02 Mai 2016
Um patrimônio imobiliário muito grande, composto por quase 300 edifícios de valor, apartamentos, prédios, lojas, garagens. Um patrimônio de qualidade, que foi se acumulando lentamente ao longo dos séculos, graças às heranças de generosos benfeitores, convencidos de ajudar os pobres e a Igreja. Uma pena que, em vez disso – sem o conhecimento do Papa Francisco –, a gestão dessa considerável herança seja descuidada, aproximativa e confusa, a ponto de estar em um passivo de 700 mil euros.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 29-04-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há mais. Dos quase 300 apartamentos, muitos dos quais estão em ruas muito centrais, cerca de 80 não são utilizados por ninguém, quase abandonados, não arrendados. Na prática, vagos. Dos apartamentos ocupados, no entanto, uma boa porcentagem é constituída por inquilinos inadimplentes que não pagam um centavo há anos.
Na prática, removidos todos os impostos aplicáveis na Itália (em um total de mais de 800 mil euros), o tesouro imobiliário da Basílica de São Pedro não só não rende nada ao Vaticano, mas não é sequer disponibilizado para aqueles que dele precisam. Assim, enquanto o Papa Bergoglio encoraja energicamente as paróquias e as ordens religiosas a fazerem mais para dar uma mão aos refugiados e aos sem-teto, pondo à disposição algum apartamento vazio, existe uma fatia do patrimônio do outro lado do Rio Tibre que continua escapando de todo tipo de controle.
Em torno dessa história feia, registra-se o mais estrito sigilo, um silêncio quase total, provavelmente para que não chegue nada aos ouvidos do pontífice. Quem sabe... Como se a velha maneira de gerir as coisas, mais propensa a favorecer as facções familiares e não a adotar critérios transparentes e objetivos, custasse a se desintegrar e a dar espaço para uma gestão mais compartilhada e transparente.
Mas quem administra o patrimônio de São Pedro? A partir dos papéis, sabe-se que, por estatuto, cabe à APSA, a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, um órgão que funciona um pouco como banco central, embora um quirógrafo de João Paulo II que remonta ao fim dos anos 1990, forneça às quatro basílicas patriarcais (Santa Maria Maior, São João, São Paulo e São Pedro) a faculdade de examinar cada ato extraordinário que diga respeito aos próprios ativos (enormes para cada uma dessas realidades).
Isso para impedir a ocorrência de situações desarmônicas ou discricionárias. Recentemente, o grande caso da Basílica de São Pedro, com o seu incrível resultado administrativo negativo, esteve na origem de um duro posicionamento do cardeal Comastri e do camerlengo canônico de São Pedro, com mais de 90 anos. Ambos se perguntaram como foi possível um andamento tão insatisfatório. Ninguém quer dizê-lo abertamente, mas, na origem desse descontentamento, permanece a suspeita de uma condução ao menos "opaca".
O dossiê de São Pedro está destinado a acabar sobre a mesa do cardeal Pell e do superdicastério de economia. Em todo o caso, a história se soma à da Basílica de Santa Maria Maggiore. Dois anos atrás, o papa foi forçado a enviar inspetores justamente para limitar os danos. Na época, os problemas tinham sido causados por um ecônomo polonês condenados pelos tribunais vaticano de forma definitiva (embora nunca tenha ido para a cadeia), Mons. Bronislav Morawiec.
O sacerdote subtraiu 230 mil euros dos cofres de Santa Maria Maior, depois de uma série de operações imobiliárias imprudentes. Em 2009, ele comprou um edifício na Via dell'Olmata, não muito longe da basílica, inventando uma intermediação fictícia para embolsar a compensação extra de 210 mil euros. Aos juízes, ele disse que o investimento tinha sido conduzido a bom termo graças à consultoria da Integrate Trade Consulting, uma empresa fictícia com sede em Zurique.
As reformas, enquanto isso, seguem em frente apesar dos problemas. O papa está determinado a levar a termo o mandato que lhe foi confiado pelos seus eleitores: transparência, limpeza, boa uso dos recursos, controles.
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Escândalo imobiliário no Vaticano: um furo de 700 mil euros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU