16 Mai 2016
Para compreender o porte da revolução que o Papa Francisco está prestes a fazer no fronte feminino, é preciso dar alguns passos atrás. Era o dia 22 de outubro de 1963. Naquele dia, 15 mil soldados estavam voando dos EUA para a Alemanha, a Cortina de Ferro dividia a Europa, as notícias reportavam a retomada das negociações em Genebra sobre o Alto Ádige. No Vaticano, com o início do Concílio, o cardeal belga Suenens se fazia ouvir na sala por causa da falta de mulheres: "Onde está a outra metade do gênero humano?".
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 13-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em janeiro de 1964, foram apresentadas ao Papa Paulo VI três petições para a nomeação de mulheres na qualidade de auditoras. É desde então que o tema do diaconato emerge, mas depois sempre retrocede, como se fosse uma bola de pingue-pongue.
A ala mais conservadora sempre fez afundar toda proposta. Também desta vez a hipótese da comissão de estudo tem origem a partir de uma proposta do Norte da Europa. Um pouco de tempo atrás, o cardeal alemão Kasper sugeriu ao papa que instituísse uma espécie de "diaconisa" paroquial. Explicando que, hoje, muitas mulheres já desempenham funções semelhantes, sem muita publicidade, especialmente em zonas de missão, onde a presença de sacerdotes é escassa, porque as vocações estão diminuindo.
A ideia, explicava Kasper, se reconectaria a uma antiga tradição da Igreja, em vigor nos séculos III e IV. Logo depois da era apostólica, a Igreja conheceu as primeiras diaconisas. Em uma passagem da Primeira Carta a Timóteo, lê-se que "os diáconos igualmente devem ser dignos de respeito, homens de palavra, não inclinados à bebida, nem ávidos de lucros vergonhosos. Conservem o mistério da fé com a consciência limpa. (…) Também as mulheres devem ser dignas de respeito, não maldizentes, ajuizadas, fiéis em todas as coisas. Que os diáconos sejam esposos de uma única mulher, dirigindo bem seus filhos e sua própria casa" (3, 8-12).
De acordo com Kasper, a palavra "diácono" é usada aqui no seu sentido técnico. Também parece evidente que as mulheres em questão não só são claramente distinguidas das esposas do diácono, mas também são descritas em paralelo. Por isso, devem ser entendidas como diaconisas.
Se, por um lado, a questão de mulheres diáconos é um elemento importante do ponto de vista ecumênico, de proximidade às Igrejas reformadas, por outro, é vivida na Cúria como perigo em potencial. Nessa quinta-feira, 12, já havia alguns que comentavam: "Estamos nos protestantizando".
Em suma, o fato de o caminho ser longo é demonstrado pelas dificuldades para outros reconhecimentos femininos. Por exemplo, somente depois do Concílio é que foi possível para Montini nomear Catarina de Sena e Teresa d'Ávila como doutoras da Igreja. Uma vez aberto o caminho, João Paulo II nomeou Santa Teresinha, e, em 2012, Bento XVI nomeou Hildegard de Bingen.
O cardeal Martini também defendia a questão feminina, defendendo que o tema da presença da mulher na Igreja devia ser abordado de modo sistêmico, mediante um momento colegial de todos os bispos às vésperas do novo milênio. Agora, o Papa Francisco vai tentar.
Neste momento, o único ministério que é concedido às mulheres é o de ministra extraordinária da eucaristia, embora sejam cada vez mais as freiras que administram as paróquias.
Até mesmo a releitura feminina da Bíblia por parte de tantos teólogos e teólogas reescreve uma hermenêutica nova, do lado das mulheres. No Antigo Testamento, há figuras muito belas: Sara, Rebeca, Lia, Hagar, Ruth, Míriam.
O mesmo acontece no Novo Testamento, com Maria, Maria de Betânia, Maria de Magdala, a Adúltera, a Hemorroíssa, a Samaritana. O próprio Cristo, depois da Ressurreição, confia a duas mulheres o evento dos eventos. Uma pena que até agora as lideranças da Igreja fizeram ouvidos surdos.
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Diaconato feminino? "Assim vamos virar protestantes" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU