10 Março 2016
Foto: Franciscano.org
A morte de Frei Antônio Moser pegou a todos de surpresa. O Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Michael Perry, lamentou a morte inesperada de Frei Antônio Moser, nesta quarta-feira, ao ser baleado e morto quando foi abordado por assaltantes na Rodovia Washington Luiz, na altura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Em nota, o representante de São Francisco de Assis manifestou a sua convicção em que o empenho de Frei Antônio foi sempre para construir a paz e a boa convivência entre as pessoas. “Infelizmente, a humanidade não está convencida de que é preciso investir na construção da paz e no respeito pela vida. Ele, que defendeu a vida humana desde a concepção e fez com que milhares de teólogos e leigos entendessem que de fato é preciso defendê-la desde a concepção, não pôde se defender de um ato violento causado por pessoas armadas”.
A informação é publicada na página eletrônica da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil – OFM, 10-03-2016.
Frei Michael citou o trabalho social de Frei Moser no Projeto Terra Santa. “Sinto muito que um confrade que trabalhou tanto evangelizando na Baixada Fluminense e no Centro Educacional Terra Santa, formando as crianças e jovens para não serem violentos, tenha sido vítima de violência nestas circunstâncias”, disse, enviando saudações de condolências e orações pelo nosso Frei Antônio, pelos confrades da Província e pelos seus familiares.
O corpo do Frei Antônio Moser chegou ao Instituto Médico Legal (IML) de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no começo da tarde desta quarta-feira (9). Imagens registradas por câmeras de segurança instaladas próximo ao local do crime mostram que Frei Moser se assustou com a abordagem e perdeu o controle do carro, colidindo com um ônibus e, em seguida, com a mureta que separa as pistas da rodovia. “Nesse ínterim, ele foi atingido por um tiro, que atravessou seu ombro esquerdo e ocasionou sua morte”, descreveu o delegado Brenno Carnevale.
De acordo com a necropsia, a causa da morte foi a transfixação do projétil, que entrou pelas costas do lado esquerdo e atingiu o pulmão e o coração. Um exame de balística ainda deverá definir qual o calibre da arma usada pelos criminosos para atingir o religioso. Nenhum pertence foi roubado.
O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, pediu orações e lamentou a morte trágica de Frei Moser: “A dura realidade que povoa com frequência os nossos noticiários bate à nossa porta. Com susto e tristeza recebemos a notícia da partida repentina de um irmão, vítima da violência que infelizmente tem se tornado cada vez mais comum. Frei Antônio Moser sempre teve como marcas o entusiasmo e a determinação. Atuou em muitas frentes simultaneamente, desde o estudo e a pesquisa, o trabalho pastoral, as aulas, conferências, o trabalho na comunicação, a dedicação a obras sociais. Especialmente nas décadas de 1970 e 1980, dedicou-se de corpo e alma ao pastoreio de comunidades da Baixada Fluminense, atuando na formação do povo e na construção de igrejas. Hoje, infelizmente, devolvemos a Deus a vida deste irmão, vítima de assassinato na mesma Baixada que tanto amou. Que sua partida leve toda a sociedade a buscar caminhos alternativos, que vençam a violência e a dor, que suplantem a injustiça e a morte, que abram para o mundo um horizonte de esperança. Para nossa Província fica um vazio e aumenta nossa responsabilidade em levar adiante o legado por ele deixado”.
Foto: Franciscanos.org
O Vigário Provincial, Frei Evaristo Spengler, esteve ainda ontem com Frei Moser em Petrópolis. “Eu cheguei a perguntar a ele se ficaria mais tempo em São Paulo. Ele disse: ‘não, meu tempo é curto e tenho que voltar ainda hoje'”, contou Frei Evaristo, que lamentou muito a sua morte. “Além de ser meu confrade, meu professor de Teologia, ele é primo de minha mãe. É uma perda muito grande para a Província e para a Igreja. Ele foi uma referência na Teologia Moral do Brasil. Prova disso foi a sua nomeação para o Sínodo da Família”, lembrou o Vigário Provincial. Para Frei Evaristo, aos 76 anos, Frei Moser estava no auge de sua vida religiosa e de seu trabalho de evangelização.
A Editora Vozes distribuiu o seguinte comunicado: “Comunicamos com imenso pesar o falecimento de Frei Antônio Moser. Pedimos a todos e todas união e força neste momento inesperado e difícil e que possamos continuar unidos na fé e esperança da ressurreição”, escreveu Frei Volney José Berkenbrock, que dividia com Frei Moser a direção da Vozes.
“A vida de Frei Antônio Moser foi rica e fecunda”, disse o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo Steiner, a respeito do falecimento do Frei Antônio Moser. Dom Leonardo destacou a atuação do religioso junto à CNBB: “Assessorou a Conferência na elaboração de textos e na reflexão teológica, especialmente, na teologia moral. “A CNBB é grata pela ajuda recebida e pede ao Pai misericordioso que acolha o frade menor no Reino definitivo. Brilhe para ele a luz da eternidade”, acrescentou.
Em nota o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, lamentou a morte do frei. “Surpreendidos com a notícia, me uno em oração pela sua alma e estendo meu abraço a seus familiares, à toda comunidade e ao bispo da diocese de Petrópolis, dom Gregório Paixão, e aos membros superiores da Ordem dos Frades Menores (OFM), na qual ele fazia parte. Apesar da dor, em nome da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, rogo a Deus que o perdoe de suas faltas e o receba em sua infinita misericórdia”, diz a nota.
O arcebispo de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, lamentou a morte de Frei Moser. Em nota, ele destacou o trabalho realizado por ele naquele município. “Neste momento de tristeza, a Diocese de Petrópolis lamenta o falecimento de Frei Antônio Moser (OFM), ocorrido na manhã de hoje, e se une em oração aos seus familiares e à Ordem dos Frades Menores (OFM). Frei Antônio Moser, nos últimos anos, como pároco da Paróquia Santa Clara e diretor-presidente da Editora Vozes, foi um grande colaborador da Diocese, apoiando e contribuindo com a Pastoral da Educação. Neste momento de dor para todos, a comunidade Diocesana se une em oração com a Ordem dos Frades Menores e familiares de Frei Moser”.
O prefeito de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, Rubens Bomtempo, declarou luto oficial de três dias na manhã desta quarta-feira (9) devido a morte do Frei Antônio Moser. As bandeiras do Palácio Sérgio Fadel, sede da prefeitura de Petrópolis, foram colocadas em meio mastro.
Apesar da família extensa, apenas uma irmã de Frei Antônio Moser ainda é viva, Maria Moser, hoje com 82 anos, freira que reside no município de Itajaí. No entanto, Frei Moser mantinha relação próxima com primos, sobrinhos e amigos que residem no município. “Ele me ligava duas, três vezes por semana para saber se estava tudo bem, como estava a cidade. Era uma pessoa muito boa, de um coração enorme, uma grande perda, é até difícil falar neste momento”, conta o sobrinho Mário Moser.
Frei Moser estava a caminho de São Paulo, onde gravaria o programa “Pelos caminhos da fé” na Canção Nova. Extremamente ativo, Frei Moser conciliava várias funções, como diretor-presidente da Vozes, professor do ITF, pároco de Santa Clara, membro da Comissão de Bioética da CNBB, coordenador do Comitê de Pesquisa em Ética da UCP, conferencista, coordenador do projeto social Terra Santa e escritor. Para ele, contudo, isso não era problema: “Diria que é muito simples. Descobri que o sacerdote, o teólogo, o empresário não devem fazer nada sozinhos. Devem contar com pessoas certas para os lugares certos. Ou seja, você administra pessoas e não uma máquina. Por exemplo, construí uma paróquia e formei 16 comunidades de fé, sendo que algumas igrejas comportam de 300 a 400 pessoas. Então, como se faz? Montei esta paróquia e apareço lá uma vez ou outra durante a semana, além dos domingos, naturalmente. O padre bom é aquele que dá uma diretriz e deixa o povo trabalhar. Você deve ser uma espécie de ícone, referência, mas não é quem vai fazer tudo. Por exemplo, na Editora Vozes – cito ela porque trabalhamos lá – conseguimos montar uma equipe que funciona com ou sem a presença minha e do Frei Volney Berkenbrock. E muito bem. Agora, no Centro Educacional Terra Santa, o Sr. Reinaldo Cruz, e mais uma equipe administrativa me ajudaram a elaborar todo o projeto e agora vão tocando com ou sem a minha presença. No que se refere aos sócios, todos confrades, iremos fazer umas duas reuniões anuais. O segredo é não querer fazer tudo sozinho, mas encaminhar”, dizia numa entrevista ao nosso site.
Frei Moser, que se doutorou em Teologia, com especialização em Moral, na Academia Alfonsianum – Roma, além de diretor da Vozes, era professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano (ITF), em Petrópolis (RJ); pároco da Igreja de Santa Clara de Petrópolis; diretor do Centro Educacional Terra Santa, além de conferencista no Brasil e no exterior. Tem livros traduzidos para outras línguas (Teologia Moral impasses e alternativas; O enigma da esfinge, a sexualidade; Biotecnologia e Bioética: para onde vamos?; Ecologia: desafios éticos). Durante nove anos participou do programa semanal “Em pauta” na Canção Nova.
No ano passado, em outubro, ele foi o único teólogo brasileiro nomeado para o Sínodo da Família. Ainda nos dias 12 e 13 de dezembro, Frei Moser celebrou na sua cidade natal, Gaspar, o jubileu de 50 anos de vida sacerdotal. Oficialmente, Frei Moser completou 50 anos de vida sacerdotal no dia 15 de dezembro.
O momento solene dessas comemorações foi a Celebração Eucarística no domingo, 10 horas. O então pároco Frei Germano Guesser fez a acolhida e apresentou o seu confrade que nasceu no bairro de Gaspar Grande em 29 de agosto de 1939, fruto da união de Elisabeth e Angelo Moser. “Ele vestiu o hábito franciscano em 19 de dezembro de 1959 e foi ordenado sacerdote no dia 15 de dezembro de 1965, portanto ele está celebrando aqui, conosco, 50 anos de sacerdócio”, frisou. “Frei Moser, hoje, é considerado um dos teólogos mais importantes do mundo, podemos dizer assim, tendo em vista que ele foi o único teólogo brasileiro a ser nomeado pelo Papa Francisco para participar do Sínodo da Família, encerrado em outubro último. Ele participou deste importante acontecimento da Igreja atual ao lado de dois cardeais, 4 bispos e quatro leigos do Brasil. Sem dúvida, um dos momentos que marcará, se já não marcou, a sua vida sacerdotal e religiosa”, elogiava Frei Germano.
“Frei Moser é assim: esbanja vitalidade e, para ele, não tem tempo ruim. Tanto que ele é também pároco da Paróquia de Santa Clara, em Petrópolis, que fica próxima do Instituto Teológico e diretor do Centro Educacional Terra Santa, uma entidade assistencial que atende crianças e jovens carentes em Petrópolis. Ainda sobra tempo para ele ser um conferencista no Brasil e no exterior…”, emendou.
Velório e missa de Exéquias
O velório será realizado na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (rua Montecasseros, 95, Centro). A Missa de Exéquias será celebrada às 15 horas desta quinta-feira (10/03), na Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis. O sepultamento acontecerá no Mausoléu dos frades junto ao Convento do Sagrado Coração de Jesus.
Dados pessoais, formação e atividades
• Nascimento: 29.081939 (76 anos de idade), em Gaspar – SC;
• Admissão ao Noviciado: 19.12.1959, em Rodeio, SC;
• Primeira Profissão: 20.12.1960 (55 anos de Vida Franciscana);
• Profissão Solene: 01.02.1964;
• Ordenação Presbiteral: 15.12.1965 (50 anos de Sacerdócio);
• 1961-1962 – Curitiba – Estudos de Filosofia;
• 1963-1966 – Petrópolis – Estudos de Teologia;
• 02.02.1967 – Luzerna – professor do seminário;
• 28.01.1968 – Petrópolis;
• Agosto 1968 – Lyon, França – mestrado em Teologia;
• Setembro 1969 – Roma – doutorou-se em Teologia Moral em dezembro de 1972;
• 02.12.1972 – volta ao Brasil;
• 29.11.1972 – Petrópolis – professor de Teologia Moral;
• Novembro 1991 – eleito Definidor Provincial;
• 30.08.1996 – coord. da Fraternidade São Vicente, professor, diretor do IDE, e redator da revista SEDOC.
• 01.12.1997 – Petrópolis – São Francisco – guardião (no capítulo provincial de 1997 foi mudada a denominação de São Vicente para São Francisco de Assis); nomeado membro do Conselho de Assessoria ao Definitório e às Entidades do Departamento de Educação e Comunicação.
• 23.12.1998 – diretor presidente da Editora Vozes;
• 22.11.2000 – coordenador da comissão executiva do novo ITF;
• 07.11.2003 – deixa de ser guardião;
• 17.12.2009 – diretor do Centro Educacional Terra Santa;
• 25.02.2016 – membro do conselho administrativo da Província
O frade menor
Frei Antônio foi professor no Convento do Sagrado por 20 anos, e, por mais 20, no Instituto Teológico Franciscano, junto à Fraternidade São Francisco, de Petrópolis. Tinha muitos talentos. Segundo alguns confrades e outras pessoas conhecidas, Frei Antônio “tocava inúmeros instrumentos”, em diversificadas áreas. Escreveu muitos artigos e 27 livros. Era conferencista, assessor em Teologia Moral, falava em programas de TV, era construtor e administrador.
Na sua ficha autobiográfica lê-se: “Apesar de parecer apressado, na realidade me considero eficiente, incapaz de enrolações. Não gosto de conversa mole. Tenho grande facilidade de escrever, de articular o pensamento, mesmo quando falo livremente ou tenho que escrever um artigo em pouco tempo. Tenho o pensamento aberto às novas ideias, sem contudo perder o fio da meada em relação ao que é doutrinário. No mais, o que não sinto é preguiça… estou sempre em atividade… Sei me impor quando quero, mas, por outro lado não me sinto orgulhoso, pois conheço minhas limitações e atribuo os meus talentos à bondade de Deus”.
Interessante é ouvir o que Frei Antônio fala de sua vida espiritual: “Acho que minha espiritualidade é algo que nem todo mundo percebe. Acho até que a maioria dos meus confrades não percebe que tenho uma espiritualidade intensa, embora seja oculta como um tesouro. Não tenho nada de pietismo. Pareço frio. Não é verdade. Desde adolescente sempre tive e continuo tendo Deus presente em minha vida… em todos os momentos. À vezes, brigo com ele, como Jacó ou como São Paulo…”.
Rezemos em fraternidade por Frei Antônio, pela sua acolhida pelo Senhor, agradecidos por todo o bem que ele fez como frade de nossa Província e pela sua grande contribuição à Igreja do Brasil.
Foto: G1
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“Ele que tanto defendeu a vida, não pôde se defender de um ato violento” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU