19 Julho 2016
Otávio das Chagas, o pescador sem rio e sem letras, não consegue chegar em casa. Desde que ele e sua família foram expulsos de sua ilha pela hidrelétrica de Belo Monte, Otávio já está na terceira casa. Mas não consegue chegar. Porque para ele aquela terceira ainda não é uma casa. Como não era a primeira nem era a segunda. Sem casa, Otávio não tem mundo. Sem mundo, um homem não tem onde pisar. Os conhecidos avisam: você já viu, seu Otávio está encolhendo. E ele está, porque é isso o que acontece com os homens sem mundo.
A reportagem é de Eliane Brum, escritora, repórter e documentarista, publicada por El País, 18-07-2016.
O que é uma casa é a pergunta que atravessa a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, no Estado do Pará. A pergunta que não foi feita no cadastro nem em momento algum. É a pergunta que diz quem aquela pessoa é. E onde ela precisa viver para ser o que é. Quando é o empreendedor, o novo nome do colonizador na Amazônia, que determina o que é uma casa, com base no seu mundo e nas suas referências, em geral forjadas na realidade bem diversa do centro-sul do Brasil, a violência se instala. E vidas são aniquiladas.
Acompanho Otávio das Chagas desde 2014. Naquele momento, ele, sua mulher Maria e os nove filhos estavam na primeira casa que não podia ser casa. Uma casa de madeira alugada numa periferia violenta de Altamira. Em 2015, mudaram-se para uma “unidade” de Reassentamento Urbano Coletivo (RUC), nome dos conjuntos habitacionais padronizados que a Norte Energia construiu para abrigar as vítimas de “remoção compulsória”. Em 2016, dividiram-se: os dois filhos mais velhos permaneceram na casa padronizada, um deles já com sua própria família; Otávio, Maria e os filhos mais jovens transferiram-se para uma casa doada por um grupo de austríacos que se comoveu com as tribulações do pescador sem rio e sem letras.
Todas as vezes em que bati em cada uma das três portas, eles passavam fome. Tinham teto, mas passavam fome. Era oficialmente uma casa, mas passavam fome. Em todas as vezes, só havia água na geladeira. Na semana passada, havia também uma cebola pequena. Fome é algo que fracasso em descrever. A fome não se escreve. Carolina Maria de Jesus (1914-1977), a escritora brasileira que conhecia a fome, escreveu: “A fome é amarela”.
Maria, a mãe, tenta fazer caber nas palavras o que sente quando chega a passar até dois dias sem comer: “Dá uma dor no estômago, uma tontice”. É uma pista, mas ainda não é a fome por escrito. “Eu não sei o que fazer quando as crianças ficam pedindo por comida”, ela continua. É outra pista, mas ainda não é a fome por escrito. Jamais será. A fome é algo tão avassalador que irredutível às palavras. Encaro os olhos fundos de Adriano, o menino de sete anos, e entendo sem letras. Entendo, mas sigo sem alcançar. Meu olhar não afunda nos olhos de poço, me falta a experiência. Adriano é mais uma doce criança com olhos de velho deste mundo. Quando o encontrei na segunda casa, a do RUC, em 2015, era o dia do seu aniversário. E não havia sequer um pedaço de pão para Adriano comer.
Casa é onde não tem fome, eles me ensinam. Se tem fome, é só teto.
Otávio das Chagas e sua família viviam há mais de 30 anos na Ilha de Maria, uma das centenas de ilhas do Xingu. Viver talvez não seja a palavra exata. Eles pertenciam à ilha de Maria. É inversa essa questão da posse. E não apenas por questões da lei. Mas porque é a ilha que se apossa das pessoas, que lhes conforma o corpo e a existência, que lhes desenha a arquitetura do tempo. Na ilha, Otávio, Maria e seus filhos sabiam. Quando expulsos para a “rua”, nome que os ribeirinhos agroextrativistas de várias regiões amazônicas dão à “cidade”, são esvaziados de saber. Assim, essas casas, na “rua”, serão de certo modo sempre “rua” – e não casa.
Otávio das Chagas explica: “Pra roçar uma juquira, pra trabalhar de roça, pra toda coisa de mato, eu sou profissional. Peixe, eu sou profissional também. Mas pras coisas da rua, a gente não sabe. Meus menino ainda sabe ler, mas é só uma coisinha. Não tem vida pra nós aqui”. Maria completa: “Aqui na rua é tudo no dinheiro. Se não tem dinheiro, não come. Até a água é paga, todo mês 120 real”.
Quando são expulsos da ilha a qual pertencem, Otávio, Maria e seus filhos já não reconhecem nem se reconhecem, porque a ilha era também espelho. Se alguém é obrigado a deixar sua terra por conta de uma guerra, de um terremoto ou da fome, haverá sempre a terra que ficou, haverá ruínas, haverá os mortos ali enterrados para dar conta do que foram, mesmo que nunca possam voltar. Otávio, Maria e seus filhos perderam a materialidade do que viveram, a memória física do que eram, do que são. Tudo o que dizia deles virou água pela força de Belo Monte. Da ilha afogada não há sequer um retrato. Restou a eles apontar as cicatrizes que documentam uma vida no único território que lhes restou: o do próprio corpo.
Desde então, eles pisam “na rua”, mas não encontram o chão. Essa experiência desestruturante é de difícil compreensão para aqueles que sempre têm para onde voltar. É penosa de entender mesmo quando se quer entender. Mas quando os colonizadores sequer percebem que é necessário compreender, caso dos protagonistas da hidrelétrica, seja como governo, seja como empresa, resta só a violência. E ela vai matando aos poucos.
Quando foi expulso, em 2012, Otávio assinou com o dedo papéis que não era capaz de ler. Seus filhos assinaram por ele papéis que não eram capazes de ler. Receberam 12.994,02 reais como indenização. Sua casa não foi considerada uma casa. Não cabia no conceito de casa do empreendedor. Quando a “remoção” dos habitantes das ilhas, das beiras e dos baixões, assim como das terras rurais, foi determinada, não havia defensoria pública na região. O Governo de Dilma Rousseff abandonou a população do Xingu sem qualquer proteção jurídica na maior obra do setor elétrico do país, à mercê dos advogados da Norte Energia, uma violação de direitos que manchará para sempre a biografia da presidente hoje afastada. Otávio e sua família foram jogados num dos bairros mais violentos da periferia de Altamira, onde pagavam um aluguel que, junto com a doença de uma das filhas, comeu o dinheiro em meses. A casa alugada foi a primeira não-casa.
Otávio das Chagas não entende uma casa que ele mesmo não bota em pé: “Eu não sei trabalhar de pedreiro. Mas eu sei fazer uma casa nossa. A senhora sabe o que é uma casa coberta de cavaco? Aquelas eu sei fazer”. E descreve em detalhes como se constrói “uma casa boa e bem-feita”, como a que tinha na ilha e que não foi reconhecida como casa pelo empreendedor. Esta casa, que a cada cheia do rio ele precisava reconstruir, assim foi descrita em despacho da Norte Energia: “estrutura rudimentar de madeira com cobertura de palha”. Para compreender o que é uma casa, em toda a sua inteireza, é necessário escutar os ribeirinhos com mais atenção: a casa não é uma “estrutura”, apenas, mas algo mais extenso no qual é abarcado todo o seu entorno, as árvores, a roça, a mata, o rio. A casa é fora e dentro – é um amplo e um tudo.
Maria explica: “Lá na ilha a gente tinha tudo, a gente tinha fruteira, a gente tinha peixe, a gente tinha caça, a gente tinha roça, a gente tinha remédio do mato, a gente tinha água, a gente tinha vizinho, a gente tinha sombra, a gente brincava, no sábado vinha gente de todo lado, os homem jogava futebol, as mulher tratava o peixe, assava e brincava. Lá na ilha a gente tinha fartura. Aqui, nós compra banana e qualquer pouquinho é um preço doido. Lá nós tinha tanta banana que jogava pros bicho”. A casa não é apenas uma “estrutura rudimentar de madeira com cobertura de palha”, como descrita pelo etnocentrismo do empreendedor. O conceito de casa é estendido. Casa é onde não se passa fome, é onde se faz laços que garantam a sobrevivência e também a alegria.
Com a chegada bem tardia da Defensoria Pública da União à cidade de Altamira, no início de 2015, Otávio das Chagas recebeu uma das casas padronizadas, construídas pelo empreendedor sem qualquer respeito ao conceito de casa daquela população. As unidades padronizadas poderiam estar em qualquer lugar, na Amazônia ou na serra gaúcha. São genéricas. As vítimas de “remoção compulsória” foram lá jogadas sem nenhuma preocupação em manter as relações de vizinhança e os laços comunitários, essenciais para a sobrevivência e para a preservação de uma memória comum. Esse cuidado que não houve poderia ter desempenhado um papel essencial ao reconhecimento mútuo num momento tão desestabilizador para as famílias atingidas.
Nesta casa genérica, onde a família não cabia inteira, apenas se amontoava, nesta casa “abafada”, Otávio das Chagas me pediu um dia para desenhar um mapa do Brasil, para mostrar de onde eu vinha. Onde era a minha ilha, meu pertencimento. Desenhei um mapa mal desenhado. E percebi que ele continuava perdido. Mesmo que eu desenhasse mil mapas perfeitos, ele seguiria perdido, porque sua ilha já não estava nele. Sua ilha afogada já não existia no Brasil.
Naquele momento, as crianças menores não frequentavam a escola, porque tinham medo de ônibus. Elas só conheciam canoa. Quando viviam na ilha, um barco passava para entregá-las à professora. Enquanto sofriam de fome naquela casa genérica, um carro de som passava anunciando aos berros que Belo Monte “é energia limpa e sustentável”. Há uma perversão no uso das palavras. Para muitos, as hidrelétricas na Amazônia ainda são “energia limpa e sustentável”. Para estes, as vidas que o processo engole não contam. Nunca contaram. É sempre fácil pedir o sacrifício dos outros.
Na terceira casa, Otávio das Chagas, Maria e seus filhos quase perderam a vida. Os sentidos do viver, o reconhecimento de um saber sobre a floresta, a valorização de um conhecimento do rio, a possibilidade de sobreviver pelas próprias mãos já tinham sido destruídos pela violência do processo de Belo Monte. Mas, em 2 de julho, eles se sentavam à porta da casa, um hábito da ilha que ainda mantinham, quando homens armados a invadiram.
Otávio conta: “Era seis hora da tarde. Porque nós moremo toda vida assim no mato e é a morada que eu me acostumo. Eu não me acostumo com a morada num lugar desse. Aí, quando é seis hora da tarde nós senta ali na frente da casa na morada no mato. Não tem perigo nenhum. Mas aqui, num lugar desse...”. Botaram um revólver na cabeça de Edilardo, o filho de 24 anos. Marisa, de 10, correu e foi pega por outro. O assaltante colocou um facão nas costas da menina. Naquele dia, Marisa estava doente, com febre. E de repente tinha também um facão ameaçando cortá-la.
Havia pouco para roubar na casa quase nua. Levaram celulares muito simples e um “devedezinho” que Otávio tinha comprado a prestações no Armazém Paraíba, no período em que os filhos mais velhos tiveram um emprego temporário. Era a única diversão das crianças na cidade, que nele assistiam a filmes piratas. Marisa tinha um da Barbie, Adriano, das Tartarugas Ninjas e do Menino Lobo. Levaram também o pagamento do mês de trabalho de Maria como doméstica na casa de outra mulher.
Maria lava e limpa dia após dia para ganhar 400 reais no final do mês. É a primeira vez em 62 anos de vida que ela trabalha na casa de uma outra. Não é simples para Maria, uma mulher do rio, que costumava passar os dias cuidando da própria casa expandida. Mas é o salário de Maria que tem botado na mesa a pouca comida que os mantém vivos. Os assaltantes levaram tudo. Quando encontrei a família, alguns dias depois, Maria tinha conseguido com a patroa um adiantamento de apenas 10 reais. Seguidas vezes ela faz a limpeza toda sem ter comido nada desde o dia anterior.
Aos 63 anos de vida ribeirinha, Otávio das Chagas não compreende a lógica da violência urbana a qual é agora submetido: “É porque eu sou uma pessoa que, graças a Deus, sempre fiz meus negócio direito. Eu não ando mexendo com ninguém. Eu achei que o cara não tinha coragem de entrar dentro de uma casa minha pra fazer uma coisa dessa. Eu não dou atenção pra certas coisa. Se uma pessoa chega na minha porta, e eu não conheço ela nem nada, eu trato ela bem. Eu ouvia falar, assim, mas eu mesmo não conhecia essas coisa, não. No mato eu ando só em qualquer lugar”. E Maria acrescenta: “A gente só via essas coisa na televisão”. E Otávio retoma: “Toda vida eu falo isso e todos que conhecem nós pode dizer: o que nós não temo coragem de fazer é pegar as coisa de ninguém. Graças a Deus que para isso todo mundo tem confiança em nós. Por que é que eu não tinha medo de ser assaltado? Porque eu não pego nada de ninguém. Eu pensei que faziam o mesmo comigo. Mas não é desse jeito”.
Edilardo, que passou o assalto com um revólver na cabeça, tem pesadelos recorrentes em que a arma é disparada pelo assaltante e ele morre. Parece ter menos do que os seus 24 anos no corpo, parece ter mais na tristeza dos olhos. “Aqui na rua eu não me sinto muita coisa, não”, diz. “Sem estudo eu sou pouco.” O último emprego que teve o lançou numa fronteira cruel. Para conseguir trabalhar, Edilardo cravou na alma os arames farpados da contradição. Assim como os irmãos, ele foi contratado por uma terceirizada da Norte Energia para fazer a “remoção” dos animais nas ilhas. No dia em que teve que expulsar os bichos da Ilha de Maria, a sua, ele chorou. Edilardo havia sido convertido de expulso em expulsador. De vítima em algoz. Na perversidade pragmática do trabalho, a vida violada viola. E os olhos de Edilardo ganharam uma dor nova:
“Tudo o que nós tinha feito a água tinha acabado. Planta acabou tudo. Tudo queimado. Nós passava lá e via tudo destruído. Era muito muito muito. É muito triste ver uma coisa daquela acabada assim. No primeiro dia que nós fomos pra lá não vou mentir. Chorei mesmo. Chorei de verdade. Comecemo a pegar bichinho de lá, e os macaco começaram a gritar demais. Não vou mentir, teve uns que morreu. Morreu porque ia pegar e caía na água. Cortava a árvore de motosserra, com eles nos galho, tinha muito que morria afogado. Os paus caía tudo em cima, afogava. Teve deles que a gente salvava, tinha muitos que morria. Era muita judiação. Preguiça também, muitas morria. Paca, queixada, cotia... Tinha bicho que tentava atravessar a nado, mas tava fraco, tava com fome. Não conseguia. Pra pegar, não vou mentir, a gente quase enforcava eles, porque com fome e medo, eles mordia. Se não pegasse assim, nós não conseguia botar na caixa de madeira pra entregar pros biólogo. Eles soltava os bicho lá do outro lado, mas acho que lá, fraco do jeito que tava, os bicho morria também. Chorei no primeiro dia. Eu ainda não tinha visto como tinha ficado. Depois que vi, chorei. Ver um negócio daquele jeito e saber que não volta mais de jeito nenhum fica muito difícil”.
Maria interrompe: “Nós passa lá na nossa ilha e só tem uns pedaço de pau no meio da água. Dá vontade de abraçar um pedaço de pau e ficar agarrada ali a vida toda”.
Edilardo conclui: “O que aconteceu com nós é tipo o mundo ter acabado. Assim, ter virado a página”.
Tão logo eu parto, no final da tarde, eles fecham a casa que não é casa. Trancam-se num calor que ultrapassa os 30 graus à noite. Logo depois, dois homens batem. Pedem um cigarro. Eles não fumam. Pedem água. Eles não dão. Dentro de casa, eles temem ser alvejados. “Do jeito que nós é unido, se mata um acaba a família”, diz Edilardo. A casa é cada vez menos casa, cada vez mais toca. Assim como os bichos eram acuados para a única parte da ilha ainda não devastada, com fome e com medo, para que se tornasse mais fácil capturá-los, também eles estão ali. Encurralados, só que “na rua”. Jogados num outro canto, onde fracos e com fome também não conseguem viver, assaltados pelos mais fortes e mais bem adaptados ao cotidiano de violência e precariedades de uma cidade em que o esgoto escorre a céu aberto.
Otávio das Chagas olha para as mãos e se envergonha: “Estão ficando fininhas”. No mundo que ele conhece e que o reconhece, homem de mãos finas é homem que não trabalha. Otávio se envergonha mais. Ele sofre porque “na rua” ninguém precisa do que ele sabe fazer, ninguém quer saber o que ele sabe. Está doente. Me mostra dois exames em que os indicadores revelam uma próstata bem alterada, mas não consegue médico para interpretá-los. Quando a dor é muita, ele compra uma caixa de 10 comprimidos de Finasterida, “pra ir passando”.
Quase todo dia ele caminha com suas dores e com sua fome por quase uma hora, debaixo do sol amazônico, para visitar Antonia Melo na organização Xingu Vivo Para Sempre. Antonia é a maior liderança popular da região. Para Otávio, ela é o único ponto de referência em território desconhecido e hostil. Antonia perdeu sua própria casa, destruída por Belo Monte numa sequência de cenas que lembram um terremoto. Mas, para Otávio das Chagas, Antonia é uma casa. Ele vai lá para ser visto, para saber que existe. Otávio se reconhece nos olhos de Antonia e então empreende o caminho de volta. Sempre que se afasta dela, parece ficar mais longe de si mesmo. Empreende sua viagem sem retorno com suas dores e com sua fome, mas um pouco menos partido.
Otávio das Chagas tentou, mas, como tem acontecido com tantos, não foi reconhecido como ribeirinho. Nem com direito a ser reassentado junto ao reservatório da usina. É a Norte Energia quem diz quem ele é, quem tantos são. Não a vida, não a história, não a memória, não o conhecimento produzido sobre o tema nas melhores universidades do Brasil. Mas o empreendedor. Mas quem pode dizer quem é aquele que é?
Otávio, o homem que parece encolher, resiste. Anuncia que voltará para o rio de qualquer modo porque viver é preciso. E ele só sabe viver se navegar. Nas águas do Xingu. “Eu não sei andar de carro, eu não sei andar de moto, eu não sei andar de bicicleta, não vou lhe mentir. Mas de canoa eu sou profissional, todo mundo me conhece como profissional do rio”. Como a ilha morreu afogada, Otávio promete se plantar numa beira do rio e ficar. Desta vez, usará as unhas para fincar na terra se for preciso. “Aqui, tudo é de acordo pra ir pro mato mais eu de novo”.
Otávio das Chagas está vivo porque ainda não desistiu de encontrar o caminho de casa.
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Casa é onde não tem fome. A história da família de ribeirinhos que, depois de expulsa por Belo Monte, nunca consegue chegar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU