24 Junho 2016
Depois de mirar o PMDB por quase um mês com a queda de três ministros e a revelação de um suposto pacto para acabar com a Operação Lava Jato, nova ofensiva da Polícia Federal devolveu o peso da crise política para o colo do PT nesta quinta-feira. A avaliação foi amplamente divulgada, e comemorada, por assessores do Governo interino de Michel Temer (PMDB) logo após a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo na manhã desta quinta-feira em Brasília. Nos corredores do Senado, a análise feita tanto por parlamentares governistas quanto por opositores à gestão peemedebista é de que a defesa da presidenta Dilma Rousseff (PT) na Comissão do Impeachment do Senado foi severamente atingida.
A reportagem é de Afonso Benites, publicada por El País, 24-06-2016.
Ao prender Paulo Bernardo, um histórico petista do Paraná que foi deputado federal, ministro do Planejamento de Luiz Inácio Lula da Silva e das Comunicações de Rousseff, os investigadores se aproximaram da esposa dele, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). A parlamentar é uma das principais defensoras da presidenta na Comissão do Impeachment e, assim como o marido, já foi denunciada pela Operação Lava Jato em uma outra ação sob a suspeita de receber 1 milhão de reais em propinas relacionadas aos desvios de recursos da Petrobras.
“A operação de hoje não entrará diretamente no julgamento da presidente na Comissão do Impeachment. Mas, sem dúvida, reforça as crenças e as convicções do conjunto da obra que nos levou à maior crise da nossa história”, afirmou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Os aliados do PT por sua vez, reclamaram do momento da prisão de Bernardo: um dia após a divulgação de um vídeo do ano de 2009 em que o senador tucano Sergio Guerra (morto em 2014) pede propina para abafar a CPI da Petrobras e também logo depois da morte de um suposto operador de doação ilegal para a campanha presidencial do PSB.
“O Brasil vive um momento muito delicado. O objetivo deles [adversários de Rousseff] é tentar atrapalhar, é mascarar as outras denúncias, as que envolvem, principalmente, membros do Governo provisório, interino, para que eles consigam acelerar o máximo possível o processo de impedimento definitivo da presidenta”, afirmou a senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM).
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), outro membro da tropa de choque da presidenta afastada que também é investigado pela Lava Jato, seguiu na mesma linha. “A gente estranhou o timing dessa prisão preventiva. A investigação tem de acontecer. O que criticamos é o espetáculo das prisões preventivas. Não havia a necessidade de prender quem estava colaborando com a investigação.”
Os holofotes de volta ao PT e as imagens de policiais diante da sede do partido em São Paulo coroam uma semana de relativo alívio para o frágil Governo interino. Sem novos ministros no foco de escândalo de corrupção, Temer comemorou o acordo com governadores que congelou por seis meses e suavizou por quase dois anos o pagamento das dívidas dos Estados com a União. Mesmo que economistas torçam o nariz para a benesse inclusive aos administradores perdulários, o acerto dá mais conforto ao Planalto para tentar negociar os votos que sejam suficientes para destituir de vez a presidenta afastada. A votação, em meados de agosto, é no plenário do Senado, instância onde a ascendência dos governadores é direta.
Servidores lesados
Bernardo foi detido sob a suspeita de ter recebido ao menos 7 milhões de reais de um intrincado esquema de desvio de recursos de créditos consignados para funcionários públicos intermediado pela empresa Consist, firma esta que assinou um acordo com o Ministério do Planejamento durante a gestão do petista. Por meio de seus advogados, ele nega os crimes.
Outro fato que, na avaliação da classe política, complicou a defesa de Rousseff foi que um mais um petista próximo a ela também é alvo da investigação, o ex-ministro da Previdência Social e da Aviação Civil, Carlos Gabas. Considerado um dos poucos filiados ao PT que é mais fiel à presidenta do que a Lula, Gabas recebeu uma intimação para depor sobre os desvios de recursos e teve alguns de seus bens apreendidos preventivamente. Entre eles, a famosa motocicleta Harley Davidson que, em 2013, levou a presidenta para dar uma volta pelas ruas de Brasília sem que a segurança dela soubesse.
Apesar de parlamentares petistas dizerem que a prisão de Bernardo os surpreendeu, o próprio ex-ministro já a esperava desde abril do ano passado. O primeiro fato que o deixou em alerta foi a detenção do ex-deputado federal e ex-secretário de Comunicação do PT André Vargas, de quem era muito próximo no Paraná. O temor só aumentou quando o advogado e ex-vereador de Americana pelo PT, Alexandre Romano, foi detido, em agosto de 2015, como sendo um lobista que atuava para fraudar contratos com o Ministério do Planejamento e desviar recursos para a tesouraria do PT.
Romano, que assinou um termo de colaboração premiada para ter sua pena atenuada, foi a peça-chave da investigação que colocou Bernardo no centro dos negócios irregulares, de acordo com a Polícia Federal. Assessores de Rousseff afirmaram que ela cogitou a nomeação de seu ex-ministro para um cargo na hidrelétrica estatal Itaipu em agosto do ano passado, mas seu nome foi descartado depois da prisão do ex-vereador.
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PF devolve crise ao colo do PT e coroa ‘trégua’ para Governo Temer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU