08 Fevereiro 2016
O prior da comunidade monástica de Bose, Enzo Bianchi, faz o balanço do caminho ecumênico das Igrejas cristãs em vista do encontro entre o Santo Padre e o Patriarca de Moscou, o primeiro da história.
O artigo foi publicado na revista Famiglia Cristiana, 05-02-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
É importante, acima de tudo, porque é histórico. É a primeira vez que acontece depois de séculos de incompreensões, de lutas, de sangue. É importante, depois, porque ocorre em obediência ao Evangelho de Cristo, em um contexto em que Roma e Moscou pedem orações ao Senhor que suplicou para que os Seus discípulos busquem, vivam, guardem a unidade, que só em Deus encontra cumprimento e selo. E é importante, enfim, porque se torna modelo a seguir: é fruto de um diálogo buscado com santa obstinação e aceito com evangélica humildade.
Roncalli e Montini já sonhavam em seus corações que podiam chegar a um abraço fraterno com o Patriarca de Moscou e de todas as Rússias. Com João XXIII e Paulo VI, porém, os tempos não estavam maduros. Havia a Guerra Fria. O mundo estava dividido em dois. Um Muro atravessava a Europa. Montini abraçou o Patriarca Atenágoras: Roma e Constantinopla voltaram a se falar. Mas Moscou permanecia ainda fria. E distante.
João Paulo II chegou a um passo do grande evento: por volta do ano 2000, parecia possível um encontro em terreno neutro no mosteiro beneditino húngaro de Pannonhalma. Prevaleceram os temores e as dúvidas. Um papa polonês não era particularmente amado na Rússia. E depois havia o problema irresolvido dos católicos de rito bizantino, presentes, de modo particular, na Ucrânia, ou seja, dos cristãos que, desde a separação consequente ao cisma do Oriente, tinham voltado a se unir a Roma.
Com Joseph Ratzinger, é como se se tivesse prendido a respiração. Bergoglio se empenhou. Uma convicção obstinada, em primeiro lugar. Ele não deu trégua para Kirill. Poucos meses atrás, ele voltou a bater na sua porta: nos veremos quando você quiser, onde quiser, como quiser. Assim será. O encontro é fruto do ecumenismo concreto de Francisco que se alimenta, sim, de profundidade evangélica, mas que não usa a confiança ao Espírito como álibi para não dar um passo, aqui, na terra.
O fato de que o encontro entre o papa e o patriarca ocorra bem antes do anunciado Concílio pan-ortodoxo não legitima a hipótese de que Moscou queira hipotecar a liderança do caminho das Igrejas do Oriente. Temas e modalidades de encontro foram combinados. Ao abraço entre o papa de Roma e o patriarca de Constantinopla, se acrescentará o do papa e do patriarca de Moscou. Isso só pode fazer bem para toda a cristandade. Um passo à frente. Para todos.
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Tenacidade e coragem: o ecumenismo concreto do Papa Francisco. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU