01 Abril 2016
Os discursos das manifestações refletiram o novo quadro, com o rompimento do Planalto com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que herdará o Planalto em caso de impeachment.
“Não votei na Dilma, mas ela deve ficar. Se o Governo dela não está bom, que resolvam isso em 2018", disse a dona de casa Luiza Borges, na Praça da Sé, em São Paulo. Por ali também estava um grupo de cinco homens, todos por volta de cinquenta anos, que tirava uma selfie. “Preferia não ter que voltar aqui para defender a democracia de novo”, disse um deles, em referência à imensa manifestação no mesmo cenário que, em 1984, pediu eleições diretas no penúltimo ano da ditadura. Trinta e um anos depois, milhares voltaram para dizer "não vai ter golpe", numa mobilização que coincidiu com o aniversário da tomada do poder pelos militares em 1964. A data e a praça do centro - e não a usual avenida Paulista - buscavam exatamente esse simbolismo: reforçar a mensagem de defesa da presidenta Dilma Rousseff de que o processo de impeachment que tramita na Câmara contra ela é legalmente frágil e, portanto, um "golpe" contra a democracia.
A reportagem é de Marina Rossi e Afonso Benites, publicada por El País, em 01-04-2016.
De acordo com o Datafolha, 40.000 estiveram no protesto em São Paulo, enquanto os organizadores estimaram em 60.0000 e a Polícia Militar, em 18.000. Além de São Paulo, todos os Estados e o Distrito Federal também assistiram a manifestações contra o impeachment, apenas duas semanas depois de grandes marchas tomarem as cidades pelo mesmo motivo, convocadas por movimentos sociais e sindicatos. De acordo com um levantamento realizado pelo portal G1, 149.000 pessoas saíram às ruas no Brasil em 75 cidades, segundo estimativas policiais. Há 15 dias foram 275.000 pessoas em 54 cidades, segundo as mesmas fontes.
Enquanto as marchas ainda se desenrolavam, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu a mobilização em vídeo distribuído pelo Instituto Lula. De branco, ele pediu constância na resistência ao “golpe”. Apesar do menor fôlego, os atos pró-Dilma Rousseff foram um alento em uma semana crítica para o Governo, quando a presidenta viu seu principal aliado, o PMDB, abandonar a gestão. A quinta-feira relembrou a seus opositores que o Planalto e o PT, se imensamente menos populares do que o impeachment apoiado por mais de 60% da população, ainda têm alguma musculatura de rua.
Michel Temer e Chico Buarque
Os discursos das manifestações refletiram o novo quadro, com o rompimento do Planalto com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que herdará o Planalto em caso de impeachment. Em Brasília, 50.000 pessoas, segundo a Polícia Militar, e 200.000, conforme os organizadores, ouviram oradores inflamados atacar Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Sobraram críticas também para o juiz Sergio Moro, da Lava Jato. "Os golpistas querem instalar a ditadura do capital e da toga", afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas.
Na capital brasileira, aglomeravam-se representantes de centrais sindicais, movimentos sociais e partidos políticos pelo trajeto entre o estádio Mané Garrincha e o Congresso Nacional, um percurso de quase cinco quilômetros. Em frente ao Congresso, falaram deputados, senadores, atores, presidentes de sindicatos, dirigentes de ONGs, o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, e um ex- ministro de Lula, Samuel Pinheiro Guimarães.
No mar vermelho da militância organizada, havia os não tinham nenhuma filiação partidária ou atuação política: estudantes, microempresários e servidores públicos que discordam do Governo Dilma Rousseff, mas acreditam que o impeachment como está proposto é ilegal. "Sei que a Dilma fez um monte de barbeiragem, mas não posso ser a favor de um golpe. Prefiro criticá-la do que apoiar sua queda", afirmou a funcionária pública Sandra Almeida em Brasília.
No Rio, a mensagem em defesa contra o impeachment acima das simpatias pelo PT foi reforçada pelo cantor e escritor Chico Buarque.
Em discurso curto, Chico falou sobre a "integridade" da presidenta. Gente que votou no PT, gente que não gosta do PT, gente que foi do PT e se desiludiu, gente que votou na Dilma, gente que votou na Dilma e está decepcionado com o seu governo. Gente que não pode pôr em dúvida a integridade da presidente Dilma Rousseff", começou o cantor, que assinou manifesto em defesa do Governo e já participou de outras campanhas petistas. "Não, de novo não. Não vai ter golpe."
Em São Paulo, o descrédito à proposta de impeachment se mesclava à defesa fechada dos Governos petistas. "A gente passou a ter cisterna para ter água, começamos a recebemos o Bolsa Família. É pouco, mas para quem passava fome é uma grande ajuda", dizia, vestido com uma camiseta da CUT, o pipoqueiro Junior, paraibano há uma década em São Paulo. "Voto no PT até morrer. Porque, antes do Lula, a gente passava fome no Nordeste. Se a Dilma cair, isso vai voltar"
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Os anti-impeachment vão às ruas engrossar mensagem contra ‘golpe’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU