23 Novembro 2024
Em 2022, o ministro das Relações Exteriores do Vaticano não mediu palavras ao afirmar que a Santa Sé tinha melhores relações com o governo Biden do que com o de Trump.
A informação é Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 22-11-2024.
"Falando francamente, acho que percebemos que não enxergávamos as coisas tão de perto com o governo anterior quanto enxergamos com este", diz dom Paul Gallagher em entrevista à revista America. O arcebispo observou que, como ocorre com qualquer governo, haverá áreas de desafios e possibilidades de cooperação.
Durante a era Biden, houve as habituais divergências sobre o aborto, um tema que qualquer governo democrata enfrenta ao lidar com a Santa Sé. No entanto, a maior superpotência do mundo e o menor estado do mundo encontraram maior desalinhamento em relação às guerras em curso na Ucrânia e em Gaza.
O Papa Francisco tem insistido no apelo por um cessar-fogo em ambos os conflitos. Enquanto isso, o governo Biden forneceu recursos essenciais para a continuidade de ambos. Mesmo assim, nos últimos quatro anos, a colaboração entre a Santa Sé e os Estados Unidos focou no retorno de crianças ucranianas sequestradas pela Rússia, na migração e nas questões ambientais.
Com o presidente eleito Donald Trump se preparando para retornar ao poder, vale a pena refletir sobre como poderão ser as relações entre o Vaticano e os EUA nos próximos quatro anos.
Durante seu primeiro mandato, Trump nomeou Callista Gingrich como sua representante no Vaticano – um período em que tanto a embaixadora quanto seu marido, Newt Gingrich, muito mais conhecido, foram presenças regulares na cena social romana.
Callista ganhou reputação como uma colaboradora respeitada entre o crescente número de mulheres embaixadoras no Vaticano, que é quase totalmente administrado por homens. Em um período em que os dois governos encontraram poucos pontos de convergência, ela conseguiu destacar o combate ao tráfico humano como sua principal causa.
No entanto, caso um futuro indicado de Trump queira seguir uma abordagem semelhante, pode enfrentar dificuldades devido às controvérsias em torno das condenações do presidente eleito por agressão sexual, bem como às acusações contra alguns de seus possíveis membros do gabinete.
No que diz respeito à mediação para acabar com a agressão da Rússia contra a Ucrânia, Trump prometeu encerrar o conflito em "um dia" de sua presidência. O principal diplomata do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, expressou ceticismo, afirmando que não existem "soluções mágicas" para acabar com a guerra. No entanto, caso os EUA decidam cortar o fornecimento de armas ou financiamento à Ucrânia, que está em dificuldade, também não se deve esperar protestos ou decepção da Santa Sé.
Enquanto o papa globalista tem priorizado o engajamento com a China como um tema central de seu pontificado, Trump deve adotar políticas isolacionistas que provavelmente aprofundarão os desacordos entre os EUA e o Vaticano. Sobre a imigração, onde o presidente eleito prometeu implementar o "maior programa de deportação da história americana", é razoável esperar um forte contraponto do papa, que recentemente descreveu como "pecado" e "mal" rejeitar migrantes.
Em uma recente palestra na Polônia, o arcebispo Gallagher apresentou uma visão ampla da missão diplomática da Santa Sé, que inclui a resolução de conflitos, a defesa do direito à vida e da liberdade religiosa, a migração e o meio ambiente.
Com base nessa lista, parece que um segundo mandato de Trump trará uma mistura de áreas de convergência e oposição, como acontece com qualquer administração.
No entanto, o arcebispo destacou em sua palestra que o trabalho da Santa Sé deve ser definido por um espírito de diálogo e humildade. Assim, para os próximos quatro anos, o temperamento pode se mostrar a maior diferença de todas.
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O que esperar das relações entre o Vaticano e os EUA com o retorno de Trump ao poder - Instituto Humanitas Unisinos - IHU