão, por outro, na periferia de Mangun, os cristãos estão ajudando os muçulmanos a reconstruir a mesquita. Um sinal messiânico, porque as Escrituras falam do Messias como reconstrutor das casas derrubadas, um exemplo de reciprocidade.
Abrir a Porta Santa do Jubileu na África tem um valor quase político para Francisco. Isso o torna global?
É um gesto de grande eloquência. Nos séculos, foi aberta a Porta Santa em Roma. Agora, inverte-se o ponto de vista, uma reforma que mostra a capacidade do papa de transformar as coisas. Deixando de ser o centro imóvel ao qual todos têm acesso, o Jubileu se inverte: da Cidade do Vaticano, a mensagem se dilata e se expande sobre o mundo.
Uma mensagem global em resposta aos atentados ou também para a Igreja?
É a visão que Bergoglio tem do Sul do mundo, não a política terceiro-mundista, mas a da Igreja que olha a partir da altura do menor, dos últimos, o que lhe permite dizer coisas de forma diferente, mais verdadeira. Quando a violência islamita ensanguenta a Europa, Francisco recorda que o problema não é distinguir um morto de outro, seja em Paris ou em Mali, os mortos russo ou de Beirute, mas que todos devem construir a paz. Porque a guerra mundial é uma guerra em capítulos, mas a paz é global. A guerra se despedaça, mas a paz não.
Uma missão difícil.
A única resposta para a fórmula de Francisco da guerra em capítulos está em uma paz unitária. Não se pode colocar a Europa em segurança sem pacificar o Oriente Médio ou resolver os conflitos na Síria e não na África. O espírito com que o Papa Bergoglio foi ao Sul do mundo não é a expressão da ideologia das periferias. Ele quer dar a entender que não se pode olhar de cima. Se não nos colocarmos na altura dos últimos, não compreendemos a realidade das coisas.
Em relação aos muçulmanos, qual é o sinal da viagem de Francisco?
É uma tentativa de explicar que não existe o "cristianismo" em geral nem o Islã em geral. E as combinações entre experiências religiosas e identidades nacionais constituem um mosaico de variedades que só uma visão ideológica pode reduzir a "um". Em 1,2 bilhão de muçulmanos, há xiitas, sunitas e tantos outros. As Igrejas africanas são conservadoras em relação aos direitos dos gays, em relação aos anglicanos, mas não se pode dizer que os cristãos são homofóbicos. Sem uma reforma teológica nas grandes famílias, não há mudança.
O que seduz aqueles que se tornam terroristas em nome da religião?
Assim como, em nome do progresso, as pessoas eram jogadas nos gulags, ou os judeus nas câmaras de gás, não há diferença entre o poder diabólico ideológico.
Francisco não mostra medo e não quer proteção. O que isso significa?
Por um lado, ele tira do meio do caminho os belicistas de pantufas; por outro, ele sabe que sempre corre perigo.