02 Novembro 2025
"O cristianismo é uma proposta de vida ANTES da morte. Um Deus encarnado sacraliza e eterniza todas as criaturas", escreve Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, ao comentar o Evangelho de Lucas, 7, 11-17.
Segundo ele, "o amor é mais forte que a morte. A compaixão e a solidariedade acabarão por triunfar sobre a indiferença e o egocentrismo".
Eis o texto.
O término da vida nos inquieta. Mais: apavora alguns.
Todas as religiões buscam um sentido para a existência humana. E uma resposta para o enigma do inevitável fim.
O cristianismo é uma proposta de vida ANTES da morte. Um Deus encarnado sacraliza e eterniza todas as criaturas.
Tanto que, no Evangelho de Lucas (7, 11-17), Jesus tem grande compaixão por uma viúva que sepultava seu filho: "Não chores!" - pediu. E, tocando no caixão, disse: "Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!". Não quis saber quem era, o que fizera na curta vida. Jesus foi sensível à dor daquela mãe e à ânsia de viver daquele moço precocemente falecido.
O amor é mais forte que a morte. A compaixão e a solidariedade acabarão por triunfar sobre a indiferença e o egocentrismo.
Hoje é o DIA DOS MORTOS, para lembrarmos dos nossos amados que já partiram.
A saudade tenta preencher o vazio da perda. Quem não sente? Menino ainda, chorei escondido, por vários anos, a morte do meu pai. Adulto, volta e meia choro a morte da minha mãezinha. E por amigos e amigas queridas - irmãos e irmãs que fiz na vida -, que "partiram fora do combinado". Gosto de senti-los, todos, como "anjos da guarda" (eles velam por nós).
Vou na fé: essa dor precede um encontro amoroso, de seres livres das amarras do tempo: "todas as canções eternamente", festa perene no céu!
Também choro por mortes produzidas por uma sociedade violenta, desigual, desumanizada. Marcada por guerras, chacinas, balas "perdidas", máfias, grupos criminosos, ódios cristalizados.
Choro pelo aplauso ao armamentismo, ao extermínio. Pela frieza frente ao descarte de seres humanos.
Mas tomo para mim as palavras de Jesus à viúva e seu filho: "Não chores! Levanta!".
E sigo, consciente da finitude. E sabendo que a melhor maneira de se preparar para a morte é viver em plenitude, aqui e agora. Como ensinou Manuel Bandeira (1886-1968):
"Quando a indesejada das gentes chegar (não sei se dura ou afável)
talvez eu tenha medo.
Talvez eu sorria, ou diga: Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer (a noite com seus sortilégios).
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta,
com cada coisa em seu lugar."
Deus permita. Façamos por merecer.
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