31 Janeiro 2019
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 4,21-30 que corresponde ao 4° Domingo de Tempo Comum, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Sabemos que a oposição a Jesus foi crescendo lentamente: o receio dos escribas, a irritação dos mestres da lei e a rejeição dos líderes do templo foram crescendo, acabando na sua condenação e execução na cruz.
Também o sabe o evangelista Lucas. Mas, intencionalmente, forçando inclusive o seu próprio relato, fala da rejeição frontal a Jesus na sua primeira atuação pública. Desde o início, os leitores devem estar cientes de que a rejeição é a primeira reação que Jesus encontra entre os seus quando se apresenta como um profeta.
O que aconteceu em Nazaré não é um evento isolado, algo que aconteceu no passado. A rejeição de Jesus quando ele aparece como o Profeta dos pobres, como libertador dos oprimidos e quem perdoa os pecadores, pode se repetir no seu povo ao longo dos séculos.
É difícil para os seguidores de Jesus aceitar sua dimensão profética. Quase nos esquecemos completamente de algo que tem grande importância. Deus não se encarnou num sacerdote, consagrado para cuidar da religião do Templo. Nem num letrado ocupado em defender a ordem estabelecida pela lei. Encarnou-se e revelou-se num profeta enviado pelo Espírito para anunciar aos pobres a Boa Nova e a libertação aos oprimidos.
Esquecemos que a religião cristã não é mais uma religião entre outras, nascida para proporcionar aos seguidores de Jesus as crenças, ritos e preceitos adequados para viver a sua relação com Deus. É uma religião profética, impulsionada pelo Profeta Jesus para promover um mundo mais humano, orientado para a sua salvação definitiva em Deus.
Os cristãos correm o risco de descuidar uma e outra vez a dimensão profética que nos animará como seguidores de Jesus. Apesar de grandes manifestações proféticas que se verificaram na história cristã, não deixa de ser verdade o que afirma o renomado teólogo diz H. von Balthasar: No final do segundo século «cai sobre o espírito profético da Igreja uma geada que não desapareceu completamente».
Hoje, preocupados em restaurar «o religioso» frente à secularização moderna, nós corremos o risco de caminhar rumo ao futuro, privados de espírito profético. Se for assim, pode suceder-nos como aos vizinhos de Nazaré: Jesus fará o seu caminho entre nós e «se afastará» para continuar seu caminho. Nada o impedirá de continuar sua tarefa libertadora. Outros, vindos de fora, reconhecerão sua força profética e receberão sua ação salvadora.
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Privados de espírito profético - Instituto Humanitas Unisinos - IHU