Panos Slavi, operário do setor de construção, nunca pensou que, depois de levantar tantos novos prédios durante o boom imobiliário grego no início da década, viveria em um centro social, sem casa e sem renda. Depois de perder o emprego em 2009 e o seguro-desemprego em 2010, ficou sem renda. O operário foi obrigado a devolver a casa que havia comprado para um banco e buscar refúgio. "Era para ser algo temporário. Mas já faz quase dois anos que estou aqui e não consigo sair", disse ao Estado.
A reportagem é de
Jamil Chade e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 06-11-2011.
Se nos países emergentes o surgimento dos novos ricos é um fenômeno relevante do crescimento, na periferia da Europa, o continente descobre seus "novos pobres". Ao fim deste ano, a previsão dos acadêmicos é de que a Grécia terá sua maior taxa de desemprego em 50 anos. No início dos anos 60, milhares de pessoas perderam seus trabalhos no campo quando a Grécia introduziu a agricultura mecanizada.
Desde 2008, a taxa já dobrou e está em cerca de 16%. Chegaria oficialmente a 18% em dezembro. Mas institutos de pesquisa acusam o governo de manipular os números e alertam que a taxa real seria de 23%.
Outro drama é que, ao contrário de países como Alemanha ou França, o seguro-desemprego já mostra sinais de fatiga. Pela lei, o governo garante 500 por pessoa desempregada. Mas apenas por um ano. Hoje, mais da metade dos desempregados já não encontra trabalho há mais de um ano. Na prática, estão sem renda. Isso sem contar que cerca de 280 mil pessoas sequer conseguiram receber o que tem direito porque o Estado está falido.
Um dos resultados imediatos é a explosão de pessoas sem capacidade para pagar seus aluguéis, hipotecas e alimentação. Em
Atenas, esse número subiu 25% em um ano. "Construi casas para centenas de pessoas. Agora, não tenho a minha", diz Panos. "Dizem que essa é uma crise mundial e que há gente em outros lugares vivendo o mesmo problema. Como é que chegamos a isso se tudo parecia ir tão bem", pergunta. Ele enviou sua mulher e duas filhas de volta para o vilarejo no interior da Grécia, onde contam com a ajuda de parentes.
Além do desemprego, a elevação de impostos teve um impacto devastador. Hoje, um grego paga a terceira maior taxa de impostos do continente. Projeções feitas pelo acadêmico
Savas Robolis, da Universidade Pateion, apontam que, até 2015 - quando todas as medidas de austeridade estarão implementadas -, o nível de vida dos gregos que conseguirão trabalhar será 40% inferior ao que era em 2008, às vésperas da crise. A pobreza, que a Grécia pensava que havia superado nos anos 80, cresce com força.
Quem também alerta para a explosão da pobreza é a Igreja Ortodoxa de Atenas.
Costis Dimtsas, porta-voz da Igreja, explica que desde meados deste ano vem registrando um número cada vez maior de pessoas que batem à porta dos centros religiosos em busca de comida, remédio e um teto. "Há um tsunami vindo e 2012 verá resultados desastrosos no campo social", disse.
Dimtsas conta que a rede de distribuição de alimentos sequer está dando conta da demanda diária. "Antes, tínhamos esse serviço basicamente para os imigrantes. Hoje, 60% dos que pedem comida são gregos", disse.
No centro de Atenas, um dos bancos de alimentos montados pela Igreja mostra o tamanho do desespero. Na sexta-feira, em 30 minutos, os religiosos e assistentes sociais entregaram 1,2 mil pacotes de alimentos. Mais da metade da fila ficou sem. Longe das filas de europeus desesperados, o ministro do Trabalho e braço direito de George Papandreou, George Kutrumanis, mantinha um tom messiânico. "Nossos esforços são na direção de garantir o bem-estar da população. A história nos julgará."
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Europa começa a descobrir seus novos pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU