Perseguições – cristianofobia: verdade e remoção

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02 Dezembro 2025

Dois relatórios recentes chamam a atenção sobre perseguições e cristianofobia, fenômenos bastante consistentes e pouco percebidos.

O artigo é de Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, publicada por Settimana News, 30-11-2025. 

Eis o artigo. 

O primeiro é da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), intitulado Liberdade religiosa no mundo. Relatório 2025 (outubro). Ele se refere ao ano de 2024 e foi elaborado por cerca de quarenta jornalistas, especialistas e acadêmicos de vinte nações. Com base em aproximadamente trinta critérios, os 196 países considerados são analisados segundo estatísticas, legislação e fatos, para reconhecer a perseguição contra os crentes (não apenas cristãos).

O segundo, intitulado Intolerância e discriminação contra os cristãos na Europa. Relatório 2025, é de responsabilidade do Observatório sobre a Intolerância e a Discriminação contra os Cristãos na Europa (OIDAC). Sua sede é em Viena e ele atua há quinze anos. Trata-se de uma organização não governamental vinculada à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que reúne 57 Estados-membros: além da União Europeia, Rússia, Canadá, Reino Unido, Suíça, os países do Cáucaso e da Ásia Central. Ele descreve o fenômeno que se pode chamar de cristianofobia.

Perseguições

O relatório da ACN denuncia violações sistemáticas da liberdade religiosa em 62 países. Em 24, trata-se de verdadeira perseguição; em 38, de discriminação. Isso afeta 5,4 bilhões de pessoas, 64,7% da população mundial. Entre os países mais atingidos: Nigéria, Coreia do Norte, Índia e China. Entre os que discriminam os crentes: México, Egito, Turquia, Etiópia, Vietnã.

Os principais vetores que ameaçam a liberdade religiosa são o autoritarismo autocrático e ditatorial (Irã, Nicarágua, China...), o fundamentalismo islâmico — especialmente o jihadista (do Paquistão à África Subsaariana, até Congo e Moçambique) —, o nacionalismo religioso (Israel, Palestina, Sri Lanka, Nepal…), o crime organizado e a ausência de autoridade estatal (México, Haiti, Nigéria, Somália, Equador, Guatemala…).

Entre os fenômenos que acompanham e alimentam os efeitos negativos da perseguição e da discriminação estão: exclusão e pressão sobre minorias, aumento das migrações forçadas e dos deslocamentos internos, proliferação das guerras. Duplamente vulneráveis são mulheres, meninas e crianças.

As ameaças e violações da liberdade religiosa são apresentadas no Relatório ACN por país, por macrorregiões, e incluem estudos de caso específicos. Tudo organizado em três categorias: perseguição, discriminação e “sob observação”.

A seguir, recupero alguns pontos sobre quatro temas particulares: jihadismo (fundamentalismo islâmico), a esquerda “autoritária” na América Latina, Mianmar e o uso da inteligência artificial (IA) nas perseguições.

Jihadismo

“Nos últimos anos, o jihadismo global entrou em uma nova fase de evolução transnacional. A queda do califado territorial do Estado Islâmico (EI ou Daesh) no Iraque e na Síria em 2019 não marcou o fim dessa ameaça. As principais formações jihadistas, como o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, embora sem uma liderança central, continuam a perseguir seus objetivos.”

Elas exploraram o confronto entre Hamas e Israel, desestabilizam o novo governo sírio e se expandem por toda a África Subsaariana, da Nigéria ao lago Chade, até o Congo e Moçambique.

O jihadismo não sofreu redução significativa e se organiza em rede. Ataca especialmente as comunidades cristãs. No Oriente Médio voltou a crescer desde 2023. No Paquistão, está entre os grupos mais desestabilizadores.

Por trás do fundamentalismo está a Sharia (a lei islâmica), comum nos Estados árabes, mas com interpretações diversas.

Esquerda autoritária (América Latina)

Cuba, Venezuela e Nicarágua apresentam semelhanças na regulação e repressão da vida religiosa. Exige-se subordinação das religiões à ideologia estatal por meio de controle e vigilância. Frequentemente tenta-se criar uma espécie de Igreja alinhada ao governo.

Busca-se desmontar as estruturas sociais e comunicativas da Igreja e das demais comunidades religiosas. Essa pressão autoritária provocou a emigração de quase dois milhões de pessoas em Cuba, 700 mil na Nicarágua e 7,7 milhões na Venezuela.

Está em curso um alinhamento ao chamado Fórum de São Paulo, coalizão de partidos e movimentos de esquerda frequentemente autoritários. O Fórum não condenou nem Maduro (Venezuela) nem Ortega (Nicarágua).

Mianmar

“Embora a atual guerra não tenha matriz exclusivamente religiosa, agravou significativamente as condições da liberdade de crença. A junta militar está associada a uma agenda nacionalista budista, intolerante com grupos não ‘bamar’ e com comunidades religiosas não budistas.”

A destruição de locais de culto, o assassinato de líderes, prisões e intimidações são amplamente difundidos. Apesar das garantias constitucionais, as minorias sofrem discriminação sistemática.

IA nas perseguições

“A esfera digital introduziu poderosos instrumentos de repressão. Em vários países, conteúdos religiosos são censurados online e indivíduos correm risco de prisão por postagens.” Isso ocorre na China, Rússia, Paquistão e na Coreia do Norte.

“Como observa o Comitê de Ministros do Conselho da Europa, a ‘persuasão algorítmica’ pode afetar a autonomia cognitiva.”

Cristianofobia

2.211 crimes. Nos países ocidentais, fala-se de intolerância e discriminação contra crentes — especialmente cristãos.

O Relatório OIDAC reúne crimes e restrições legislativas. Em 2024, foram registrados 2.211 crimes de ódio anticristãos. Os países mais afetados são França, Reino Unido, Alemanha e Espanha.

Entre os exemplos:

– a professora inglesa Kristie Higgs;
– a deputada finlandesa Päivi Räsänen;
– o cristão de Malta acusado de “práticas de conversão”;
– o bispo José Ignacio Munilla (Madri);
– as “zonas de amortecimento” no Reino Unido.

Quanto à autonomia interna:

– Confraria espanhola;
– Projeto de lei polonês;
– Acusações na França.

Quanto a tratamentos psicológicos, menciona-se um projeto de lei inglês.

Quanto aos símbolos religiosos, caso na França de professor censurado.

Quanto ao direito dos pais, decisões na Suíça e na França.

Quanto à objeção de consciência, riscos no Reino Unido e na Bélgica.

Recomendações

Entre as recomendações:

– salvaguarda da objeção de consciência;
– consultas às Igrejas;
– alfabetização religiosa;
– monitoramento sistemático.

UE: um coordenador e um enviado

Uma das recomendações coincide com o pedido da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (C0MECE). Soma-se a solicitação do envio de um responsável para liberdade religiosa fora da União.

Uma leitura dos dois relatórios revela descontinuidade entre perseguições e cristianofobia. A cristianofobia é fruto de analfabetismo religioso e preguiça ideológica dos meios de comunicação e das academias, que, em nome de certa laicidade, deixam de registrar os fatos. Somente uma consciência clara dos termos pode tornar as denúncias críveis e as expectativas razoáveis.

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