Por: André | 31 Março 2014
Beleza divina! Verdadeiro homem, Jesus era (necessariamente) bonito como verdadeiro Deus? Esta é a querela teológica que não vimos aparecer entre nós [franceses]... E para este tipo de assunto, os Estados Unidos jamais decepcionam.
A reportagem é de Aymeric Christensen e publicada no sítio da revista francesa La Vie, 21-03, 2-14. A tradução é de André Langer.
Bastou aparecer nas telas americanas o filme Son of God (Filho de Deus), no qual o papel de Jesus é interpretado pelo fisicamente muito inspirador Diogo Morgado (pronuncia-se “Brad Pitt”), para que as redes sociais e as mídias se ocupem com a questão mordente de uma aproximação entre Jesus e Apolo. Ou quase. Tudo aponta para um hashtag circunstancial: #HotJesus.
Debate quente que não é uma reminiscência das polêmicas do final de 2013 em torno da cor de pele de Jesus, e à qual o ator principal do filme acabou respondendo, no The New York Times. Para Diogo Morgado, a focalização sobre a beleza exterior de Jesus no Son of God joga a favor, e é um recurso bom se permite ao longo metragem ser mais visto: “Se a mensagem de Jesus era o amor, a esperança e a compaixão, e se posso transmitir ao maior número de pessoas um Jesus agradável ao olhar, então está bem”.
“Certamente Jesus era sexy. Além disso, ele é o Filho de Deus!”, resume por sua vez a jornalista Carol Costello, visivelmente emocionada por ter contemplado a face de Jesus na tela, numa crônica publicada no sítio da CNN. Argumento apoiado por Lisa Jenkins, pastora de uma igreja batista de Harlem: “Eu não vejo o problema de um Jesus atraente, tendo em vista o nosso contexto cultural... Eu não me lembro de ter visto (no cinema) um Jesus que não fosse agradável ao olhar: é Hollywood!”
Em suma, o velho princípio grego do “kalos kagathos” (belo e bom), no qual o ideal de bondade moral e de beleza física se misturam, não teria nenhuma razão para não ser aplicado a Jesus. Então, assunto encerrado? Não é bem assim.
Para o jesuíta Robert B. Lawton, nenhuma certeza é possível neste assunto. Para ele, “não há absolutamente nada que permite dizer que Jesus era bonito ou sexy”, e cita em apoio a esta ideia uma passagem do Livro de Isaías (capítulo 53, versículos 2 e 3): “Ele não tinha aparência nem beleza para atrair o nosso olhar, nem simpatia para que pudéssemos apreciá-lo. Desprezado e rejeitado pelos homens, homem do sofrimento e experimentado na dor; como indivíduo de quem a gente esconde o rosto, era desprezado e nem tomamos conhecimento dele”.
Outro jesuíta, James Martin, colunista da revista America, insiste em que um Jesus fisicamente perfeito demais correria o risco de estar mais próximo de Deus do que de um homem. “Em boa teologia, dizemos que era como nós em tudo, menos no pecado, lembra ainda. O que significa que ele tinha um corpo, que ficou doente, que se cansou, que teve que cortar o cabelo de tempo em tempo. (...) Temos a tendência de repelir a imperfeição física.”
Evidentemente possível, a beleza corporal de Jesus seria somente útil para tornar sua mensagem mais atraente? Carol Costelo conclui sua nota com um argumento muito ressaltado: “A pessoa mais próxima de Jesus em que posso pensar, como católica, é o Papa Francisco. Eu o admiro muito. É por isso que ele é sexy? Sejamos claros: não!”