19 Julho 2025
"Hoje, a mais de um século das primeiras tentativas – teóricas e práticas – de repensar as 'formas da relação entre homem e Deus', temos claro que, para dar força ao grande impulso que a Igreja encontrou na sua tradição litúrgica, não devemos contrapor, mas reconciliar. Esta é a 'verdadeira pacificação' de que a liturgia precisa. Não das confusões entre diferentes regimes e formas rituais, não das hipocrisias de ter um pé em cada canoa, não das misturas entre o ordinário e o extraordinário. Como diz Kierkegaard: 'Deus é aquele para quem o extraordinário não existe'", escreve Andrea Grillo, teólogo italiano, publicado no blog Come se non, 01-06-2025.
"A devoção não é tudo... a devoção tem um fim": assim disse o pároco durante a homilia na manhã de domingo, 29-06-2025. Ele falava do Santuário de São Pedro, no Jônico, e sabia que estava no início de um longo dia de "devoções", com tríduo de preparação, banda, procissão e fogos de artifício finais. De certa forma, ele ecoava uma consciência nascida há cerca de dois séculos. Este é um aspecto importante para entender o que Salmeri, Busti, Carra, Del Giudice e Perroni escreveram nos últimos dias em diversos blogs, discutindo a canonização de Carlo Acutis.
De fato, a liturgia, em sentido tardo-moderno, nasceu com um solene distanciamento não da "devoção", mas da compreensão jurídico-moral da devoção. Tal compreensão, evidentemente, teve uma história. Nesta história, podemos reconhecer dois pontos-chave: por um lado, a categoria de devotio aparece subordinada à categoria de religio e a religio à iustitia. Devoção é, fundamentalmente, um dever. Por outro lado, no âmbito desta categoria de religio, a devotio diz respeito à interioridade e não à exterioridade, mesmo que se traduza em devoções inteiramente exteriores.
Diante desse desenvolvimento, que começa com a escolástica e se estrutura como uma cultura e uma "moral religiosa", a retomada da liturgia (como não apenas exterior) é quase condenada a "contrapor-se" à devotio. Ela se contrapõe à categoria histórica de devotio porque deve quebrar o sistema automático de oposições entre interioridade/exterioridade, mas busca, na realidade, não aboli-la, e sim reformulá-la. Poderíamos dizer que o Movimento Litúrgico (ML) se apresenta como a tentativa de reformular o "conhecimento religioso", de recuperar uma "devoção simbólica", redescobrindo a unidade daquela cisão, que havia sido favorecida pela divisão escolástica entre "atos de culto interior" e "atos de culto exterior".
A "devotio moderna" foi um fenômeno espiritual à frente de seu tempo. No século XIV, inaugurou um estilo espiritual – devoto, precisamente – que, de certa forma, permanece dentro das categorias medievais. Poderíamos quase dizer que a devotio moderna consiste em uma maneira diferente de utilizar as categorias medievais, sem, no entanto, submetê-las a um profundo repensamento. Em particular, ela acentua, de forma profética, a tendência que se espalharia a partir do século XVI em diante: a de contrapor o interior ao exterior, o individual ao comunitário. Esse fenômeno caracterizará a "devotio" da modernidade, até o século XX e, depois, até hoje. Por isso, a devotio moderna não se identifica de forma alguma com a devotio da modernidade.
Mesmo o ML, num primeiro momento, utilizou as categorias medievais de forma invertida, mas também foi vítima delas. Diante da acepção moderna de devotio, contestou a devotio, refugiando-se "noutro lugar", na recuperação de textos, práticas e "celebrações". Mas quando compreendeu – primeiramente com Festugière, Guardini e Casel – o que estava em jogo, teve que dispor de novas categorias para interpretar a relação entre ação ritual, sentimento religioso e tarefa do sujeito. A este aspecto, contudo, dedicou uma atenção apenas inicial, que depois permaneceu bastante marginal.
Hoje, a mais de um século das primeiras tentativas – teóricas e práticas – de repensar as "formas da relação entre homem e Deus", temos claro que, para dar força ao grande impulso que a Igreja encontrou na sua tradição litúrgica, não devemos contrapor, mas reconciliar. Esta é a "verdadeira pacificação" de que a liturgia precisa. Não das confusões entre diferentes regimes e formas rituais, não das hipocrisias de ter um pé em cada canoa, não das misturas entre o ordinário e o extraordinário. Como diz Kierkegaard: "Deus é aquele para quem o extraordinário não existe".
Perguntamo-nos, então: o que o Movimento Litúrgico quer fazer com a liturgia? A pergunta é menos óbvia do que parece. O ML parece nascer de uma busca por espiritualidade, ou seja, de uma revisão profunda e dramática da relação entre "formas comuns da vida civil" e "convicções da consciência".
Estamos no limiar da passagem mais delicada e interessante. A categoria de devoção sofreu uma grande transformação. Vamos tentar seguir algumas de suas passagens.
Não deveríamos hoje ser obrigados a negar que a devoção (e a religião) não sejam também uma virtude. Pelo contrário, este é um dos aspectos mais surpreendentes de nossa condição atual. O primeiro ponto sistemático que deveríamos reelaborar é o peso que essa qualidade moral da religio/devotio exerceu na tradição tardo-moderna. Uma boa parte das revoltas contra o rubricismo nada mais são – transpostas para o plano exterior – as mesmas críticas que consideramos óbvias em relação ao aspecto interior da devoção. De fato, o rubricismo é, externamente, o que a devoção é, internamente: um cuidado com a relação com Deus em forma de exercício da vontade. Tal abordagem tem como efeito, pelo menos no mundo tardo-moderno europeu e norte-americano, uma problemática marginalização dos sentidos e das emoções e um enrijecimento da relação com a tradição.
Esse enrijecimento, ao se concentrar no aspecto disciplinar, perde tanto a relevância teológica quanto a radicação emocional da virtude. Mas isso acontece não porque a teoria fosse em si deficiente, mas porque não é mais sustentada por um mundo coerente com sua própria leitura. A abordagem medieval/moderna entra em crise quando a religio/devotio não pode ser compreendida apenas como uma articulação da "virtude da justiça". A autonomia secular da "justiça" – que se desenvolve do final do século XVIII em diante – coloca em crise esse modelo teórico de compreensão. Vemos seus efeitos também na penitência e nas indulgências.
Em alguns textos do início do século XX, encontramos vestígios desse desconforto. No Dictionnaire de spiritualité, se lermos as entradas sobre o tema "religião", mas também na Brevior Synopsis de Tanquerey, encontramos atestados os vestígios dessa evolução do conceito de religio e de devotio. Ao lado de abordagens clássicas (que às vezes se tornam apologéticas contra suas próprias intenções), manifestam-se novas leituras, novas aberturas, novas compreensões. A noção tardo-moderna de religião, ressentindo-se inevitavelmente do debate surgido do liberalismo protestante e do modernismo/antimodernismo católico, mesmo com todos os distanciamentos das múltiplas possíveis derivações, adquire um dado fundamental. Religio e devotio não são apenas uma elaboração da vontade (como dever de relação e de dedicação a Deus), mas são experiências, emoções, paixões dessa relação.
Podemos notar essa reelaboração se compararmos o tratado das virtudes da STh de São Tomás com a Brevior Synopsis Theologiae Moralis de Tanquerey. Em Tomás, a religio é colocada como a primeira das virtudes anexas à justiça. Dentro dela, devotio e oratio são o aspecto interior da religio. No entanto, em Tanquerey, a religio adquire um primado dentro das virtudes cardeais. Ela se situa após as virtudes teologais e antes das virtudes cardeais. Ela se "desloca" para assumir nova evidência.
Essa "redefinição" em nível sistemático tem suas boas razões. Por um lado, emancipa a leitura da religio/devotio da subordinação às lógicas demasiado humanas da virtude cardeal da justiça. Por outro, e coerentemente, deixa maior espaço para uma leitura teologal da religio. No entanto, é preciso reconhecer, na releitura recente, a partir do século XIX, a religio/devotio constitui um acesso geral à experiência de fé, esperança e caridade. Ela exerce essa função propedêutica, preste-se atenção, recuperando um nível mais elementar da experiência. Portanto, em relação a uma colocação da religio/devotio em uma posição mediana (ou seja, entre as três teologais e as 4 cardeais, como proposto por Tanqueray), a nova posição – que aparece, por exemplo, em Sequeri, em Bonaccorso e em outros autores – é de sobreordenar religio/devotio a toda a estrutura das virtudes, quase como uma forma de acesso religioso à lógica de toda a estrutura teológica e moral.
Nessa movimentação sistemática, aparece um duplo ganho relevante: a recuperação de uma conexão original entre culto espiritual e culto ritual. A recuperação de uma esfera original do religioso que é "emoção, paixão, sentido", temor e tremor, sentido e gosto do infinito, arqueologia do sujeito.
Como vimos, em um contexto secularizado – e, poderíamos dizer, pós-tradicional – religio e devotio não podem permanecer apenas virtudes. Elas precisam expandir-se tanto para cima quanto para baixo. O desenvolvimento pós-tradicional é, portanto, uma ampliação da noção de religião/devoção, incluindo nela tanto o plusvalia teológica quanto o plusvalia antropológica. Por um lado, o pano de fundo teológico histórico-salvífico, narrativo, simbólico; por outro, o pano de fundo antropológico, involuntário, intuitivo, per connaturalitatem, com o qual se reunificam o cognitivo, o ativo e o emocional. Uma leitura apenas veritativa ou apenas disciplinar da religio/devotio é completamente incapaz de apreender o desafio mais profundo, ao qual o ML tentou responder. A compreensão unitária da experiência cristã (cf., por exemplo, o que escreve G. Bonaccorso, em seu Il corpo di Dio, Assisi, 2013) testa as categorias clássicas. Mas não simplesmente para superá-las ou removê-las, mas para reavaliá-las em um contexto mais complexo.
Disso resulta quase um paradoxo, sobre o qual gostaria que nos detivéssemos para refletir: disse que em um contexto secularizado a devotio não pode permanecer apenas uma virtude. Mas é igualmente verdade que em um contexto secularizado, a religio/devotio deve poder permanecer também uma virtude. Por isso, não se pode abandoná-la a uma suposta autoevidência, de alguma forma indiscutível. Nisso vejo o possível deslizamento da devoção para a ideologia. Sem um diálogo profundo com a teologia, a devoção se isola e se contrapõe. A Eucaristia, de modo particular, pede uma relação com a devoção mediada pelo desejo desideravi em direção à celebração pascal. Esse desejo não pode ser reduzido a um ato individual e isolado, talvez pretendendo substituir a experiência do milagre eucarístico pela doutrina sobre a Eucaristia. Aqui é justamente a devoção que deve ser educada, primeiramente nos adultos.