24 Junho 2016
O ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, recebeu na última terça-feira (21) uma visita do ex-governador do Ceará e pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, que cumpriu agenda política em Porto Alegre e São Borja no início da semana. Tarso negou que um dos temas da conversa tenha sido a composição de uma chapa para as eleições presidenciais de 2018. “Falar, neste momento, numa chapa Lula-Ciro, ou vice-versa, Ciro-Tarso, ou vice-versa, ou qualquer outra, é totalmente fora da realidade. Aliás, na minha opinião, é uma demonstração de que esta pessoa que, neste momento, fala em chapa, está totalmente fora da realidade e não compreendeu a gravidade da situação que estamos vivendo”, disse o ex-governador e ex-ministro da Justiça.
A reportagem é de Marco Weissheimer, publicada por Sul21, 23-06-2016.
Tarso Genro afirmou que, neste momento, está se dedicando a “trabalhar, fora de qualquer holofote, por uma nova frente política, sem projetar qualquer questão de natureza eleitoral”. “Estou fazendo isso”, acrescentou, “sem contrariar qualquer normativa do PT, mas de forma paralela a sua direção”. “Acho, hoje, que é mais importante fazer um trabalho que se reporte ao conjunto da esquerda e ao centro democrático e progressista, sem desdenhar do PT, do que tentar adiantar uma agenda no PT, para a qual ele não se mostrou, durante o Governo Dilma, preparado para enfrentá-la”, assinalou.
Pressupostos para nova frente política
O ex-governador gaúcho defendeu ainda que a nova frente política que está sendo debatida, “não pode partir do pressuposto, em relação a 2018, ou mesmo antes, que o PT deva estar necessariamente na cabeça de chapa, pois esta é uma visão hegemonista que, por si só, desmonta o conceito de Frente e submete os eventuais aliados a uma posição já fechada, de um Partido”.
Para Tarso Genro, é natural que cada partido tenha os seus nomes e suas pretensões, mas “isso deve ser posto na mesa no momento adequado, para verificar inclusive, qual o melhor nome não só em termos eleitorais, mas também o melhor para assegurar o cumprimento de um programa de Governo, que nos tire da crise e enfrente o rentismo, numa fase extremamente agressiva do capital financeiro, em escala global”.
Tarso se disse muito satisfeito com a visita de Ciro Gomes, definindo-o como um grande quadro político do país. Destacou que trabalhou junto com Ciro no primeiro Governo Lula e lembrou algumas ações conjuntas que tiveram. “Ele deu uma excelente colaboração para o meu trabalho na primeira fase do Conselhão, principalmente no que refere à implementação do projeto do entorno da Bacia de Furnas, que fez desencadear uma série de obras de saneamento e habitação na região”. Além disso, observou que sempre tiveram um ponto de vista muito aproximado na crítica ao modelo rentista, defendendo que só é possível sair dele com crescimento econômico, industrialização com sustentabilidade ambiental e geração de renda, não com recessão e desemprego. “Ciro também me ajudou muito na pressão sobre o Governo da Presidenta Dilma, para que esta autorizasse a votação do projeto de reestruturação da dívida pública, depois regulamentado de maneira a anular, parcialmente, os seus efeitos, como está se vendo inclusive dentro do governo interino de Temer”, disse ainda Tarso.
“Não falamos em sucessão”
“Não falamos em sucessão em nível federal, mas falamos sobre bloquear o impedimento da presidenta e começar a trabalhar por uma nova frente política para o futuro, que envolva partidos, frações de partidos, personalidades, instituições da sociedade civil, para pensar numa coalizão novo tipo, capaz de promover uma reforma política verdadeira, governar com um programa ousado de recuperação econômica e social do país”, relatou o ex-ministro da Justiça. Essa frente, assegurou, teria um caráter programático, sem depender do fisiologismo e do regionalismo oligárquico para governar. “Com um Congresso como este, fruto de um sistema político superado e arcaico, ninguém consegue governar com seriedade e responsabilidade pública”.
Tarso Genro e Ciro Gomes também conversaram sobre o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e seus desdobramentos. Para Tarso, “a direita liberal rentista não promoveu o Golpe, unida ao oligopólio da mídia, para combater a corrupção”. “O combate à corrupção foi um instrumento de sedução política, usado meticulosamente para aprofundar o ajuste, sob comando da parte mais denunciada e investigada, que estava no Governo Dilma, em conjunto com a parte mais investigada e denunciada da oposição liberal”.
Na avaliação do ex-governador, mesmo com desvirtuamentos políticos, processos judiciais como a Lava Jato poderão ter efeitos positivos no país, no futuro desde que seja feita uma reforma política e se extinga de maneira definitiva os financiamentos empresariais das campanhas e dos partidos. “É por aí que se atacam as fontes de construção e reprodução dos delitos, que estamos vendo hoje. Caso isso não ocorra, a corrupção vai continuar, de forma ainda mais complexa e sofisticada do que agora”, concluiu.
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‘Estou me dedicando a trabalhar por uma nova frente política’, diz Tarso Genro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU