19 Mai 2016
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) não acredita que a presidente afastada Dilma Rousseff será bem-sucedida na tentativa de reverter o processo de impeachment.
O ex-governador do Paraná - que, mesmo sendo do partido do presidente interino Michel Temer, vê o processo de impeachment como "golpe" - diz que Dilma não seria capaz de costurar as alianças necessárias, propondo mudanças radicais em suas políticas, "porque ela é muito teimosa".
A entrevista é de Mamede Filho, publicada por BBC Brasil, 19-05-2016.
Requião refuta ainda qualquer tipo de pressão interna em seu partido por ser contrário ao impeachment e ao governo interino de seu correligionário Michel Temer. "O PMDB não é o partido nazista", afirma.
O senador está em Lisboa para participar da cúpula da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-América (EuroLat), que reúne cerca de 120 parlamentares de países dos dois lados do Atlântico.
Ele faz parte de um grupo de senadores brasileiros contrários ao impeachment que quer buscar apoio da comunidade internacional.
Como copresidente do componente latino-americano do organismo, Requião também fez um discurso na sessão de abertura da cúpula, no qual fez duras críticas ao governo interino.
Eis a entrevista.
A participação em fóruns no exterior e o apoio da comunidade internacional podem reverter o processo de impeachment?
Acredito que o impeachment só seria revertido pela própria Dilma, criando um a aliança para formar um governo de coalizão nacional, uma mudança radical da política econômica, a busca pelo apoio popular, mas isso dificilmente ela fará, porque é muito teimosa. A Dilma vai seguir a mesma linha em que estava governando, que é uma linha inaceitável.
Por que o senhor considera inaceitável?
Porque, na verdade, ela começou a fazer o que o Temer quer fazer agora. Privatizações, a visão neoliberal da economia, a globalização e destruição de empresas públicas, cortes na saúde e na educação, cortes na Previdência, precarização das leis de trabalho… enfim, é a reação do capital vadio contra o Estado social.
Uma incapacidade do governo Temer poderia salvar o mandato da Dilma?
Dificilmente salvará o mandato dela, mas pode levar a uma mudança da orientação da política econômica do Brasil, com Dilma ou sem Dilma.
O senhor esperava, neste encontro em Lisboa, uma resposta dos países latino-americanos ao impeachment?
O componente latino-americano do EuroLat mostrou uma coerência e uma unidade impressionante em relação à democracia e rejeitou a interinidade deste atual governo brasileiro. Isso é muito importante. (...)Envia uma mensagem para a discussão da democracia no mundo, é um reflexo muito positivo na história política recente, no período que estamos vivendo.
O senhor defende uma nova eleição presidencial em outubro. É possível realizar, sem muitos danos, um pleito tão importante em tão pouco tempo?
A eleição elimina os danos dessa transição. A Dilma perdeu o seu próprio apoio porque governou com a política econômica do adversário. Perdeu sua base e não ganhou outra. E ainda por cima se relacionou mal com o Congresso nacional. O Temer foi eleito na mesma chapa da Dilma, ou seja, com a mesma proposta política desenvolvimentista, nacionalista.
Mas ele tenta agora uma virada absurda para uma visão neoliberal, um programa muito parecido com o programa que destruiu a Grécia e sem a homologação da opinião pública. O Temer fica em uma dificuldade muito semelhante à da Dilma, que é a falta de apoio da sociedade civil, da população brasileira. E ele busca esse apoio da forma tradicional, dividindo cargos no Congresso nacional, que tem uma representatividade altamente questionável hoje em função do sistema eleitoral.
O senhor defende, então, eleições gerais e não apenas à Presidência?
O importante é começar pela eleição presidencial, mas depois temos de focar em mudar o sistema eleitoral. Já começamos a mudar. O Brasil já aboliu o financiamento de pessoas jurídicas de campanha eleitoral, esse é o primeiro passo e é muito importante.
Quais seriam os passos seguintes?
É preciso acabar com essa multiplicidade absurda de partidos, que na verdade são legendas negociais, que entram no jogo político para negociar apoio e posições no Parlamento e fora dele. A reforma política é essa, mas a reforma fundamental é econômica.
O posicionamento do senhor, contrário ao impeachment, tem causado alguma forma de pressão dentro do PMDB?
O PMDB não é o partido nazista, é um partido que vive da diversidade de opiniões. Na verdade, a minha opinião é a opinião histórica do partido, os outros é que estão mudando.
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'Por teimosia, Dilma não conseguirá reverter impeachment', diz Requião - Instituto Humanitas Unisinos - IHU