28 Junho 2016
Em entrevista exclusiva à Agência Pública, publicada nesta segunda (27), a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) disse que não há consenso em relação à proposta de novas eleições e que, por isso, não é correto afirmar que ela está comprometida com a ideia.
Segundo Dilma, o assunto "está em discussão". "É uma das propostas colocadas na mesa. Agora, há de todo mundo uma opção por eleição direta, né? Sempre", disparou.
A informação é publicada por Jornal GGN, 27-06-2016.
Questionada sobre como seria, então, seu retorno à presidência no caso de o Senado rejeitar o impeachment, Dilma disse que fará "basicamente um governo de transição. Porque é um governo que vai ter dois anos, e o que nós temos de garantir neste momento é a qualidade da democracia no Brasil, o que vai ocorrer em 2018." Para ela, cabe a discussão de uma reforma política no Brasil, sem dúvidas. Nós tentamos isso depois de 2013 e perdemos fragorosamente", observou.
Na entrevista, Dilma ainda disse que é impossível voltar ao governo e "recompor" com partidos políticos "nos termos anteriores".
Sabatinada por um grupo de repórteres mulheres da Pública, Dilma também falou sobre feminismo. Na ocasião, foi instada a dar sua opinião pessoal sobre o aborto - coisa que evita fazer sob a alegação de que presidente da República não pode falar sobre determinados assuntos.
Reproduzimos, abaixo, o trecho em que ela é pressionada e responde: "Não me tiraram não, eu continuo sendo presidenta."
Eis um trecho da entrevista.
Presidente, vou mudar um pouquinho de assunto. Em suas campanhas, a senhora visitou vários templos evangélicos. Mas a bancada evangélica foi a que mais barrou projetos, inclusive do próprio PT, como a cartilha anti-homofobia, a discussão de gênero nas escolas, se opôs à lei que criminalizaria a homofobia e aos avanços das políticas relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Durante o processo do impeachment, esses deputados da bancada evangélica e alguns pastores televisivos foram dos que mais atacaram a senhora de forma mais violenta. A senhora acha que valeu a pena fazer essa aliança?
Acho fundamental que se abra essa discussão com eles. Você não vire as costas para 30% do país. Não faça isso. Nós temos que discutir com os evangélicos, falar com eles, porque eu também não acredito na uniformidade deles.
Nem todos são liderados pelo Cunha…
Não, e não é isso. Eu acho que nem todos têm uma visão tão fechada.
Mas a bancada evangélica sim…
Isso é outra coisa. Isso é a representação deles. Agora, pelo fato de a representação de segmentos do Brasil ser ruim, eu não vou deixar de falar com eles.
Sim, mas você não deixou de falar com eles. Você fez uma aliança política com eles.
Eu não fiz, não. Eu não fiz aliança nenhuma com eles. Aliança, como assim?
De te apoiarem.
Me apoiaram, mas nunca discutiram o que eu podia falar e o que eu não podia falar. Agora, eu acho que é fundamental que você converse com os evangélicos. Fundamental. No Rio de Janeiro, isso é decisivo, por exemplo. Vou falar isso porque eu acho isso grave: não acho que é possível a gente demonizar uma religião. Não é correto.
Mas em termos de políticas públicas, projetos de lei…
Pois é, minha querida, mas eu vou continuar indo em templo evangélico sempre que me convidarem.
Mas a aliança com os evangélicos não barra determinados avanços?
Não. Depende do que você, para fazer aliança com os evangélicos, aceita.
Eu vou aproveitar esse gancho e…
Agora veja bem, querida, presidente da República não interfere em algumas coisas. Vou te antecipar, vou falar de aborto. O que nós podemos fazer no caso de aborto? Vou falar de aborto. Aborto legal nesse país está na lei. A lei é a seguinte, a lei é clara, você pode ter aborto em três casos: quando há estupro contra a mulher, quando a mulher corre risco de vida no parto e feto anencéfalo. São três casos. O que vocês estão perguntando é o seguinte: por que eu não criei mais três? O cumprimento desses três nós colocamos no SUS.
Não, é se a senhora é a favor da descriminalização do aborto.
Eu pessoalmente posso ser a favor de tudo. Como presidenta, eu não interfiro nisso.
Mas a senhora pessoalmente é a favor?
Não vou te responder isso. O dia em que eu sair da Presidência, eu te respondo. E eles não me tiraram, não. Eu continuo sendo presidenta. Assim como eu não posso declinar aqui que eu sou A, B, C ou D em relação a qualquer religião. Eu não posso fazer isso.
Mas a senhora não acha que seria bom…
Para vocês pode ser ótimo. Para o exercício da Presidência, é péssimo. Querida, a hora que eu aceitar isso, eu aceito que aquela mulher que entrou lá na Secretaria [Fátima Pelaes, atual titular da Secretaria das Mulheres] chegue e fale: sou contra ter direito ao aborto por estupro. A gente que é servidor público cumpre a lei. Se a lei é ruim, nós temos de mudar a lei. Servidor público faz isso, não fica falando “eu acho isso” ou “eu acho aquilo”. Assim como eu fui contra o que ela falou, porque ela não pode falar aquilo. Não é algo que ela possa discutir. A lei é clara.
Mas não é uma questão de saúde pública, já que tem mais de 800 mil abortos por ano?
A saúde pública garantida no governo são esses três pontos. Se eu estiver fora do governo e for feminista, eu luto por outras coisas, viu? Agora, eu fui feminista, tá?
No passado, presidente?
Eu fui da Ação da Mulher Trabalhista, querida.
Do PDT?
Não, mas nós éramos a favor de cada coisa do arco da velha… [risos]
Mas não é mais feminista?
Eu fui feminista. Hoje eu sou presidenta.
Mas a senhora diria “eu fui de esquerda”?
Eu não entro nesse tipo de questão nem que a vaca tussa. Não tirei direitos dos trabalhadores, não tirei férias, não tirei nada, querida.
Agora, eu não faço a política. A de saúde pública é garantir que o SUS, que é o nosso Sistema Único de Saúde, cumpra o que não cumpria. E até hoje tem resistência. Ou seja, não vamos achar aqui que é um passeio cumprir os três itens [do aborto legal]. Vocês não têm ideia.
Leia a entrevista na íntegra clicando aqui.
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Dilma nega compromisso com novas eleições em entrevista à Agência Pública - Instituto Humanitas Unisinos - IHU