24 Mai 2016
Bergoglio convidou Ahmad Muhammad al-Tayyib, que dirige a principal universidade do Islã sunita. Em 2006, a citação pronunciada por Ratzinger sobre Maomé tinha congelado as relações com a universidade egípcia. O jesuíta e islamólogo padre Samir afirma: "Um passo para abordar um dos temas-chave da crise do mundo muçulmano".
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 23-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco abraçou o Grande Imã da Universidade de Al-Azhar, Ahmad Muhammad al-Tayyib, a principal universidade do Islã sunita, considerado uma espécie de Vaticano dos muçulmanos.
Um encontro que representa um novo grande sucesso de Bergoglio no diálogo inter-religioso e que põe fim ao incidente causado, em 2006, pela citação de Maomé proferida por Bento XVI na Universidade de Regensburg, que tinha congelado as relações entre a al-Azhar e a Santa Sé.
O pontífice, de fato, tinha citado um diálogo entre Manuel II Paleólogo e um persa culto, em que se afirmava que Maomé introduziu apenas "coisas más e desumanas, como a sua diretriz de difundir a fé por meio da espada".
A conversa privada durou 25 minutos. "O nosso encontro é a mensagem", disse o papa, acolhendo no Vaticano o Grande Imã, ao qual presenteou uma cópia da encíclica Laudato si', junto com o medalhão da paz.
Em fevereiro passado, Dom Miguel Ángel Ayuso Guixot, secretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, acompanhado pelo núncio apostólico no Egito, o arcebispo Bruno Musarò, tinha feito uma visita a al-Azhar, a prestigiosa instituição muçulmana sunita, para preparar o encontro com o papa.
A delegação tinha sido recebida por Abbas Shuman, vice do Grande Imã, e, de acordo com o que foi relatado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, tudo tinha ocorrido "em um clima de grande cordialidade" e havia sido discutida a "necessidade de uma retomada do diálogo entre as duas instituições, como desejado pelo Papa Francisco e por várias pessoas de boa vontade". O entendimento alcançado era de "prosseguir e intensificar tal diálogo pelo bem da humanidade".
Para o padre Samir Khalil Samir, jesuíta egípcio, professor de islamologia em Beirute e no Pontifício Instituto Oriental de Roma, "a ideia de convidar ao Vaticano o Grande Imã de Al-Azhar foi uma escolha muito boa, feita no momento certo".
"Durante o pontificado de Bento XVI – explica o padre Samir – as relações eram delicadas, já que o conflito tinha nascido quando foram tomadas como pretexto algumas das suas palavras, que, na realidade, não eram dirigidas contra ninguém, mas defendiam a liberdade religiosa. O convite é uma forma de retomar o diálogo com o Islã sunita, porque a al-Azhar, como se sabe, é a universidade que forma o maior número de imãs sunitas, milhares por ano, e é a universidade muçulmana mais famosa, existente há mais de mil anos."
Para o islamólogo, "passo dado pelo Vaticano retoma o contato com um dos maiores centros de formação intelectual do Islã e, portanto, aborda um dos temas-chave da crise do mundo muçulmano. O mundo islâmico – explica ainda o padre Samir – está vivendo hoje, talvez, a mais forte crise jamais vivida nas últimas décadas. Um verdadeiro 'choque interno', provocado pela ideologia propagada pelo chamado Estado Islâmico, IS ou Daesh. Uma ideologia, a do Isis, inaudita, inaceitável e que deturpa o próprio mundo islâmico. O pretexto de recriar os califados não tem qualquer justificação, e não é possível entender por que ele chama em causa o Ocidente. Precisamente por isso, é muito útil, hoje, apoiar o mundo muçulmano. Não adianta combatê-lo, mas, ao contrário, é preciso estar perto dele e lhe oferecer a própria experiência, já que, na Igreja Católica, experimentamos problemas semelhantes".
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Papa abraça o imã de al-Azhar: "O nosso encontro é a mensagem" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU