12 Julho 2016
O que se obtém combinando cristãos em queda há anos e riqueza em crescimento? O Wi-Fi grátis nas igrejas protestantes e más ideias. Como Godspot.
As estatísticas sobre a difusão e a prática do Cristianismo na Alemanha deixam pouco espaço a dúvidas: é crise. Há anos. Nas semanas passadas a Igreja evangélica alemã declarava uma diminuição dos seus membros e também os últimos dados disponíveis da Conferência episcopal alemã, referentes a 2014-2015, confirmam a tendência. Se matrimônios e batismos estagnam, os fiéis estão diminuindo, as ordenações sacerdotais e a participação aos sacramentos, para não falar daquela à missa. Uma Igreja que o cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência episcopal alemã, define “em movimento”. Um movimento para baixo, que nem mesmo a presença de um nutrido número de imigrantes cristãos – 2,6 milhões dos 6,2 milhões de estrangeiros residentes na Alemanha (7,7 da proporção total) – parece conseguir inverter. As duas maiores Igrejas cristãs na Alemanha – a católica e a evangélica, que reúne 20 igrejas protestantes de diversificada denominação – em 2014 contavam respectivamente 23,9 milhões e 23 milhões de membros num total de 81,1 milhões de habitantes na Alemanha. Cifras em queda com respeito ao ano precedente e àqueles ainda anteriores, que não fazem ter boa esperança para o futuro.
O comentário é de Simone M. Varisco, historiador e escritor, publicado por Café Storia, 08-07-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Também em 2015, no entanto, a Igreja evangélica e a Igreja católica podem exibir dados muito positivos no front econômico. Há poucas semanas os porta-vozes das duas Igrejas confirmaram as indiscrições que apareceram na imprensa, as quais falam de entradas fiscais recordes, com mais de 11,5 bilhões de euros cobradas pelas duas Igrejas, não obstante a diminuição dos membros. Um incremento de aproximadamente 692 milhões de euros, semelhantes aos 6,4%%, referentes a 2014 (10,8 bilhões de euros). É o resultado da Kirchensteuer [imposto eclesial], a criticada taxa sobre as religiões, o sistema de financiamento das religiões na Alemanha, que no ano passado conduziu aos caixas da Igreja católica 6,1 bilhões de euros (+7,1% com respeito a 2014) e na evangélica 5,4 bilhões de euros (+5,7%). (10,8 bilhões de euros).
Como conciliar estes dados com a hemorragia de fiéis dos últimos anos? O sucesso econômico das Igrejas na Alemanha depende em grande parte do sucesso econômico que envolve o País inteiro, com positivas recaídas sobre os salários e os rendimentos dos cidadãos alemães. Com base no Kirchensteuer, os pertencentes às duas maiores Igrejas alemãs pagam, segundo o Länder de residência fiscal, 8 ou 9% do seu salário ou do rendimento complexivo como taxa para a Igreja, com acréscimos previstos para condições pessoas e familiares particulares. A falta de pagamento da taxa comporta o cancelamento do elenco e a cessação dos serviços religiosos, entre os quais os sacramentos. O Kirchensteuer constitui a principal fonte de manutenção para os colossais – e custosíssimos – aparatos das Igrejas.
Na inconstância das economias europeias e mundiais, os colossos eclesiásticos alemães correm o risco de pousar sobre pés de argila. Não admira, pois, que as Igrejas na Alemanha estejam à contínua busca de popularidade. Os dois Sínodos sobre a família evidenciaram como é próprio à Igreja católica alemã fazer-se portadora das instâncias de mudança na sociedade, tanto mais que “a maior parte dos católicos esperam, na Alemanha, uma maior compreensão da parte da Igreja” em tema de família, convivência em parceria, genitorialidade e sexualidade. “Casais, casais de esposos e famílias querem maior acompanhamento sem ver-se apontado contra o índice moral”, segundo quanto declarado pela Igreja católica alemã. E talvez terem-se livres os ditos por outros. O celular, por exemplo.
Deve ter nascido desta consideração, além do esforço para a renovação que caracteriza muitas Igrejas protestantes em vista do 500º aniversário da Reforma que ocorrerá no próximo ano, a ideia de Godspot (literalmente “ponto-Deus”), a oferta de Wi-Fi gratuito nos prédios de culto na Alemanha, por ora circunscrita a 220 igrejas evangélicas em torno a Berlim, mas que nas intenções será estendida a milhares de lugares de culto e instituições eclesiásticas alemãs até maio de 2017.
“As pessoas não são menos espirituais do que antes, mas o ponto da Reforma era que a Igreja deve evoluir continuamente”, declarou em Motherboard Christoph Heil, porta-voz do projeto.
“Precisamente como as pessoas tem prestado atenção aos campanários e escutado os sinos antes que existissem os relógios de pulso, queremos mostrar que as igrejas podem continuar a ser um lugar de agregação para a comunicação”.
Um modo como o outro para atrair novas pessoas em torno às igrejas, se não propriamente ao interior, a descarregar música e compartilhar fotos, se não propriamente a orar. Um modo também para suprir uma grave lacuna da rica e avançada Alemanha, atrasada no plano da internet pública.
Tudo culpa da Störenhaftung, a lei alemã que considera responsável quem oferece o hotspot Wi-Fi para os ilícitos cometidos em rede por quem o utiliza. Em outras palavras, se um usuário descarrega ilegalmente música ou filme, a ser acusado de pirataria é o fornecedor do acesso Wi-Fi público.
Precisamente esta lei poderia ser rapidamente amaciada e a Igreja evangélica pretende encontrar-se em primeira fila
Da Igreja, todavia, procuram corrigir o tiro. “Nem tudo o que a Igreja faz é para ganho pessoal”, declarou Fabian Kraetschmer, responsável pelos sistemas de informática da Igreja evangélica. “As igrejas sempre tem sido lugares que as pessoas podem ignora ou nas quais entrar para encontrar proteção do calor, desfrutar a arte, repousar. Desde sempre são percebidas de diversos modos. E assim será também com Godspot”.
Tudo cala, até agora, no front católico. Os dogmas da livre concorrência valerão também neste caso? Descobri-lo-emos dentro de alguns meses. Entrementes, se as esperanças da Igreja evangélica na Alemanha são repostas também no Wi-Fi gratuito, estamos ante uma Reforma reduzida à lamparina. Mas existirá uma app também para isto.
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Godspot: Wi-Fi gratuito para uma Igreja reduzida à lamparina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU