19 Julho 2025
O artigo é de Tomás Muro Ugalde, teólogo basco, em artigo publicado por Religión Digital, 14-07-2025.
As leituras de hoje: (Gênesis - Abraão) e o Evangelho (Marta e Maria) nos falam de acolhida e hospitalidade. Acolhida e hospitalidade de Abraão, assim como de Marta e Maria.
Abraão acolhe os três homens e lhes dá o melhor que tem: acolhe-os em sua casa, em sua tenda, senta-se com eles e oferece-lhes pão e carne. Abraão era um homem hospitaleiro.
Abraão, ao ouvir aqueles três homens, estava acolhendo o próprio Deus. Ao longo da história da Igreja, tem sido poeticamente interpretado que as três pessoas que Abraão acolheu eram a Trindade de Deus. (Como diz o ditado italiano: "Se não é verdade, está bem dito e encontrado.")
Tal declaração — acolher Deus — pode não ser muito precisa dogmaticamente, mas tem um grande significado cristão.
Jesus nos dirá que cada vez que acolhemos e damos pão a uma pessoa faminta, ou cada vez que visitamos e ajudamos uma pessoa doente ou necessitada, o fazemos a Ele. Abraão foi hospitaleiro com aqueles três homens (com Deus). Marta e Maria acolheram Jesus em sua casa. É uma atitude nobre, humana e cristã saber acolher os outros: na vida familiar, na amizade, nas situações de dificuldade, de fraqueza e de sofrimento.
Sempre houve migrações. Na própria tradição bíblica, repete-se um cantus firmus: "Não maltratarás nem oprimirás o estrangeiro, pois foste estrangeiro no Egito" (Êx 22,21). Movimentos migratórios já ocorriam 1.350 anos antes de Cristo.
Em tempos não muito distantes, que muitos de nós conhecemos, houve muita emigração por razões políticas. Na década de 1960, muitos espanhóis, italianos, portugueses, turcos, iugoslavos, gregos, etc. emigraram para trabalhar em países europeus…
Neste momento estamos vendo e vivenciando grandes movimentos migratórios: África, América Latina, China, Ucrânia, etc. Hoje, entre nós um grupo de malianos (Mali) vive nas ruas do bairro de Amara.
A hospitalidade é mais antiga e infinitamente mais importante que os "papéis" e a legalidade ou ilegalidade que permite — ou não — uma ideologia, um partido político, etc. A hospitalidade é muito mais antiga e mais nobre que a "pureza étnica".
No entanto, o Mediterrâneo continua sendo um cemitério. Algumas ideologias defendem a "deportação" de migrantes; muros são construídos para impedir a travessia de fronteiras. Infelizmente, também se fala que os imigrantes ameaçam nossa identidade étnica e nacional...
O ser humano, todo ser humano é “prior”, é mais importante em si mesmo do que seu passaporte, a cor de sua pele ou sua religião, e merece respeito.
Como seres humanos e como cristãos, estejamos conscientes de que sempre, e ainda mais agora, há momentos e situações de acolhimento e hospitalidade, como Abraão, como Jesus, como Marta e Maria.
Seria reducionista criar uma competição entre ação e contemplação, entre trabalho e oração, entre Marta e Maria... Marta e Maria representam dois aspectos da pessoa humana. De um lado, há pensamento, ideologia e fé (Maria); do outro, ação e trabalho (Marta).
Na medida do possível, vive-se de acordo com o que se pensa. Pensamento, ideologia, fé vêm em primeiro lugar... A atividade virá em seguida. Por isso devemos cuidar do pensamento, da ideologia, da fé.
O evangelista Lucas enfatiza que Maria escolheu a melhor parte, e a melhor parte é ouvir Jesus. O crucial é encontrar e ouvir Cristo. Essa é a melhor parte. Depois vem a ação.
A fé de uma pessoa é aquela da qual ela espera a salvação, o bem-estar supremo. Muitas pessoas vivem — nós vivemos — fascinadas pela nação, pelo dinheiro, pela ideologia política, pelo prazer, pelo progresso tecnológico, pelo sucesso social, pela Igreja, etc.
Se você quer saber qual é a sua fé e qual é o seu Deus, pense no que lhe fascina na vida, no que você estaria disposto a dar tudo para ter. A fé tem uma certa qualidade contemplativa e extática (êxtase, contemplação): a pessoa fica imersa e fascinada: em êxtase. É fé contemplativa e mística: Maria escolheu a melhor parte: Jesus Cristo. Para o cristão a melhor parte é Cristo.
Talvez agora possamos compreender melhor o que Rahner disse: o cristão do futuro será um místico, ou então não existirá.
Nossas perguntas são muito clericais e pragmáticas: pode ser feito, não pode ser feito... é permitido ou não... E possivelmente é por isso que a mensagem eclesiástica não desperta mais tanto interesse.
Vamos escolher a melhor parte.